Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #214: Flamengo 4×1 Atlético Mineiro 2006

    Jogos eternos #214: Flamengo 4×1 Atlético Mineiro 2006

    Flamengo e o Atlético Mineiro já se enfrentaram três vezes na Copa do Brasil. Teve a eliminação traumática de 2014 e a vingança de 2022, no caminho do tetracampeonato. E antes disso, teve o primeiro confronto, também no caminho de um título, o bicampeonato de 2006.

    Em 2006, Flamengo passou de ASA na primeira fase, depois passou de ABC e Guarani com algumas goleadas, 4×0 contra ABC na volta, 5×1 contra Guarani. Já o Atlético Mineiro passou do Atlético de Ibarama, time de Santa Catarina, e do Mineiros, time de Goiás. Depois, reverteu o placar na ida e se classificou contra Fortaleza com gol nos minutos finais de Zé Antônio. Assim era o quarta da final, um clássico do futebol brasileiro entre Flamengo e o Atlético Mineiro.

    Em 2006, Flamengo também começou o duplo confronto em casa, num Maracanã ainda raiz. No 26 de abril de 2006, o técnico Waldemar Lemos escalou Flamengo assim: Diego; Léo Moura, Renato Silva, Ronaldo Angelim, Juan; Léo Oliveira, Júnior, Jônatas, Renato Abreu; Ramírez, Vinícius Pacheco. Um time limitado, que vinha de uma temporada bem difícil, mas com ídolos ainda em formação, até no banco de reservas.

    Com apenas 12 minutos, já uma primeira alegria no Maracanã. Da esquerda, o paraguaio Ramírez cruzou alto, bola chegou até a segunda trave, nos pés de Renato Abreu, que fez uma grande temporada em 2005, sendo o maior artilheiro do Flamengo no ano com 14 gols. Contra o Galo, Renato dominou, bateu com efeito e deixou a bola nas redes com a ajuda da trave.

    No intervalo, o já ídolo Obina entrou no lugar de Ramírez e foi decisivo já no primeiro lance. Com apenas 15 segundos, abriu na esquerda para Juan, que acelerou e cruzou. Bem colocado na grande área, Renato Abreu chutou de primeira e fez o doblete, vencendo o goleiro Bruno, que ainda em 2006 assinaria com o Flamengo.

    E apenas 3 minutos depois, Jônatas chegou na velocidade na grande área e chutou, Bruno defendeu, Obina recuperou e chutou, Bruno defendeu de novo. Mas Obina tinha a raça do artilheiro, o amor da torcida, a paixão rubro-negra. Ganhou mais uma vez a bola, fintou e agora sim, fez o terceiro do jogo, quase para matar o Galo. Porém o Atlético Mineiro não desistiu e com hora de jogo, Márcio Araújo, ele mesmo, invadiu na grande área e chutou, Diego defendeu mas bola voltou no Márcio Araújo, ficou no ar até o cabeceio de Marinho, que morreu na rede. O Atlético Mineiro ainda estava vivo.


    E nos 10 minutos finais do jogo, o golaço do dia. O jovem Vinícius Pacheco, 20 anos na época, entortou Vicente com um drible sensacional. Bola parada, Vinícius Pacheco parado, Vicente parado, Vinícius Pacheco se movimentou, driblou, Vicente ficou parado. Quando reagiu, já era tarde demais. Vinícius Pacheco fez o passe certinho atrás para Jônatas, que chegou bem para fazer o gol fácil, o gol do 4×1.

    Flamengo goleava pela terceira vez consecutiva no Maracanã na Copa do Brasil de 2006 e já se aproximava da semifinal, a torcida continuava a viver o sonho de um título.

  • Jogos eternos #213: Internacional 1×2 Flamengo 2015

    Jogos eternos #213: Internacional 1×2 Flamengo 2015

    Flamengo joga hoje contra o Internacional no Beira-Rio, onde sempre é difícil de jogar. Teve vários tabus, entre 1971 e 1982, quando Fla venceu no Brasileirão, um jogo eterno no Francêsguista. Outro tabu entre 1982 e 1999, Fla ganhou de novo no Beira-Rio em 2002, mas entrou em mais um tabu logo depois, ficando 13 anos sem ganhar.

    É hoje é a hora de homenagear um jogador pouco mencionado até aqui, Paolo Guerrero, ainda em atividade e que voltou no clube da juventude, o Alianza Lima, aos 40 anos. Eu já escrevi a crônica do ano histórico de 2015, um ano com muitas decepções, nenhum título. Mas um ano de esperança também. Depois de anos com restrições financeiras, Flamengo enfim era recompensado dos esforços de sua austeridade, com uma contratação de peso, não só para agradar a torcida mas um jogador que o clube podia pagar, Paolo Guerrero, herói do título mundial do Corinthians, artilheiro da Copa América que tinha acabado dias antes.

    E a estreia do Guerrero com o Manto Sagrado foi justamente no jogo contra o Internacional no Beira-Rio. No Brasileirão de 2015, Flamengo já decepcionava, conquistando apenas um ponto nas 5 primeiras rodadas! Depois se recuperou um pouco, com 3 vitórias e 3 derrotas, mas ainda estava numa péssima 15a colocação antes do jogo contra o Internacional. Assim, para a estreia de Paolo Guerrero, no 8 de julho de 2015, o técnico Cristóvão Borges escalou Flamengo assim: César; Ayrton, Wallace, Marcelo, Jorge: Cáceres, Jonas, Canteros; Everton, Emerson Sheik, Paolo Guerrero. Um time péssimo, muito longe do time de 2019, mas assim estava o caminho.

    No Beira-Rio, primeiro lance de perigo foi do Flamengo, mas no cruzamento de Emerson Sheik, nem Canteros nem Guerrero conseguiram tocar na bola. O Inter reagiu com um chute de longe de William, mas César defendeu. Do outro lado, Flamengo atacou, Jorge cruzou, bola foi desviada no ar do Beira-Rio e deixada viva pelo Canteros, que tocou de cabeça na pequena área. Paolo Guerrero chegou, tocou, brocou. De forma acrobática, “meio de sola, meio de bico”, Paolo Guerrero precisou de apenas 11 minutos para fazer um gol com o Manto Sagrado. Podia chamar os companheiros para comemorar, Cristóvão Borges podia levantar o dedo, Flamengo estava na frente, a torcida tinha uma nova esperança de títulos.

    Em casa, o Internacional tomou controle do jogo, mas não conseguiu empatar. Flamengo voltou a ser perigoso, Canteros dominou bem mas chutou mal, Emerson Sheik foi bem lançado pelo Guerrero, mas goleiro Muriel saiu bem. E finalmente, a jogada do craque, a explicação do investimento, a marca do gênio. Num passe de Emerson, Paolo Guerrero dominou de costas, virou e com um passe sensacional em dois toques, abriu para Everton, que achou a gaveta de Muriel. Um golaço com selo peruano de um craque diferente.

    Nos acréscimos, Everaldo aproveitou da falha da zaga rubro-negra para fazer gol, sem impedir a festa do Flamengo. Para sua estreia, Paolo Guerrero foi perfeito, vitória com um gol e uma assistência sensacional. Nos dois jogos seguintes, o peruano voltou a fazer gol, mas depois decepcionou com apenas um gol nos últimos 15 jogos, conquistando muitos mais cartões amarelos que lances decisivos. Paolo Guerrero não foi no Flamengo tudo que o craque que era e que a estreia que fez tinham prometidos, mas o Flamengo estava num novo caminho, o dos craques, das vitórias e dos lances geniais.

  • Jogos eternos #212: Flamengo 2×0 Atlético-GO 2017

    Jogos eternos #212: Flamengo 2×0 Atlético-GO 2017

    Tive que mudar a crônica do dia, escrita no início para homenagear o Bola de Ouro do povo, Vinícius Júnior. Era o grande favorito e fiquei em choque quando soube que não ganhará, até demorei para acreditar. Não tem sentido Vinícius Júnior não ganhar o Bola de Ouro, ganhou a Liga e a Liga dos campeões sendo protagonista nas duas competições, até com gol na final contra o Borussia. Segundo a própria FIFA, os principais critérios são “desempenhos individuais, caráter decisivo e impressionante”, “desempenhos e conquistas da equipe” e “classe e jogo limpo”. Ou seja, não tem sentido Vini não ganhar. Rodri fez uma excelente temporada, mas bem em baixo do desempenho de Vinícius Júnior. Os antis vão reclamar da falta de classe e jogo limpo, quando Vinícius Júnior foi muitas vezes vitima da violência dos adversários, e pior, do racismo nas arquibancadas. Vini não ganhar é uma das grandes injustiças da história do Bola de Ouro e difícil não ver ele se tornar um dos símbolos da luta contra o racismo ser mais inconveniente que uma vantagem na hora de contabilizar os votos. Enfim, no 28 de outubro, dia do torcedor flamenguista, Vinícius Júnior tem que viver esse absurdo. Não é ainda do mundo inteiro, mas o menino é nosso, cria da Gávea, garoto do Ninho, Vinícius Júnior sempre será o orgulho do torcedor rubro-negro.

    Vinícius Júnior é um de meus jogadores favoritos e até o preferido com Neymar tratando apenas dos jogadores ainda em atividade. E foi meu ídolo até antes de se tornar profissional. Sempre fico atento aos jogadores da base, quero ver antes de todos o novo craque, quero saber do futuro ídolo antes dos primeiros passos. E na base, Vinícius me marcou como ninguém antes, como ninguém depois. Virei fã do jogador e acompanhei os próximos passos, a Copinha, Vinícius Júnior brilhando muito com 4 gols e 5 assistências, o campeonato sul-americano sub17, Vinícius Júnior brilhando muito com 3 chapéus seguidos, artilharia, prêmio de melhor jogador e título de campeão.

    Faltava a estreia como profissional e com apenas 16 anos, Vinícius Júnior já vestia o Manto Sagrado, na estreia do Brasileirão de 2017 contra o Atlético Mineiro de seu ídolo Robinho, que ele ultrapassou em todos os sentidos. Duas semanas depois da estreia, Vini já assinava com um dos maiores clubes do mundo, o Real Madrid. Lembro que meu amigo francês Tintin falou que os 45 milhões pagos pelo Real eram um absurdo e eu respondi na hora que provavelmente valia a pena. Fácil de dizer com o exemplo que deu certo, mas acho que tenho uma sensibilidade para ver quem é craque e para quem pode ser profissional sim, mas ficando longe das maiores honras, dos prêmios mais prestigiosos. E Vinícius Júnior, já antes de ser profissional, era da primeira categoria, era jogador de primeira categoria.

    Logicamente, ainda muito jovem, Vinícius Júnior começou muitos jogos no banco de reservas e entrava em campo para desequilibrar, os adversários sim, mas ainda não os jogos. Com também lógica, Vini poucas vezes era decisivo. O primeiro gol como profissional chegou contra Palestino na Copa Sudamericana, um jogo eterno no Francêsguista. Na partida seguinte, jogou 20 minutos contra o Atlético Mineiro, na primeira rodada do segundo turno do Brasileirão. No jogo seguinte, contra Botafogo na Copa do Brasil, um duplo pesadelo para Vinícius Júnior: entrou em campo mas teve que ser substituído apenas 8 minutos depois por causa da expulsão do goleiro Muralha. E mais grave, nos camarotes do Engenhão, sua família sofreu injurias racistas da parte de um torcedor do Botafogo.

    Três dias depois, Vinícius Júnior estava de novo em campo, agora como titular, pela primeira vez desde 2 meses, sempre saindo do banco nos últimos jogos. O técnico Reinaldo Rueda, campeão da Copa Libertadores em 2016 com o Atlético Nacional, comandava apenas seu segundo jogo no Flamengo, e fez algumas mudanças entre os dois jogos da semifinal da Copa do Brasil. No 19 de agosto de 2017, para o jogo contra a lanterna Atlético-GO, Reinaldo Rueda escalou Flamengo assim: Diego Alves; Pará, Réver, Rafael Vaz, Rhodolfo; Willian Arão, Márcio Araújo, Lucas Paquetá; Éverton Ribeiro, Geuvânio, Vinícius Júnior.

    Na Ilha do Urubu, adorava esse estádio apesar da pequena capacidade e da localização ruim, primeiro milagre foi de Felipe, que defendeu um chute de Márcio Araújo, bem colocado na grande área. N a cobrança de falta, mais colocada que forte, de Lucas Paquetá, Felipe defendeu de novo. Num cruzamento de Éverton Ribeiro, Vinícius Júnior cabeceou, mas bola foi para fora. Ainda não era a hora da estrela do Ninho de brilhar. Flamengo também foi ameaçado e num chute de Walter, esse mesmo, Diego Alves fez a defesa perfeita. No final do primeiro tempo, mais uma cobrança de falta, agora de Éverton Ribeiro, mais uma defesa de Felipe, ainda 0x0 no intervalo.

    E o segundo tempo pertenceu a um craque, ainda em formação, Vinícius Júnior. Bem lançado pelo Márcio Araújo, Vini partiu em velocidade, deixou para trás, muito para trás, o William Alves e foi perfeito na finalização, colocando de pé esquerdo a bola entre a trave e o pé de Felipe. Em seguida, quase fez de cabeça o doblete. O Vinícius Júnior tinha muita estrela.

    Vinte minutos depois do primeiro gol, Vinícius Júnior mostrou mais uma vez toda sua velocidade, sua classe, seu poder de decisão. De novo bem lançado, agora pelo Lucas Paquetá, Vini antecipou a saída do goleiro e o eliminou com um drible sensacional antes de deixar a bola no gol vazio. Aliás, um gol que relembra o que ele fez 7 anos depois quando fez um hat-trick contra o Barcelona na Supercopa da Espanha, também lembra o golaço de Romário contra o Uruguai em 1993. O Brasil tinha um novo craque, o mundo um novo rei, ainda não era coroado.

    Vini, vidi, vici. Com esse doblete na Ilha da Guanabara, separada apenas pela baia de Guanabara da cidade de São Gonçalo onde Vinícius Júnior cresceu, o garoto colocava seu nome na mapa do futebol e rebatia as críticas que ele já sofria, talvez por ser jogador do clube mais odiado do Brasil, talvez por ser negro, talvez por ser talentoso demais. Vinícius Júnior continuou a brilhar, humilhar adversários, fazer golaços, dentro e fora do campo. Mas também continuou até hoje a sofrer críticas e injustiças. Parabéns Vinícius, você é para nós o melhor do mundo e quando vai trazer o hexa, os antis não terão outra escolha a se curvar ao seu talento.

  • Jogos eternos #211: Flamengo 4×0 Juventude 2007

    Jogos eternos #211: Flamengo 4×0 Juventude 2007

    Eu não acredito mais ao título do Brasileirão de 2024, mesmo com uma grande arrancada. Mas já teve dias piores, em 2007, Flamengo fechou o primeiro turno do Brasileirão com apenas 4 vitórias e ficou numa vergonhosa penúltima posição. Teve troca de técnico, com a volta de um técnico emblemático do Flamengo, Joel Santana. Flamengo venceu dois jogos consecutivos, mas voltou a perder contra o Palmeiras e ficou na zona de rebaixamento.

    Contra um concorrente direto na luta contra o rebaixamento, Flamengo tinha obrigação de vencer em casa. No 23 de agosto de 2007, Joel Santana escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Juan; Rômulo, Cristian, Ibson, Roger, Maxi Biancucchi; Souza. O jogo começou equilibrado e com meia hora de jogo, Juan cruzou e no duelo com Maxi, Régis tocou na mão e o juiz marcou pênalti. Souza, que voltava no time titular depois de 4 jogos de suspensão, foi perfeito na cobrança, pegou o goleiro no contrapé, abriu o placar.

    No segundo tempo, Flamengo tomou conta do jogo, mas nem Rômulo, nem Ibson, nem o capitão Roger Flores, esse mesmo, conseguiram fazer o gol que deixaria Flamengo mais tranquilo. Juventude voltou a acreditar ao empate e quase chegou com uma bola de primeira de Luciano, mas o goleiro Bruno fez autêntico milagre. No minuto seguinte, Michel Neves tocou no travessão de Bruno. Flamengo estava perto de conhecer mais uma vergonha.

    Mas dois minutos depois, Juan, incansável na esquerda, foi perfeito no cruzamento, para a chegada de Obina, que entrou em campo no lugar de Souza. Bola na cabeça de Obina, bola na rede, explosão no Maracanã, mesmo em pequeno número, com 23.772 pagantes. O final do jogo foi só Flamengo, Juan quase fez golaço, deixou dois no chão, mas parou no terceiro. Mas já não tinha mais tempo para quem não era rubro-negro. Nos minutos finais, Ibson abriu na direita para Obina, o artilheiro virou garçom e cruzou para Maxi Biancucchi fazer seu segundo gol com o Manto Sagrado. Jovem de 15 anos na França, eu já era Flamengo na pele e acompanhava do mais perto possível o clube. Sabia que Maxi era primo de Messi e eu estava empolgado, tinha grandes esperanças para ele e o Flamengo, mesmo numa posição tão difícil.

    Enfim, Flamengo fazia o terceiro e fez mais um nos acréscimos. Obina, de novo ele, abriu na esquerda, de novo para Maxi. O camisa 10 do Flamengo chutou forte no travessão, bola tocou no chão, voltou para Ibson, que cabeceou, de novo no travessão. Defesa saiu mal, bola voltou mais uma vez para o incansável Juan, que passou entre três zagueiros, antecipou a saída do goleiro e tocou de bico no fundo das redes para o golaço. A torcida estava feliz, voltava a acreditar na permanência no Brasileirão. Ainda não era tempo de sonhar mais, mas Flamengo arrancou, perdeu apenas 4 jogos até o final do Brasileirão, que acabou com show de Ibson, com show do Maraca, com Fla na Liberta.

  • Times históricos #30: Flamengo 1940

    Times históricos #30: Flamengo 1940

    Em 1940, a Europa já estava em guerra, o futebol parou. Não era o caso da América do Sul, onde a guerra era só nos campos de futebol. No futebol carioca, a maior rivalidade da época era o Fla-Flu. Entre 1936 e 1938, Flamengo foi três vezes vice-campeão carioca, sempre atrás do Fluminense, que conquistou assim o tricampeonato. Em 1939, Flamengo finalmente foi o campeão, com um time cheio de ídolos: os negros Domingos, Leônidas e Jarbas, os argentinos Volante e Valido. Esses jogadores ajudaram o Flamengo a crescer ainda mais, ter uma torcida mais ampla, ter um time campeão. E mais, começou a aparecer no final do ano de 1939 o jovem Zizinho, um dos destaques dos jogos contra o Independiente.

    No início de 1940, Flamengo jogou três vezes contra outro time argentino, San Lorenzo. No primeiro jogo do ano, no 7 de janeiro, uma derrota 1×0 no São Januário. O segundo jogo valia o Torneio Relâmpago e depois do 0x0, San Lorenzo levou o troféu com uma vantagem de um escanteio, um dos critérios numa época ainda sem pênaltis para desempatar um jogo. No terceiro e último jogo, outro amistoso, outra derrota do Flamengo, apesar de 2 gols de Leônidas, que marcava assim os primeiros gols do Flamengo de 1940. No seu livro A Nação, como e por que o Flamengo se tornou o clube com a maior torcida do Brasil, Marcel Pereira escreve: “Há uma razão que explica o platonismo rubro-negro entre 1937 e 1940: o futebol brasileiro era um grande freguês de seu vizinho. A própria seleção brasileira costumava perder mais do que vencer”. Em 1939, a Seleção brasileira levou um 5×1 contra a Argentina e perdeu a Copa Roca 1940 com duas derrotas duras: 1×5 e 1×6, a maior derrota da história contra a Argentina. Com um time apenas de jogadores carioca, e apenas Leônidas como jogador do Flamengo, a Seleção também perdeu em 1940 a Copa Rio Branco contra o Uruguai.

    De volta ao futebol nacional, já em março, Flamengo estreou com uma goleada 5×1 contra o America, 2 gols de Jarbas, 2 de Jorge, um de Caxambú. No torneio início carioca, já em abril, com jogos de 10 minutos apenas, Flamengo eliminou o America depois um 0x0 e mais uma vez o critério dos escanteios, mas parou na semifinal contra São Cristóvão, outro 0x0, agora com apenas um escanteio contra três do São Cristóvão. Na final, Fluminense levou o troféu. Ainda era o poderoso Fluminense de Batatais, Hércules, Tim, Romeu e Russo. Na estreia do campeonato carioca, Flamengo brilhou com uma goleada 8×1 contra Madureira. Em seguida, Fla venceu Botafogo e São Cristóvão, inclusive com um gol de jovem Zizinho.

    Zizinho, um ídolo do Flamengo e no Francêsguista, começou a aparecer no Flamengo no final de 1939, com dois jogos contra Independiente. Quando Leônidas brigava com a diretoria, Zizinho brilhava em campo. Aos 18 anos, já era um craque. Escreve Roberto Sander no livro Anos 40, viagem à década sem Copa: “Nesse campeonato de 1940, com apenas 18 anos, ele se tornava titular, mostrando um futebol de precoce resplendor. Apesar de não ser exatamente um homem-gol, e sim um exímio articulador de jogadas, Zizinho marcaria seis vezes. Ele era aquele típico meia, tão escasso hoje em dia, que armava o jogo e chegava à área para concluir”. Ainda Roberto Sander, agora no livro Os dez mais do Flamengo: “Em 1940, Zizinho já mostraria do que era capaz. Jogo após jogo ele se revelava um atleta de categoria superior. Suas atuações provocaram um deslumbramento tal que logo foi alçado ao posto de fora-de-série. Ele passaria a representar algo parecido com o que Leônidas representou em meados da década anterior. Tinha aquele algo mais dos gênios. Seu futebol aliava técnica, lucidez e extrema objetividade. Isso sem falar do drible fácil, dos chutes bem colocados e das penetrações insinuantes pelo campo adversário, que comumente terminavam em gol”.

    Tinha o novo ídolo, mas ainda tinha os antigos ídolos, como Jarbas e Leônidas. Jarbas, considerado como primeiro jogador negro do Flamengo, fez contra Bangu seu 121o gol com o Manto Sagrado, ultrapassando assim Nonô para se tornar o maior artilheiro da história do Flamengo. Mas Leônidas já se aproximava, se não me engano nas contas, fez em maio seu 110o gol no Flamengo, contra São Paulo no Pacaembu, onde brilharia depois com a camisa do São Paulo. Flamengo venceu 2×0 e conquistou a Taça Royal, um torneio amistoso. Quem fez o outro gol foi o argentino Júlio Castilho, era a época do platinismo, quando o futebol argentino era considerado melhor do que o brasileiro. Já no seu primeiro jogo com o Manto Sagrado, Júlio Castilho fazia gol, era campeão com o Flamengo. Era um outro ídolo em formação, mas ainda tinha o Leônidas da Silva. Entre junho e agosto de 1940, Leônidas fez gol em 7 jogos consecutivos, para um total de 13 gols. Fez gol contra Vasco, Fluminense e Bangu, fez hat-trick contra seu antigo clube do Bonsucesso, fez outro hat-trick na estreia do Torneio Rio – São Paulo, contra America, outro clube com quem tinha história. Fez mais um hat-trick, numa vitória 8×2 contra Barroso para se tornar o maior artilheiro da história do Flamengo.

    O Torneio Rio – São Paulo estava de volta no futebol brasileiro, depois de primeira edição em 1933, ano do profissionalismo no Brasil. Depois de uma edição inacabada em 1934, o Torneio Rio – São Paulo voltou a acontecer em 1940 com 9 times, os 7 gigantes das cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, mais a Portuguesa e o America. Contra os times paulistas, Flamengo foi invicto, um empate 2×2 contra São Paulo, vitórias 3×1 contra Palmeiras e o Corinthians. Flamengo era uma máquina de fazer gols, com artilheiros como Leônidas, mas também Armandinho, Jarbas e Castilho. Contra a Portuguesa, Flamengo venceu 9×1, com 6 gols de Leônidas, que agora igualava Nelson em 1933 e Alfredinho em 1936 para se tornar o maior artilheiro do Flamengo em um único jogo. Neste mesmo jogo, Castilho fez 2 gols, seus últimos no Flamengo. Na chegada ao clube, escondeu um problema diabético e morreu logo depois, aos 25 anos apenas, fazendo 6 gols em 9 jogos com o Manto Sagrado. O Mengo perdia assim um jogador que talvez ia ser tornar um dos maiores gringos da história do Flamengo.

    Ainda no Torneio Rio – São Paulo, Flamengo derrotou Vasco 3×0 na Gávea, 2 gols de Leônidas e um de Jarbas. E assim acabou o torneio. Infelizes com a baixa renda dos jogos, os times paulistas simplesmente parraram de jogar o Torneio Rio – São Paulo, que foi interrompido com Flamengo e Fluminense na liderança. A CBD nunca declarou campeões, mas ambos Flamengo e Fluminense se consideram como vencedores da edição, anotando o torneio na lista dos troféus. Acho que merecia um jogo de desempate e precisa da oficialização da CBF, mas como em 1966 quatro times foram declarados co-campeões do torneio interrompido, também faz sentido. E também acho legal de ter uma competição com o Fla-Flu campeão.

    Assim, a única competição do final do ano foi o campeonato carioca. De novo com o duelo Fla-Flu. Tinha o Madureira das “Três Patetas”, Jair Rosa Pinto, Lelé e Isaías, o Vasco de Zarzur, Argemiro e Orlando, o Botafogo de um jovem artilheiro em ascensão, Heleno de Freitas, mas sobretudo tinha o Fla-Flu. Incomodado com a perda do título carioca em 1939, Fluminense contratou pesado, o zagueiro Norival, o meio argentino Spinelli e o atacante Adílson. O Mengo venceu o Fla-Flu 2×1, gols de Leônidas e Jorge, e voltou a um ponto do líder, Fluminense. Assim, o Tricolor contratou mais um jogador para o final do campeonato, o centroavante argentino Rongo, mais uma vez o platinismo. Rongo vinha do River Plate, com quem tinha feito 56 gols em 48 jogos! Já no seu primeiro jogo, Rongo fez 2 gols na vitória 4×2 do Fluminense sobre o America.

    Fluminense tinha seu artilheiro, mas Flamengo tinha Leônidas. Durante o ano, Leônidas prorrogou seu contrato por 80 contos de réis, uma fortuna na época. Mas não decepcionou. Flamengo goleou e o Diamante Negro fazia chuva de gols: vitória 6×2 contra Bangu com dobletes de Leônidas, Zizinho e Armandinho, goleada 6×0 contra São Cristóvão com 4 gols de Leônidas. Porém, apesar dos gols de Zizinho e Leônidas, Flamengo empatou duas vezes 1×1, contra Botafogo e Vasco. No último jogo, mais uma goleada, 7×1 contra Bonsucesso, com mais 2 gols de Leônidas, que assim chegou aos 30 gols no campeonato carioca. Igualou o recorde de Nilo em 1927 para se tornar o maior artilheiro do campeonato carioca em uma única edição. Porém, Fluminense precisava de uma vitória no último jogo para ser campeão. Flamengo pagou os jogadores do São Cristóvão para dar o máximo, sem sucesso. Com 3 gols de Rongo, Fluminense venceu 5×3 e assim voltou a ser campeão do Rio de Janeiro, mesmo fazendo 10 gols a menos que o Flamengo, 62 para Flu, 72 para Fla.

    Um final triste, ainda mais para Leônidas, que viu seu sucessor, em campo mas não no coração dos torcedores, Pirillo, bater seu recorde de gols já na edição seguinte do campeonato carioca. No início do ano de 1941, Leônidas brigou com o presidente do Flamengo, que o acusou de “fazer corpo mole” e fingir lesões para escapar de jogos sem importância. Leônidas acabou multado, afastado, até preso e acabou vendido. Assim, o ano de 1940, com 43 gols ao total (mesmo número que Gabigol em 2019) foi o último grande ano de Leônidas no Flamengo, um ano com ascensão de Zizinho, com decepção no campeonato carioca, com título no Torneio Rio – São Paulo, com mais uma vez um grande capítulo da história do Fla-Flu.

  • Jogos eternos #210: Corinthians 4×2 Flamengo 1989

    Jogos eternos #210: Corinthians 4×2 Flamengo 1989

    Flamengo joga hoje no campo do Corinthians para o jogo de volta da Copa do Brasil depois de vitória no Maracanã. Um roteiro que já aconteceu na primeira edição da Copa do Brasil, em 1989. Na época, Flamengo passou de Paysandu e Blumenau e chegou nas quartas de final contra o Corinthians. Na ida, uma vitória 2×0 do Mengo, gols de Zico e Nando Pinho. Flamengo podia até perder de 2 gols de diferença e se classificar na semifinal.

    E Flamengo tinha a volta de um ídolo, um dos maiores de sua história. Ao pedido do filho, Júnior voltou ao Flamengo depois de 5 anos longe do Maracanã, na Itália. A despedida programada de Zico no final do ano era um pouco menos dura com a volta de Júnior, a torcida ainda tinha referências da época de ouro, ainda tinha ídolos. Júnior voltou a vestir o Manto Sagrado com dois jogos amistosos na Alemanha e chegou ao Brasil para o jogo de volta contra o Corinthians. No 12 de agosto de 1989, o técnico Telê Santana escalou Flamengo assim: Cantarele; Leandro Silva, Gonçalves, Rogério, Leonardo; Júnior, Aílton, Zinho, Zico; Alcindo, Nando.

    Era a volta da dupla Júnior – Zico, mas quem brilhou primeiro no Pacaembu foi um ainda jovem craque, ainda não tão ídolo do Corinthians, Neto. Com uma cobrança sensacional de escanteio, Neto fez o gol olímpico e abriu o placar. Num duelo de geração e de camisas 10, Zico também não tardou a brilhar, passou entre dois defensores, fixou mais dois e cruzou. Bola chegou até o lado esquerdo nos pés de Leonardo, que também cruzou, Zico chegou, pulou, cabeceou, empatou. O Corinthians precisava de fazer 3 gols para se classificar, Flamengo estava quase na semifinal.

    O Corinthians precisava de 3 gols e fez. No meio do segundo tempo, Viola driblou Cantarele e cruzou para o voleio vitorioso de Giba. Três minutos depois, Eduardo chutou de longe e fez outro golaço, colocou fogo no Pacaembu, esperança para a torcida do Corinthians. Nos 5 minutos finais, o Corinthians fazia o milagre, Neto fazia o gol da classificação. Faltava 5 minutos para impedir uma vergonha ao Flamengo. Era o momento de craques, de ídolos, de gênios, era o momento da dupla Zico – Júnior.

    Faltando três minutos para o final do jogo, Zico antecipou a saída do goleiro Ronaldo Giovanelli para tocar de lado ao Júnior, que, agora sim, fez o gol da classificação. Na celebração, Júnior voou, como voará depois como o Vovô-Garoto, culminando até o título do Brasileirão de 1992 e um golaço de falta, com direito a uma comemoração que justamente relembraria aquela contra o Corinthians. Já no primeiro jogo oficial de volta ao Flamengo, Júnior voltava a brilhar com Zico como começou a fazer 15 anos antes, era decisivo num jogo bastante difícil contra o Corinthians.

  • Jogos eternos #209: Flamengo 3×2 Fluminense 2013

    Jogos eternos #209: Flamengo 3×2 Fluminense 2013

    Hoje é dia de Fla-Flu, meu clássico favorito no futebol carioca, um jogo que eternizei muitas vezes aqui, por exemplo o 5×2 de 1972, o 5×3 de 2010, o 4×1 de 1976, o 2×0 de 2009, o 3×2 de 1993, o 3×2 de 2000, o 3×2 de 2011, muitas vezes 3×2. O Fla-Flu muitas vezes deu espetáculo e como estou de um otimismo feroz quando se trata do Flamengo, quero sonhar com um Flamengo campeão no final do ano, seja no Brasileirão, seja na Copa do Brasil.

    Em 2013, o maior clássico do Rio voltava ao maior palco do mundo, o Maracanã, depois de três anos de obras. No início do Brasileirão, Flamengo andava de maneira modesta, com apenas 14 pontos em 12 jogos e um 13o lugar na tabela. Antes do Fla-Flu, Fluminense tinha os mesmos 14 pontos. A derrota, como em qualquer Fla-Flu, era proibida. No 11 de agosto de 2013, o técnico Mano Menezes escalou Flamengo assim: Felipe; Léo Moura, Wallace, Marcos González, João Paulo; Luiz Antônio, Elias, Gabriel, André Santos; Nixon, Hernane. Do lado do Fluminense, destaque para a dupla de ataque, Rafael Sóbis e Fred.

    E no Maracanã, Fluminense abriu o placar na sua primeira chance, Wallace saiu mal a bola, Rafael Sóbis recuperou e fuzilou Felipe. Flamengo reagiu rapidamente, 10 minutos depois, Elias aproveitou de bom passe de Hernane para ir no cara-a-cara com Diego Cavalieri e foi preciso na finalização para empatar no Fla-Flu. E 6 minutos depois, o gol da virada, o golaço do dia. O lateral Léo Moura deixou a bela entre as pernas de Eduardo, invadiu a grande área, cruzou. Bola ficou um pouco atrás do Hernane, mas com a inteligência, sabedoria e o instinto do artilheiro, Hernane fez o golaço de letra, o Brocador brocou, matou o Fluminense, quase já levou o Fla-Flu antes do intervalo.

    Ainda mais que nos 10 minutos finais do jogo, foi a vez de Fred de se equivocar na grande área numa posição de zagueiro que não era sua, o reestreante André Santos tocou na bola, Hernane tocou de bico, fez o doblete, levou o Fla-Flu. O segundo gol do Rafael Sóbis apenas serviu para definir o placar final: 3×2, Flamengo levava o primeiro Fla-Flu do Novo Maracanã. O Flamengo continuou a oscilar no Brasileirão de 2013, e passou, como Fluminense, perto do rebaixamento. Mas no final da temporada, Flamengo conquistou a Copa do Brasil, fez vibrar o Maracanã, alegrou a Nação.

  • Jogos eternos #208: Flamengo 4×1 Linhares 1996

    Jogos eternos #208: Flamengo 4×1 Linhares 1996

    A Seleção brasileira joga hoje no estádio Mané Garrincha, um estádio onde Flamengo jogou várias vezes desde 1976, com um primeiro jogo e primeira vitória contra Brasília, gols de dois ídolos do Flamengo, Geraldo e Zico. O estádio Mané Garrincha é uma espécie de segunda casa do Flamengo e vinte anos depois da estreia, Flamengo mandava um jogo da Copa da Brasil, na segunda fase contra Linhares, time do Espírito Santo.

    Na sua estreia da Copa do Brasil de 1996, Flamengo venceu Linahres 1×0 no Kléber Andrade, outra casa secundaria do Flamengo, e fez o jogo de volta no Mané Garrincha. No 8 de março de 1996, o técnico Joel Santana escalou Flamengo assim: Roger; Alcir, Jorge Luís, Ronaldão, Gilberto; Márcio Costa, Mancuso, Djair, Marques; Sávio, Amoroso. Destaque para Márcio Amoroso, antigo ídolo do Guarani e um dos ídolos de minha infância quando jogava no Borussia Dortmund, que fazia neste dia sua estreia com o Manto Sagrado.

    Nascido em Brasília, Amoroso jogava em casa e precisou de menos de 10 minutos para fazer seu primeiro gol no Flamengo. Falta de Djair, cabeçada de Amoroso, gol do Flamengo. No final do primeiro tempo, Flamengo sofreu gol do empate e vaias de sua torcida, também exigente fora do Rio. No intervalo 1×1, nada decidido.

    No segundo tempo, Flamengo dominou, sem fazer o gol, até a chegada do lateral-esquerdo Gilberto, outro a brilhar depois no futebol alemão, no Hertha Berlim, e que venceu o goleiro de Linhares com um chute cruzado. O final do jogo pertence a um ídolo do Flamengo, craque da casa, Diabo e depois Anjo Loiro, Sávio. Num lançamento, Sávio fez um drible de vaca sensacional sobre o goleiro e “só não entrou com bola e tudo porque teve humildade”. A Nação, ainda num estádio raiz longe da reforma para a Copa do Mundo, vibrava e continuou a vibrar com o quarto gol, ainda com Sávio, de pênalti.

    No final, Flamengo vencia 4×1 e passou na próxima fase da Copa do Brasil, depois passou de Coritiba e Internacional, antes de cair na semifinal contra Cruzeiro. Flamengo ainda está vivo na semifinal da Copa do Brasil de 2024, ainda pode sonhar com o penta. Sem esquecer os antigos ídolos como Sávio e outros, que faziam vibrar a Nação, no Rio ou no Mané Garrincha.

  • Jogos eternos #207: Flamengo 2×0 Fluminense 2023

    Jogos eternos #207: Flamengo 2×0 Fluminense 2023

    Eu volto ao Brasil amanhã e minha expectativa, meu sonho, é de assistir ao Fla-Flu no Maracanã. O Fla-Flu sempre é e sempre será um sonho. Meu primeiro jogo no Maracanã foi um Fla-Flu, com vitória 1×0 do Flamengo na Copa Sudamericana 2017. Uma semana depois, assistia a um Fla-Flu eterno, o 3×3 que classificava Flamengo. Em 2022, quando passei a morar um ano no RJ, minha volta na Norte foi um Fla-Flu. E o jogo de despedida da Norte, também foi um Fla-Flu, um decepcionante 0x0 no Brasileirão.

    Durante minha temporada ao Brasil, eu assisti no Maracanã ao título da Copa do Brasil de 2022 e tinha o sonho de ser campeão carioca, nacional e continental no Maracanã. Em 2023, Flamengo perdeu a Recopa Sudamericana nos pênaltis e um mês depois, perdeu a final do campeonato carioca contra Fluminense, abrindo 2×0 na ida, levando goleada 4×1 na volta, uma vergonha. Eu vivi frustrações no Maracanã, mas alegrias também, como a goleada de virada contra Maringá, jogo que assisti com meu amigo da Fla Paris, Waldez. Flamengo se classificava nas oitavas de final, o destino era Fluminense, o destino era Fla-Flu.

    O Fla-Flu me oferecia a possibilidade de ver um jogo a mais no Maracanã. O jogo de ida foi decepcionante, com um empate sem gol. A temporada de 2023 foi tão frustrante que eu já quase esperava uma eliminação. Mas já sabia que eu ia voltar na França daqui dois meses e queria ainda sonhar, com a Copa do Brasil, com o Flamengo, com o Fla-Flu. No 1o de junho de 2023, Jorge Sampaoli escalou Flamengo assim: Matheus Cunha; Fabrício Bruno, David Luiz, Léo Pereira; Wesley, Thiago Maia, Erick Pulgar, Gerson, Ayrton Lucas; Arrascaeta, Gabigol.

    No Maracanã, Fluminense foi o primeiro a levar perigo, com dois chutes de Cano, sem fazer gol. Ma meia hora de jogo, Gerson lançou a bola com todo mundo na grande área, Fabrício Bruno cabeceou na pequena área, Arrascaeta cabeceou na gaveta. Não lembro bem, mas acho que perdi esse gol ao vivo, ou só vi o final, quando a bola já estava quase na rede. Muitas vezes me encantava na Norte, admirava a Nação e perdia momentos em campo. O mais importante é que a Nação estava feliz, Flamengo estava na frente no Fla-Flu.

    No segundo tempo, Fla quase fez o segundo. Ganso errou no passe e Gerson foi no cara-a-cara com o goleiro, mas Fábio defendeu. Na sequência, Éverton Cebolinha chutou na trave, Gabigol chutou de primeira e Fábio ainda fez a defesa. O jogo era equilibrado, podia sair um 1×1 desesperante ou um 2×0 encantador. Num giro sensacional, Éverton Ribeiro quase fez o golaço, mas bola passou um pouco em cima do travessão. No final do jogo, outro quase golaço, num estilo de zagueiro forte e técnico, Fabrício Bruno driblou vários jogadores mas não conseguiu finalizar na grande área.

    E nos acréscimos, finalmente o gol, finalmente o livramento, finalmente a classificação. Éverton Ribeiro abriu na direita para Wesley, que cruzou, Éverton Cebolinha chutou mal, mas Gabigol estava na segunda trave para fazer o gol e a alegria da Nação. “Festa na favela” cantava a torcida, eu também, faço parte da Nação que é o pesadelo de muitos. O Fla-Flu era rubro-negro, eu podia voltar na Rocinha com um sorriso e o sonho de mais um título, que finalmente não veio. Arrascaeta e Gabigol foram os artilheiros do Fla-Flu, dois jogadores que decepcionaram em 2024, mas com a chegada de Filipe Luís no banco, com eu de volta ao Rio de Janeiro, ainda quero sonhar com uma recuperação dos dois, com um Fla-Flu feliz, com a Nação gritando no final “É campeão”.

  • Jogos eternos #206: Universidad Católica 2×3 Flamengo 2022

    Jogos eternos #206: Universidad Católica 2×3 Flamengo 2022

    A Seleção brasileira joga hoje no Chile, vamos então lembrar um jogo do Flamengo no Chile, na campanha da Copa Libertadores de 2022, que quase quase foi perfeita. Flamengo estreou com 2 vitórias, contra o Sporting Cristal e Talleres, antes de jogar contra a Universidad Católica, talvez o adversário mais perigoso da fase de grupos.

    No 28 de abril de 2022, o técnico Paulo Sousa escalou Flamengo assim: Santos; Isla, Pablo, Willian Arão, Filipe Luís; Thiago Maia, João Gomes, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol. No estádio San Carlos de Apoquindo, na cidade de Las Condes, comuna de Santiago, Flamengo precisou de apenas 8 minutos para abrir o placar. Bem lançado pelo Bruno Henrique, Gabigol olhou o gol e chutou no gol, sem chance para o goleiro. Apenas 8 minutos depois, a Universidad Católica empatou com a ajuda de Isla, que fez gol contra.

    Ainda no primeiro tempo, a dupla Bruno Henrique – Gabigol voltou a funcionar. Até voltou a funcionar o trio de ouro de 2019 com Arrascaeta, que fez grande passe no ar chileno para Bruno Henrique na esquerda. Com a velocidade de sempre, Bruno Henrique deu o pique e cruzou para Gabigol, que só teve a tocar o pé na bola, a bola no fundo das redes. Assim, Gabigol fazia seu 26o gol na Libertadores (1 com Santos e 25 com Flamengo), deixava Fred e Palhinha para trás e se tornava o segundo maior artilheiro brasileiro da história da Copa Libertadores, atrás apenas de Luizão. Hoje, mesmo reduzindo bem o ritmo e com a ameaça de Pedro que chega perto, Gabigol é o maior artilheiro brasileiro da Copa Libertadores.

    No segundo tempo, depois de mais uma arrancada impressionante de Bruno Henrique, Gabigol passou perto do hat-trick mas chutou para fora. E a Universidad Católica ameaçou Flamengo, até com bola na trave e reclamação de um pênalti, Isla, no próprio país, parecida perdido no jogo. Flamengo só respirou nos 10 minutos finais, Paulo Sousa brilhou nas escolhas táticas, com a entrada em campo de Pedro, Marinho e Lázaro. O primeiro desarmou, o segundo lançou, o terceiro golaçou. O craque da casa Lázaro dominou bem a bola, deixando-a um pouco no ar e chutou na gaveta para fazer o golaço do dia.

    Nos acréscimos, foi a vez de Pablo fazer gol contra, o que não impediu a vitória do Flamengo. Com 3 gols do Mengo (até 5 contando os gols contra), 2 de seu maior artilheiro na competição, poderia ter sido uma noite perfeita no Chile. Era sem contar com a estupidez do ser humano. Um torcedor chileno imitou um macaco em direção aos brasileiros, outros lançaram pedras e sinalizadores no setor do Flamengo, machucando uma criança de 10 anos. No jogo de volta, a direção do Flamengo acertou, convidando o jovem Thiago para o jogo no Maracanã e no CT do Flamengo para conhecer os jogadores. O ser humano e o futebol também são capazes de grandes coisas.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”