Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #205: Flamengo 5×1 Bangu 1915

    Jogos eternos #205: Flamengo 5×1 Bangu 1915

    Flamengo fez na última semana mais um passo rumo ao novo estádio, tomando posse do terreno do Gasômetro. Eu acho que o Maracanã, além de ser a alma do futebol carioca, é a casa do Flamengo. Foram, em quase 75 anos, tantos jogos, tantas vitórias, tantos títulos, tantos gols, tantas explosões de alegria da torcida, na geral e nas arquibancadas. É nossa casa, mas o Maracanã foi destruído na alma para a Copa de 2014 e o futebol moderno exige um estádio próprio. Acho a localização do Gasômetro ótima e o novo estádio marcará um novo capítulo da história do Flamengo, como aconteceu tantas vezes desde o primeiro jogo do clube, contra Mangueira em 1912.

    Nos primeiros anos de futebol, Flamengo mandava seus jogos em outros estádios: Laranjeiras do Fluminense e General Severiano do Botafogo. Gigante desde o primeiro jogo, Flamengo conquistou seu primeiro campeonato em 1914, com vitória no Fla-Flu, no General Severiano. O time de futebol do Flamengo ganhou a simpatia dos remadores do clube, ainda o esporte mais nobre da cidade, e ganhou novos torcedores no Rio de Janeiro, uma cidade de mais ou menos 1,5 milhão de pessoas na época. Em 1915, a torcida rubro-negra (e de listras brancas) lotou o General Severiano num jogo contra Botafogo, o jornal O Imparcial falando de “uma animação nunca vista”. Flamengo já era o mais querido e precisava de uma casa para mandar seus jogos.

    O clube de Paissandu, como se escrevia na época, abandonou o futebol em 1914. Antes, o clube de origem inglesa jogava no bairro nobre de Laranjeiras, no estádio da rua Paysandu, conhecido pela tribuna de madeira e pelas palmeiras centenárias. O dono do estádio era a família Guinle, ligada ao Fluminense. O estádio tinha um dono, mas não tinha time. Assim, a partir de 1915, a família Guinle alugou o estádio ao Flamengo, que fez obras no local, perpetuando assim já a tradição do Fla-Flu, dois clubes às vezes irmãos às vezes inimigos. No estádio da rua Paysandu, Flamengo, campeão mais recente e ainda invicto no campeonato de 1915, iniciava um novo capítulo de sua história.

    A estreia do Flamengo no estádio da rua Paysandu aconteceu para a última rodada do campeonato carioca 1915. Flamengo precisava de um empate para ser campeão. E mais, Flamengo podia ser campeão invicto, antes só Fluminense tinha conseguido a façanha. No 31 de outubro de 1915, o Ground Committee liderado pelo zagueiro Emmanuel Nery escalou Flamengo assim: Baena; Píndaro, Nery; Coriolano, Gallo, Sidney Pullen; Arnaldo, Gumercindo, Borgerth, Riemer, Paulo Buarque.

    No time do Flamengo, destaques para Borgerth, o fundador da seção de futebol no Flamengo, para o atacante Riemer, que ultrapassou em 1915 o próprio Borgerth para se tornar o maior artilheiro do Flamengo, para Arnaldo, que fez 4 gols no primeiro jogo da história do Flamengo, e para o meio-campista Sidney Pullen, um inglês que jogava no Paissandu e ingressou o Flamengo depois do clube abandonar o futebol. Sidney Pullen ainda jogou na Seleção brasileira em 1916, voltou na Europa como soldado na Primeira Guerra mundial, voltou como ídolo ao Flamengo para ser mais três vezes campeão com Flamengo.

    No estádio da rua Paysandu, o primeiro adversário era Bangu, já um clube de operários e que ajudou a aproximar o futebol carioca do povo. Flamengo jogava com a camisa chamada “cobra coral”, sem o azar do “papagaio de vintém”, ainda diferente da camisa tradicional do remo, mas já mais parecida, uma camisa rubro-negra com pequenas listras brancas, assim ganhou o apelido de cobra coral. E ganhou a camisa, ganhou o estádio, ganhou a torcida, ganhou o Flamengo. Contra Bangu, Riemer marcou 2 gols, inclusive o primeiro gol rubro-negro da história do estádio. Seus 14 gols no campeonato só foram ultrapassados pelo artilheiro do Fluminense e talvez melhor jogador de Rio, o também inglês Harry Welfare. Paulo Buarque, Arnaldo e Gumercindo também fizeram gol, Flamengo goleou 5×1, Flamengo foi campeão, pela primeira vez de maneira invicta. Já no seu primeiro jogo na sua nova casa, ainda não estádio próprio, deixo isso para outra crônica, Flamengo fazia festa para sua torcida, Flamengo era o Rei de Rio.

  • Ídolos #38: Filipe Luís

    Ídolos #38: Filipe Luís

    Filipe Luís começa uma nova fase da carreira. Era uma certeza que um dia ia se tornar o técnico do Flamengo. A dúvida é se ele vai ser um grande treinador, mas já junta uma galera de grandes nomes que foram técnicos do Flamengo depois de brilhar com o Manto Sagrado: Zagallo, Carlinhos, Jayme de Almeida, Paulo César Carpegiani, Andrade. Já ídolo do Flamengo, falta a Filipe Luís se eternizar na grande galeria dos técnicos rubro-negros.

    Filipe Luís nasceu no 9 de agosto de 1985, no Santa Catarina, terra de imigrantes europeus, como poloneses, italianos e austríacos, origens do próprio Filipe Luís. Aprimorou seu futebol com futsal, que praticou até os 14 anos. Virou um jogador com técnica limpa e domínios certos. Começou a carreira profissional no Figueirense, onde foi bicampeão catarinense antes de ir na Europa, no Ajax Amsterdam, onde sequer jogou. Passou na reserva do Real Madrid e finalmente chegou na primeira divisão da Espanha com o Deportivo La Coruña, terra de brasileiros, como Rivaldo, Bebeto ou ainda Djalminha.

    Na Coruña, Filipe Luís virou titular absoluto, teve uma série impressionante de 66 jogos da Liga como titular, entre o 2 de dezembro de 2007 e o 23 de janeiro de 2010. A série foi interrompida contra o Athletic Bilbao, quando Filipe Luís abriu o placar e no mesmo lance do gol, se chocou com o goleiro do Bilbao e quebrou o perônio. O lateral-esquerdo só voltou nos dois últimos jogos da temporada a faltou a Copa do Mundo de 2010, tinha estreado com a Seleção no último jogo das eliminatórias, quando Dunga o botou em campo contra a Venezuela.

    Referência na Espanha, Filipe Luís assinou com o Atlético de Madrid e virou uma referência na Europa inteira. Já no primeiro jogo com o Atlético, Filipe Luís fez uma assistência para Diego Costa marcar o único gol da partida e ainda foi eleito melhor homem do jogo. O primeiro gol de Filipe Luís chegou na mesma temporada, numa vitória 3×0 sobre a Real Sociedad. Sobretudo, o lateral brasileiro ganhou muitos títulos com o time de Diego Simeone: a Liga Europa 2012 contra o Athletic Bilbao de Marcelo Bielsa, a Supercopa da UEFA semanas depois contra Chelsea com show de Falcão, a Copa da Espanha contra o Real Madrid de José Mourinho, no Santiago Bernabéu. Muito títulos para um time que ganhava nada nos anos 2000.

    E mais, no auge do Barcelona de Messi e do Real Madrid de Ronaldo, o Atlético de Madrid conquistou a Liga espanhola de 2014, a primeira do clube desde 18 anos, com 3 pontos a mais do Barcelona e do Real Madrid. Os dois gigantes ultrapassaram os 100 gols no campeonato, mas a defesa do Atlético Madrid foi vazada apenas 26 vezes em 38 jogos. Ao lado dos companheiros Courtois, Godín e Juanfran, Filipe Luís foi eleito na seleção ideal da Liga.

    Para a Copa de 2014, Filipe Luís ficou apenas na lista de suplentes, atrás de Marcelo e Maxwell. A Seleção ainda tinha uma qualidade absurda na lateral-esquerda. Logo depois, realizou um sonho e assinou no Chelsea, para jogar a Premier League. E foi campeão, conquistando um título que não vinha desde 2010 para os Blues. Porém, Filipe Luís participou de apenas 15 jogos, 9 como titular. Jogador de classe, mostrou que também era homem de classe, afirmando que Azpilicueta merecia a titularidade. Filipe Luís participou da League Cup, até fazendo gol contra Derby County nas quartas de final, mas não jogou a final, também vencida pelo Chelsea.

    Depois de um ano na Inglaterra, voltou no Atlético de Madrid, voltou a conquistar títulos, porém ficou no banco, tanto na final da Liga Europa 2018 que na Supercopa da UEFA, também em 2018, conquistadas contra Olympique de Marselha e o Real Madrid. Com a Seleção, jogou as Copas América de 2015 e 2016 e disputou 4 jogos da Copa do Mundo de 2018, mostrando a mesma classe que no Atlético. Na amarelinha, fez 2 gols, contra o Peru em 2015 e contra a Bolívia em 2016, bem servido pelo Neymar. Ainda brilhou na Copa América de 2019 conquistada pelo Brasil, mas sem o mesmo espaço no Atlético, buscou novos desafios. Era a hora de voltar ao Brasil.

    Em julho de 2019, Filipe Luís foi anunciado no Flamengo e foi mais um da geração de 1985, com Rafinha, Diego Alves e Diego Ribas, o amigo quase irmão que incentivou a contratação de Filipe Luís, ao lado do presidente Rodolfo Landim. Ao lado de Rafinha, Filipe Luís se juntou ao Gerson e Pablo Marí como reforços no meio da temporada de 2019. Flamengo estava mudando de patamar. Depois de 14 anos na Europa, Filipe Luís voltava no Brasil, ainda jogando em alto nível. Eu só não sabia se tinha muito o ADN do Flamengo, eu me encanto mais com laterais esquerdos mais ofensivos, como Júnior ou Juan no Flamengo, Roberto Carlos ou Marcelo no futebol brasileiro. Mas Filipe Luís me conquistou com a publicação de uma foto ao lado do Vô, Filipe Luís bem jovem, vestindo um Manto Sagrado bem antigo. “Sentimento que passa de pai para filho, de vô para neto”, publicou. Do Rio para o mundo, do Maraca para a glória eterna.

    Filipe Luís também me conquistou em campo, com atuações seguras, com classe, qualidade técnica, profissionalismo, liderança. Na estreia, perdeu 3×0 contra Bahia, mas depois, foram só vitórias ou empates no pior dos casos, até se eternizar no clube com a conquista da Libertadores, no Milagre de Lima. Fez seu primeiro gol com o Manto Sagrado em 2020, no Fla-Flu do campeonato carioca, depois de uma assistência absurda de Gabigol. O segundo gol também foi num Fla-Flu, agora no Brasileirão. Também fez gol contra Santos e conquistou mais um Brasileirão no início de 2021. Ganhou a admiração de um outro lateral-esquerdo, o vascaíno Pedrinho: “É um gênio. Ele não tem velocidade, força, não tem drible. Mas joga mais do que todo mundo, só com a cabeça”.

    Em 2022, fez seu quarto e último gol no Flamengo, em mais um clássico, na vitória 2×1 sobre Vasco. Na final da Copa do Brasil contra o Corinthians, a decisão foi para a disputa de penalidades, Filipe Luís foi o primeiro a bater para Flamengo e perdeu. Sem consequências, depois de última cobrança de Rodinei, Flamengo foi campeão, Filipe Luís conquistava um dos únicos títulos que ainda lhe faltava no Flamengo. Dez dias depois, ainda era titular para mais uma final de Copa Libertadores, contra o Athletico Paranaense, mas saiu machucado depois de apenas 20 minutos de jogo. Sem consequências, Flamengo foi campeão e teve despedida de festa para Diego Alves e Diego Ribas.

    Filipe Luís renovou o contrato por mais um ano e era o último remanescente da geração 1985. Provavelmente o mais flamenguista também. Inteligente como sempre, preparou a pós-carreira ainda jogando, seguindo cursos da CBF e conseguindo a Licença A. Em 2023, jogou menos numa temporada melancólica para o Flamengo e pendurou as chuteiras depois de jogo contra Cuiabá no Maracanã, onde recebeu homenagem ao lado de Rodrigo Caio, outro ídolo de 2019. Com o Manto Sagrado, Filipe Luís fez 176 jogos, ganhou um total absurdo de 132 vitórias, conquistou um total ainda mais absurdo de 10 títulos, fez 4 gols, fez 9 assistências, fez a alegria do torcedor já consagrado, ajudou o Flamengo a conquistar mais torcedores, meninos que sonhavam e vibravam com um Flamengo vencedor. “Sentimento que passa de pai para filho, de vô para neto”.

    Logo no início de 2024, Filipe Luís virou técnico da base no Flamengo, com o amplo apoio da Nação, conquistando com o time Sub-17 a Copa Rio contra o rival Vasco. Passou a dirigir o time Sub-20 e conquistou um título ainda mais importante, inédito para o clube, a Copa Intercontinental Sub-20 contra o Olympiacos. Era só uma questão de tempo antes de Filipe Luís virar técnico do time principal do Flamengo. Acontece agora, de novo com o amplo apoio da Nação. A dúvida é se ele vai se tornar um grande técnico do Mengo. A certeza é que ele foi um dos maiores laterais da história do Flamengo.

    No início de 2024, uma enquete com 50 jornalistas elegeu os maiores laterais da história do Flamengo. Leandro e Júnior são quase hors-concours. Não podemos esquecer outras grandes duplas de laterais, Jorginho e Leandro no final dos anos 1980, Léo Moura e Juan nos anos 2000. Gosto de duplas de laterais, e Filipe Luís também formou uma ao lado de Rafinha. Na hora da despedida de Filipe Luís, tinha eternizado no Francêsguista o ídolo de Filipe Luís, outro lateral-esquerdo de classe e técnica limpa, Athirson, outro candidato. Também não podemos esquecer os jogadores mais antigos, Biguá, Jordan, Paulo Henrique. Na enquete do GloboEsporte, Filipe Luís ficou atrás de Júnior e Leandro, claro, mas ficou em terceiro, seus 342 pontos bem na frente dos 259 de Léo Moura e 193 de Jorginho. Meu voto pessoal seria 1 – Leandro e 2 – Júnior. Depois, minha dúvida seria entre Jorginho e Filipe Luís, talvez Jordan. Bem que não tive que escolher, prefiro ficar na dúvida. Minha certeza é que Filipe Luís foi um dos maiores laterais do Flamengo, fez mais que honrar o Manto Sagrado, foi e ainda é ídolo rubro-negro.

  • Jogos eternos #204: Bahia 2×2 Flamengo 1995

    Jogos eternos #204: Bahia 2×2 Flamengo 1995

    Mesmo com a chegada de Filipe Luís no banco do Flamengo, ainda é difícil para mim de estar optimista para o final da temporada, principalmente no Brasileirão. Antes do jogo contra Bahia na Fonte Nova, volto para uma temporada que também começou com grandes sonhos e acabou com decepções ainda maiores, a de 1995.

    Em 1995, Flamengo contratou a chamada “maior ataque do mundo”, Romário e Edmundo se juntando ao craque da casa, Sávio. Na primeira fase do Brasileirão, Flamengo decepcionou muito. Ganhou apenas dois jogos, contra Bragantino e Juventude, dois jogos eternos no Francêsguista, empatou mais dois jogos e perdeu 7 vezes! Assim, acabou na última colocação de seu grupo… Uma vergonha, mas ainda tinha a esperança de conquistar a segunda fase para se classificar nas semifinais. Fla começou com vitória contra Criciúma e ficou no 0x0 no Fla-Flu.

    Para a terceira rodada da segunda fase, Flamengo jogou contra Bahia, que também tinha 4 pontos na segunda fase até aqui. No 21 de outubro de 1995, o saudoso Apolinho Rodrigues escalou Flamengo assim: Paulo César; Luís Carlos Winck, Válber, Ronaldão, Alexandre; Márcio Costa, Djair, Rodrigo Mendes; Sávio, Edmundo, Romário. O melhor ataque do mundo e talvez a pior defesa do campeonato.

    Na Fonte Nova, Flamengo começou melhor, com uma dupla de grandes sonhos e pesadelos ainda maiores. Edmundo tabelou com Romário, driblou um zagueiro e foi desequilibrado por um segundo. Romário continuou o lance e abriu o placar de bico, antes de partir para o abraço com o então amigo Edmundo. No final do primeiro tempo, Edmundo no meio de campo achou Romário, que no seu estilo particular, driblou um zagueiro antes de abrir o pé, sem chance para o goleiro. Mais um abraço para Edmundo, que virou garçom de artilheiro Romário, já com 8 gols no Brasileirão, sem saber que seriam seus últimos do campeonato. No intervalo, a vitória de Mengo parecia ser certa.

    E a vitória parecia ainda mais certa nos 10 minutos finais do jogo, ainda com 2 gols de vantagem para Flamengo. Mas Bahia inflamou a Fonte Nova com uma falta de Lima para a cabeçada mortal do zagueiro Ronald. E nos acréscimos, o goleiro rubro-negro Paulo César falhou de forma inacreditável, Raudnei aproveitou e empatou de cabeça, Flamengo deixava escapar a vitória certa. O empate parecia a norma para Flamengo no segundo turno, com 7 empates em 12 jogos. Flamengo fechou a fase na 7a colocação de seu grupo, longe do primeiro Botafogo, um final sem emoção, com muita frustração.

  • Jogos eternos #203: Flamengo 1×0 Corinthians 2010

    Jogos eternos #203: Flamengo 1×0 Corinthians 2010

    Flamengo joga hoje contra o Corinthians e não pode perder nem empatar. A temporada é bem frustrante e a conquista da Copa do Brasil virou obrigação. Antes de um jogo de mata-mata contra o Corinthians, com jogo de ida no Maracanã, eu escolho para a crônica do dia um jogo de Copa Libertadores, em 2010.

    Eu falei na última crônica que o grande ídolo de minha infância era Ronaldo Fenômeno e que senti uma grande frustração, dor, raiva quando ele assinou com o Corinthians. Nem a chegada de Adriano Imperador e a conquista do hexa foram suficientes para aliviar essa raiva que sentia na minha alma rubro-negra. Esperava o reencontro entre Flamengo e Corinthians, Adriano e Ronaldo. No Brasileirão de 2009, na ida Ronaldo não jogou, na volta Adriano não jogou. Tinha que esperar 2010 para o duelo de dois dos maiores centroavantes da história do futebol brasileiro.

    E o duelo aconteceu num jogo de mata-mata, na Copa Libertadores. A traição de Ronaldo até fez me afastar um pouco do futebol brasileiro e não acompanhei tanto as temporadas de 2009 e 2010 como as de 2007 e 2008, meus primeiros amores. Mas o amor do Mengo era maior e depois das eliminações traumáticas nas Copas Libertadores de 2007 e 2008, Flamengo se classificou, também de forma dramática, para a fase final da Copa Libertadores de 2010.

    Em 2009, os clubes mexicanos de San Luis e Chivas Guadalajara tiveram de desistir das oitavas de final por causa da pandemia de gripe H1N1. Assim, os dois clubes mexicanos foram classificados diretamente para as oitavas de final da Copa Libertadores de 2010 e tinha apenas 6 dos 8 melhores segundos colocados que se classificavam para a fase final. Sob vaias da torcida, Flamengo venceu de virada 3×2 Caracas e teve que esperar o dia seguinte e uma combinação de 3 resultados para ir nas oitavas, como o último colocado. Sem sorteio na época, o destino foi o time com a melhor campanha, que reinou na primeira fase com 5 vitórias e um empate, o destino foi o Corinthians, o destino foi Adriano x Ronaldo.

    Eu agora perdoei o Ronaldo Fenômeno mas em 2010, ainda estava no auge de meu ódio. Eu estava louco e ansioso ao mesmo tempo para esse Flamengo x Corinthians. O Corinthians andou como favorito para o jogo, e tinha mais, a torcida deles estava louca para conquistar pela primeira vez a Copa Libertadores, no ano do centenário do clube. E nossa torcida só queria provocar o Ronaldo, até com a contratação de travestis para assistir ao jogo, Ronaldo foi pego num motel de Rio de Janeiro com travestis em 2008. E mais, o Maracanã vivia seus últimos jogos antes de ser fechado e destruído na alma para a Copa de 2014. Era um jogaço antes do apito inicial.

    E o pré-jogo confirmou isso. O Maracanã pegou fogo, com cantos provocativos ao Ronaldo, mas sobretudo, com show da Nação, com cantos, sinalizadores e fumaça. Mesmo com o futebol ruim na temporada, mesmo uma chuva impressionante, a torcida respondeu presente, com 62.247 pagantes. “O Maraca é nosso, vai começar a festa”. E foi festa. No 28 de abril de 2010, o técnico Rogério Lourenço escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, David Braz, Ronaldo Angelim, Juan; Rômulo, Maldonado, Willians, Michael; Vágner Love, Adriano. A forte chuva no início do jogo impediu uma boa qualidade técnica do jogo, mas aos 10 minutos, um chute de Léo Moura que flirtou com a trave acordou o Maracanã. “Mengo, Mengo, Mengo”, que saudade eu tenho do verdadeiro Maraca.

    No primeiro tempo, o gramado do Maracanã virou piscina e teve poucas jogadas de perigo. Num cruzamento de Juan, Léo Moura não conseguiu cabecear. Tenho saudade dessa dupla de laterais também. Num lançamento de Michael, Vágner Love invadiu a grande área mas Chicão foi perfeito no carrinho, quem sabe o mergulho. Michael foi bem menos preciso no carrinho e foi duas vezes advertido pelo juiz. Assim foi expulso, deixou Flamengo com apenas 10 homens em campo, já no primeiro tempo. Mesmo com o placar de 0x0, era um jogaço, não na qualidade técnica, mas na intensidade, no drama, no roteiro. O primeiro tempo acabou assim, nada de gol no Maraca, que ainda esperava vibrar com um gol do Mengo, uma bola perdida do Ronaldo Fenômeno, pouco acionado no primeiro tempo.

    No início do segundo tempo, a chuva parou e o gramado melhorou. O goleiro Bruno saiu bem nos pés de Moacir, preservou o 0x0. Na hora de jogo, a falta longa de Juan parou no travessão, Adriano tentou o voleio, mas bola passou um pouco em cima do travessão. O Maraca vibrava, vivava, esperava o gol, a jogada certa, o lance decisivo. Pouco depois, Willians abriu na grande área para Juan, mais rápido que Moacir, que cometeu o pênalti claro. Na cobrança, Adriano correu, chutou forte, no contrapé de Júlio César. O Maracanã explodiu, sinalizou, exibiu a bandeira de Nosso Didico. Flamengo 1×0 Corinthians, Adriano 1×0 Ronaldo.

    Dez minutos depois, Adriano quase fez o segundo, mas Júlio César desviou o cabeceio no travessão. No final do jogo, Ronaldo, sob vaias da torcida rubro-negra, driblou um e cruzou, mas os corintianos Iarley e Jorge Henrique se atrapalharam. No minuto seguinte, Ronaldo saiu do campo, sob ainda mais vaias, que eu achava merecidíssmas. Foi minha vitória, o Ronaldo Fenômeno seguia em branco no Maracanã, onde nunca fez gol na carreira. E o jogo acabou assim, com vitória 1×0 do Flamengo. Era, no Maraca na chuva, dia de Adriano, dia de Mengo, dia da Nação.

  • Jogos eternos #202: Flamengo 2×1 Athletico Paranaense 2009

    Jogos eternos #202: Flamengo 2×1 Athletico Paranaense 2009

    Para esquecer um pouco do presente, vamos voltar ao passado. O Adriano Imperador, Nosso Didico, anunciou há pouco sua volta para um jogo de despedida no Maracanã. Antes do jogo de hoje contra o Athletico Paranaense, vamos para um outro jogo contra o Furacão, que viu um Imperador voltar a reinar.

    Adriano sempre foi ídolo do Flamengo. Era mais que um craque da casa, era o orgulho de Vila Cruzeiro, da Penha, da Zona Norte de RJ. Era a alegria do geraldino, do rubro-negro raiz e de todos os torcedores, conquistava todo mundo com seu sorriso, sua simplicidade e sua humildade. Começou como profissional em 2000, fez seu primeiro gol contra o São Paulo de Rogério Ceni, e já foi vendido aos 19 anos. Não teve tempo de se eternizar no Flamengo com títulos, mas se destacou pela habilidade e potência.

    Adriano foi vendido na Inter de Milão em 2001, quando o Ronaldo Fenômeno acumulava as lesões graves no mesmo clube. Logo Adriano parecia uma versão mais jovem do Fenômeno, tinha essa mistura única (agora não única) de habilidade, velocidade e força que faziam dele um dos melhores centroavantes do mundo. Adriano começou a se destacar no Parma, onde foi emprestado, e eu o vi jogar num torneio na minha França, a Copa das Confederações de 2003. Eu via um novo Ronaldo, meu então maior ídolo no futebol e na vida, desde a Copa do Mundo de 1998, já na França, eu com 6 anos recém-completados. Depois, Adriano brilhou na Inter de Milão, fez golaços e a alegria do tifosi, virou Imperatore.

    Adriano também virou ídolo do Brasil em 2004, com um jogo eterno e um gol inesquecível contra a Argentina, para conquistar a Copa América. Até para os gamers Adriano foi inesquecível, virou capa do jogo Pro Evolution Soccer 6 e era imparável no jogo. Tinha rapidez, potência, técnica. Mas não era exagerado, Adriano era propriamente em campo um jogador de videogame. Eu era apaixonado pelo futebol brasileiro e pelo todos (ou quase) os jogadores brasileiros, mas minha maior referência ainda era o Ronaldo Fenômeno. Quando foi também jogar em Milão, não acompanhei mais o Real Madrid e sim o AC Milan. Quando se machucou mais uma vez gravemente no joelho, parei de assistir o futebol europeu.

    No início de 2008, o futebol era para mim apenas rubro-negro, apenas Flamengo. Era o centro de meu mundo, e nos arredores, tinha o futebol brasileiro em geral. Na época, Adriano lutava com a tristeza da morte do pai, contra a depressão e o alcoolismo. Ganhou peso e perdeu futebol. Fiquei feliz quando anunciou sua volta ao Brasil. Minha alegria era ver no Brasil antigos ídolos, Romário, Edmundo, Adriano, Denílson e outros, mesmo longe do Flamengo, onde também jogaram. Adriano jogou no São Paulo FC e foi bem, voltou na Internazionale e foi mal.

    Em 2008, meu ídolo Ronaldo Fenômeno vestiu o Manto Sagrado, como simples torcedor. Assistiu a um jogo do campeonato carioca contra Botafogo, se declarou ao clube e falou sobre o sonho de jogar no Flamengo. Eu ficava louco de imaginar meu ídolo no clube de meu coração, era a combinação perfeita, mas a volta à realidade foi brutal, Ronaldo assinou com o Corinthians, contra o Flamengo. Tive a oportunidade de ver o que era mais importante, meu ídolo ou meu clube. Fiquei com o Flamengo e passei a odiar Ronaldo. Para minha tristeza e raiva, ele foi bem no início de 2009 e até me distanciei um pouco do futebol brasileiro por causa da dor que isso me provocava.

    Mas reencontrei a felicidade ao mesmo tempo que Adriano, que voltou ao Brasil no início apenas para um jogo das eliminatórias da Copa de 2010. E ficou em casa, o agente Gilmar Rinaldi avisou: “O Adriano está no Rio com a família e não volta para a Itália”. Pouco depois, Adriano detalhou um pouco mais: “Resolvi dar um tempo na minha carreira, pois perdi a alegria de jogar. Não sei se vou parar dois ou três meses, para repensar minha carreira. Não gostaria de voltar a Itália. Lá a pressão é muito grande. Quero viver em paz, aqui no Brasil. Estou fazendo isso pensando em minha felicidade”. Pensou na sua própria felicidade e a da avó, quando foi perguntado onde voltaria a jogar no país: “Se eu for jogar no Brasil, tem que ser no Flamengo. Senão a minha avó me mata!”.

    E Nosso Didico pensou na felicidade da Nação, assinou com o Mengo. Parecia um sonho, que se dane o Fenômeno, meu ídolo é um Imperador. Flamengo começou o Brasileirão de 2009 com uma vitória, um empate e uma derrota, mas tinha mais importante, o Imperador voltou, o bom filho voltou em casa. Adriano reestreou contra o Athletico Paranaense, no 31 de maio de 2009, o técnico Cuca escalando Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Ronaldo Angelim, Airton, Juan; Willians, Toró, Kléberson, Ibson; Emerson Sheik, Adriano.

    O Imperador jogou com a camisa 29, a mesma que a de seus inícios no Flamengo em 2000, e recebeu uma mais que merecida homenagem da torcida. Era Maraca lotado, 68.217 pagantes, 71.762 presentes, uma festa antes do apito inicial, com rosto do Imperador voando no céu carioca. “Voltei para minha casa, porque foi de onde eu saí, onde fui criado, e para tentar reconquistar a minha felicidade. Já estou muito feliz em estar aqui, ao lado de pessoas que me viram crescer, me acompanham no futebol desde pequeno. Sempre senti essa vontade de voltar ao Flamengo. E nada melhor do que estar aqui, perto da minha família” falou Nosso Didico antes do jogo.

    Adriano voltou acima do peso, mas acima de tudo rubro-negro. Cada toque de Adriano era uma explosão de felicidade para a Nação. Jogo começou bem, com a grande dupla de laterais rubro-negros, Juan cruzou para o cabeceio de Léo Moura, mas goleiro defendeu. Dois minutos depois, Juan de novo cruzou, para Adriano, que por pouco não abriu o placar. Ainda não era o momento da maior felicidade. Na direita, Willians cruzou, Adriano cabeceou, goleiro defendeu. A Nação ainda tinha que esperar. Ainda nos primeiros 15 minutos, Juan cruzou mais uma vez, e Adriano apareceu livre para abrir o placar, mas o zagueiro do Athletico Antônio Carlos chegou primeiro e fez contra, adiou a festa rubro-negra. Mesmo assim, a Nação explodiu de felicidade e ousia sonhar mais, queria o gol de seu ídolo, de seu Imperador.

    No final do primeiro tempo, Adriano quase fez assistência, com bom passe para Toró, que chutou no meio do gol, sem maior perigo para Vinícius. E maior felicidade chegou no Maraca. No início do segundo tempo, Emerson Sheik abriu na direita para Léo Moura, que cruzou de primeira. Adriano se livrou do Rhodolfo, pulou, cabeceou, golaçou. Como o Imperador que era, Adriano reinou em campo e foi coroado pela torcida, pela Nação, que conhecia sua maior alegria, gol do Flamengo, gol do Adriano. Nada mais importava, não as quase assistências que fez Adriano para Léo Moura e Éverton Silva, não importava o futebol europeu, o Ronaldo no Corinthians, muito menos o gol de pênalti de Rafael Moura para o Athletico Paranaense, que não impediu a vitória rubro-negra. Só importava a felicidade da Nação e do Nosso Didico.

    O Maracanã cantou, pulmou, almou: “Festa na Favela” e “O Imperador voltou!”. Até a Itália ficou feliz, a Gazzetta Dello Sport manchetou: “L’Imperatore è tornato”, o Imperador voltou. O Imperador voltava a escrever sua história e reencontrar sua felicidade, como o próprio Adriano falou no final do jogo: “Foi muito importante fazer o gol. Não tem dinheiro que traga tanta felicidade. Recuperei a alegria de jogar, mas sei que ainda posso fazer muito mais. Vamos devagar e com humildade”. Adriano fez muito mais, perdeu dinheiro, mas não perdeu a humildade e ganhou o mais precioso da vida: a felicidade de ser campeão pelo Flamengo.

  • Jogos eternos #201: Nacional 0x3 Flamengo 1993

    Jogos eternos #201: Nacional 0x3 Flamengo 1993

    Flamengo joga hoje seu jogo mais importante do ano. Eu me esforço para estar confiante, apesar do momento ruim do time, apesar do retrospecto também ruim do Flamengo no Uruguai. O Mengo ganhou nenhum dos 8 últimos jogos disputados no Uruguai, inclusive perdeu uma final da Copa Libertadores. Tem que voltar então a um passado mais distante para achar um jogo no Uruguai que acabou bem para Flamengo.

    O ano é 1993, um ano histórico no Francêsguista, a competição é a Supercopa Libertadores, instaurada em 1988 e que reunia apenas os campeões da Copa Libertadores. Flamengo era então o único participante carioca e nunca passou das quartas de final até 1993, com eliminação contra Nacional em 1988, River Plate em 1991 e Estudiantes em 1992. Um ano depois, Flamengo eliminou Olimpia na primeira fase, um jogo eterno no blog, com gols de Renato Gaúcho, Casagrande e Júnior Baiano. Nas quartas de final, Flamengo passou de River Plate, Gilmar Rinaldi sendo o herói da disputa de penalidades.

    Flamengo reencontrou na semifinal outro time que o tinha eliminado anos antes da Supercopa Libertadores, o Nacional do Uruguai. Nas quartas de final, Nacional eliminou o Cruzeiro de Ronaldo Fenômeno, que fez 3 gols nos 2 jogos, insuficiente para classificar a Raposa. No jogo de ida da semifinal, Flamengo jogou no Pacaembu e derrotou o Nacional 2×1, gols de Casagrande e Renato Gaúcho. Na sua terceira passagem no Flamengo, Renato Gaúcho fez alguns gols, mas não brilhou muito, sofrendo várias lesões. No meio de campo, Flamengo era órfã do jogador que mais vestiu o Manto Sagrado na história, o Vovô-Garoto Júnior, que finalmente pendurou as chuteiras semanas antes. Mas Júnior não ficou longe da Gávea, virou técnico do Mengo, já no ano de 1993. Assim, no 10 de novembro de 1993, Júnior escalou Flamengo assim: Gilmar; Charles Guerreiro, Júnior Baiano, Rogério, Marcos Adriano; Fabinho, Marquinhos, Nélio, Marcelinho Carioca; Renato Gaúcho, Casagrande. Um time muito bom, principalmente no setor ofensivo, e que podia sonhar alto, podia sonhar com títulos.

    Flamengo jogou no estádio Centenário de Montevidéu, ainda não centenário mas que acolheu vários jogos importantes, a final da primeira Copa do Mundo em 1930 e nada menos que 21 finais da Copa Libertadores, obviamente um recorde, inclusive o jogo de desempate da Copa Libertadores de 1981, que viu Flamengo conquistar pela primeira vez a América. Sempre foi um estádio onde era difícil de jogar e mesmo com a vitória na ida, a classificação do Flamengo era nada assegurada.

    No jogo de ida no Pacaembu, Renato Gaúcho foi substituído e saiu bastante irritado com Júnior. No Centenário, era um Renato Gaúcho vingativo, talvez a melhor versão dele. Começou com dribles, continuou com cruzamentos perigosos. No final do primeiro tempo, dominou de peito, prosseguiu com embaixadinha de cabeça e cruzou. O baixinho Nélio chegou, cabeceou mas goleiro defendeu. Instantes depois, mais um show de Renato Gaúcho, agora da direita, eliminou Saravia e cruzou para o grandão Casagrande. Resultado foi igual, o goleiro Jorge Seré fez mais um milagre e mantinha o Nacional vivo. E no final do primeiro tempo, Renato Gaúcho driblou um defensor, o outro fez falta dura. Uma falta para Flamengo, quase um mini escanteio, que saiu do pé mágico de Marcelinho Carioca até a cabeça de Nélio, até a rede de Seré. Finalmente Flamengo abria o placar.

    No início do segundo tempo, o lateral-esquerdo Marcos Adriano usou a velocidade e invadiu a grande área, só parou nos pés do goleiro Seré. Bola ficou viva, ficou no ar, Renato Gaúcho pulou, também ficou no ar, cabeceou. Bola passou em cima do zagueiro, ficou no gol. De braços abertos, Renato Gaúcho comemorou até os braços de Júnior e selou a paz com o técnico. Pouco depois, Marquinhos fez um grande lançamento na profundidade para Nélio. O craque da casa fez drible de vaca sobre goleiro, fez o doblete, fez o gol do alívio para a torcida rubro-negra. Em Montevidéu, Flamengo vencia 3×0, só faltava 34 minutos para chegar até o final do jogo e se classificar para a final.

    Mas Flamengo nem esperou tanto tempo. Como aconteceria anos depois na semifinal da Copa Mercosul de 1999, também no Centenário, agora contra Peñarol, os uruguaios não se confirmaram com a eliminação. Torcedores do Nacional começaram a jogar pedras em direção do goleiro Gilmar, continuaram e o juiz encerrou o jogo antes do tempo normal. Flamengo estava na final, infelizmente perdida na disputa de penalidades contra São Paulo, mas não podemos esquecer o show de Renato Gaúcho, provavelmente seu melhor jogo do ano de 1993, não podemos esquecer a grande atuação do Mengo no Uruguai.

  • Jogos eternos #200: Flamengo 4×1 Fluminense 2006

    Jogos eternos #200: Flamengo 4×1 Fluminense 2006

    A 100a crônica foi sobre o Clássico dos Milhões, um Flamengo x Vasco de 1983, com show de Zico e classificação do Mengo na semifinal do Brasileirão. Para a 200a crônica, vamos para meu clássico favorito no futebol, o Fla-Flu, vamos voltar aos primeiros amores, quando comecei a acompanhar de perto o Mengão.

    Comecei a acompanhar o futebol brasileiro de clubes em 2005, já flamenguista. Eu era flamenguista antes de assistir aos jogos, eu era Flamengo antes de nascer e serei depois da morte. Em 2006, tinha apenas o site francês Sambafoot para ter notícias do futebol brasileiro. Não assistia regularmente aos melhores momentos dos jogos, muito menos os jogos completos. Dependia totalmente do Sambafoot, a cada rodada mandava os placares dos jogos e quem fez os gols, às vezes tinha um pouco mais de informações. Lembrei bem que acompanhei de longe a decisão da Copa do Brasil, sabia que Vasco era rival, me alegrei muito com o título do Flamengo, sem saber que Vasco era, e ainda é, velho freguês.

    Começava a conhecer um pouco os jogadores do Flamengo. Tinha Obina, decisivo na Copa do Brasil, meu primeiro ídolo, porque sabia que era ídolo da torcida. Eu já estava apaixonado com a Nação. Também conhecia a dupla de laterais Juan – Léo Moura, uma foto dos dois foi o papel de parede de meu celular durante um bom tempo. Também tinha pintado o nome de Ney Franco no meu estojo. Também conhecia os dois Renatos, Renato Augusto, queria já conhecer o futuro craque da Seleção, e Renato Abreu, que sabia que era um canhoto poderoso e perigoso, principalmente de faltas. Mas no total, sabia muito pouco do Flamengo e de sua história.

    Porém, eu já sabia de toda a importância do Fla-Flu. É o clássico brasileiro que se fala mais na Europa, o clássico com a maior mística. Eu era doido para conhecer o Fla-Flu, para vencer o Fla-Flu. Nesse momento, não importa a forma dos times, os jogadores lesionados, a tabela, o mundo. Só importa o Fla-Flu. Minha memória afetiva se mistura à memória real e não lembro bem do pré-jogo, de minha ansiedade antes do apito inicial que nem cheguei a assistir. Não lembro do campeonato carioca de 2006, também não lembro bem do Fla-Flu do primeiro turno do Brasileirão de 2006, quando Fluminense venceu 1×0. Talvez minha memória afetiva apagou a memória real, mas talvez o Fla-Flu do segundo turno do Brasileirão de 2006 foi realmente “meu primeiro Fla-Flu”.

    No 4 de outubro de 2006, para mais um jogo no Maracanã, também era apaixonado pelo Maracanã, Ney Franco escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Renato Silva, Fernando, Juan; Paulinho, Renato Abreu, Renato Augusto, Sávio; Obina, Luizão. Confesso que não lembro bem de Sávio na passagem de 2006. Conhecia ele por ter jogado no Real Madrid e na minha França, com Bordeaux, mas fez apenas 10 jogos na volta ao Mengo e não lembro. Do lado do Flu, outros dois nomes importantes: Thiago Silva e Dejan Petkovic. Thiago Silva, ainda não conhecia, mas já adorava a oportunidade de conhecer os craques brasileiros, não só do Flamengo, antes da ida na Europa. Dejan Petkovic, outra confissão, não lembro o que exatamente sabia dele. Eu ainda estava nos primeiros anos de meu PhD sobre Flamengo.

    Jogo começou mal no Maraca, Petkovic cruzou e Tuta, que já tinha feito o único gol do Fla-Flu do primeiro turno, cabeceou e abriu o placar para o Flu. Quando a torcida do Fluminense ainda comemorava, era a vez da torcida do Flamengo de começar a comemorar, com uma falta a 35 metros de distância do gol, não muito perigosa para a maioria dos times, mas que se torna extremamente letal para quem tem Renato Abreu no elenco. A Nação empurrava forte, Renato Abreu chutou forte, ultrapassou os 100 km/h e achou a gaveta. Golaço.

    Com meia hora de jogo, Luizão, não sabia que era aquele que foi pentacampeão com a Seleção em 2002, fez grande passe para Juan, que driblou o goleiro. Só faltava empurrar nas redes, mas Roger tocou no pé e desequilibrou Juan, na continuidade do lance Obina chegou e chutou num zagueiro em cima da linha, Luizão chegou e chutou no travessão. Incrivelmente, o juiz não marcou pênalti apesar da pressão dos jogadores rubro-negros, da torcida e da falta clara. O intervalo acabou assim, 1×1 no placar, nada decidido no Fla-Flu.

    No início do segundo tempo, num escanteio vindo da direita, Sávio quase fez o golaço, com um domínio de peito e chutaço alto, que finalmente morreu no travessão. Um minuto depois, o quase gol bis, outro escanteio da esquerda, outro chute de Sávio. Renato Abreu não conseguiu cortar o chute, que finalmente passou fora. Ainda 1×1 no placar, ainda nada decidido no Fla-Flu.

    Um minuto depois, uma bola longa de Renato Silva para Obina, que fez a finta de chute, o drible seco, mais um drible e uma falta. A torcida comemorou duas vezes, pela falta já perigosa no tempo normal, e porque tinha Renato Abreu no time. O comentarista anunciou: “a falta vai levar perigo porque Renato bate forte”. Não Renato Silva, não Renato Augusto, de falta, só tinha um, Renato Abreu, um ídolo no Flamengo e no Francêsguista. Renato Augusto beijou a bola e a entregou para Renato Abreu. Ele já sabia, como todos nós, eu já fazia parte da Nação. Renato Abreu mudou a forma de bater, não mais com só força, mas com mais efeito, mais colocado. O resultado foi igual, bola na rede, golaço. Flamengo virou com 2 gols de falta de Renato Abreu. Parece um feito único de fazer 2 gols de falta no mesmo jogo, mas não para Renato Abreu, que já tinha alcançado a façanha semanas antes, contra São Caetano.

    Com hora de jogo, Thiago Silva falhou na saída de bola, Juan tocou para Sávio, que com a classe e inteligência dele deixou para Obina livre. Meu primeiro ídolo no Flamengo abriu o pé e fez o gol com a ajuda da trave. Alegria no Maracanã, tenho muita saudade desse Maraca, mesmo sem o conhecer de perto, sinto sua alma no meu peito. Pouco depois, Tuta quase fez o doblete com mais uma cabeçada, que tocou na trave de Bruno antes de ir para fora. E na sequência, o lateral Juan recebeu já na parte do campo do adversário. No estilo dele, passou entre dois defensores, chegou na grande área, fez uma finta para se livrar de mais um zagueiro e cruzou no chão. Obina chegou, decidiu, fez o doblete, fez o tento da goleada, a alegria do Maraca. E foi assim até o fim, quando o juiz apitou o final do jogo. Vitória de virada do Fla, goleada 4×1 do Mengo.

    Depois de 2 anos e meio sem vencer Fluminense, depois de 8 Fla-Flus sem vitória, Flamengo finalmente era o dono do Fla-Flu, o Rei do Rio. Tive que esperar a segunda-feira para conhecer o placar, ver quem fez gol, dois dobletes de dois ídolos meus, Renato Abreu e Obina. Não lembro bem se assisti aos gols, minha memória afetiva acha que sim. Certeza é que como foi “meu primeiro Fla-Flu”, para mim o placar considerado normal do Fla-Flu durante muito tempo foi 4×1, goleada do Mengo, chuva de gols no Maraca, alegria da Nação que faço parte.

  • Jogos eternos #199: Grêmio 2×4 Flamengo 2021

    Jogos eternos #199: Grêmio 2×4 Flamengo 2021

    Eu já escrevi aqui que quando se trata do Flamengo, eu sou de um otimismo feroz. Porém hoje tenho a esperança de um desesperado. O time está atrás no Brasileirão e caiu até no 4o lugar. Na Copa Libertadores, perdeu no jogo de ida contra Peñarol, dentro do próprio Maracanã. E o Tite, logicamente muito contestado pela torcida, vai poupar 12 jogadores contra Grêmio. E mais, Gabigol, já não relacionado contra Peñarol, também não jogaria. A renovação do contrato de Gabigol é “pouco provável” para citar o Marcos Braz, o que eu entendo, e talvez Gabigol até já disputou sua última partida com Flamengo, o que acho um absurdo, ainda mais com tantos desfalques no setor ofensivo. Gabigol segue como ídolo para mim, de tanto que fez pelo Flamengo, de tantos jogos que decidiu.

    O ano agora é 2021, mas o Brasileirão é de 2020, adiado por causa da pandemia do Covid. Já na época, Flamengo não convencia plenamente, corria atrás do líder, o Internacional. Já na época, Gabigol vivia uma relação conturbada com o técnico, Rogério Ceni, que regularmente substituía seu camisa 9. No jogo anterior ao do Grêmio, contra o Athletico Paranaense, Rogério Ceni substituiu Gabigol no meio do segundo tempo e deixou em campo Vitinho, quando o placar era 1×1. Rogério Ceni irritou a torcida, Flamengo finalmente perdeu o jogo e caiu na 3a posição, sete pontos atrás (e uma rodada a menos) do líder, uma situação bem parecida a de hoje.

    No 28 de janeiro de 2021, Rogério Ceni escalou Flamengo assim: Hugo Souza; Isla, Gustavo Henrique, Willian Arão, Filipe Luís; Gerson, Diego, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol. No início do jogo, Hugo Souza defendeu um chute de Alisson, Flamengo reagiu, mas Bruno Henrique chutou para fora. Bem lançado pelo Arrascaeta, Gabigol chutou cruzado, mas faltou força e precisão, Vanderlei defendeu. Ainda não era a vez de Gabigol. Era a vez da lei do ex, Diego Souza foi na finalização de um cruzamento de Alisson e abriu o placar para Grêmio no final do primeiro tempo.

    No início do segundo tempo, de novo Arrascaeta lançou bem Gabigol, que abriu o olho, abriu o pé para cruzar até a segunda trave, Éverton Ribeiro esticou a perna e empatou. Três minutos depois, de novo era a vez de Gabigol, com tabelinha para Gerson, Gabigol recebeu de volta e abriu mais uma vez o pé, agora com um chute diretamente nas redes de Vanderlei. Um golaço de Gabigol, garçom e matador, para virar o jogo. O Flamengo tinha uma quarteto mágico, Bruno Henrique acelerou e tocou atrás para Éverton Ribeiro, que chutou para fora.

    Flamengo tinha um ritmo infernal e o trio também infernal de 2019 voltou a brilhar. Bruno Henrique esperou a ultrapassagem de Gabigol na grande área para o servir, Gabigol esperou o momento certo para o toque simples e certo, para o gol fácil de Arrascaeta. Claro, Gabigol não estava sozinho nesse time, mas decidiu quase sozinho o jogo contra Grêmio, com um gol e 2 assistências em menos de 10 minutos. Gabigol decidiu muitos jogos pelo Flamengo, fez muito pelo Flamengo.

    No final do jogo, Diego Souza fez um golaço de falta e deu um pouco de esperança aos torcedores gremistas, todos na televisão porque a Arena do Grêmio estava de portões fechados, ainda por causa do Covid. Gabigol foi substituído, mas essa vez só no final do jogo. No finalzinho, Vitinho fez ótimo passe para Isla, que fez o quarto gol rubro-negro do dia. Com grande atuação de Gabigol, Flamengo voltava ao segundo lugar da tabela e os torcedores voltavam a acreditar ao título, que aconteceu semanas depois. Aos desesperados, ainda podemos acreditar.

  • Times históricos #29: Flamengo 1999

    Times históricos #29: Flamengo 1999

    O ano de 1999, a última antes dos anos 2000, anunciava, pelo fato do calendário, o fim de uma Era. E foi o caso, de várias maneiras. O ano começou para Flamengo no 20 de janeiro, dia do São Sebastião, padroeiro da cidade de Rio de Janeiro. E o ano começou com Fla-Flu, com volta da geral fechada desde 1995, o ano começou com chuva de gols, com show de Romário, com vitória 5×3, com título. Nada melhor para começar uma temporada que de ganhar o Fla-Flu.

    O ano de 1999 começou oficialmente com o Torneio Rio – São Paulo, torneio prestigioso nos anos 50 e no início da década de 1960, e que voltou nos anos 1990. Hoje não tem mais espaço nem lógica para esse torneio, mas foi legal de voltar a um futebol raiz. Flamengo estreou com derrota contra São Paulo e depois fez um incrível 4×4 contra Botafogo, outro jogo que devo eternizar aqui. Perdeu de novo contra São Paulo e venceu duas vezes o Corinthians, incluindo um 3×0 no Pacaembu, um jogo que é conhecido por um lance só, mas um lance inesquecível, que pode acontecer apenas uma vez, que cada flamenguista tem na memória e na retina: “elástico no Amaral”. No último jogo, Flamengo precisava da vitória contra Botafogo para se classificar na semifinal. Romário quase repetiu o lance único e eterno, com elástico sobre Edimar, mas o chute cruzado em seguida apenas flirtou com a trave. Flamengo dominou o jogo inteiro, abriu o placar com Leandro Machado, mas concedeu o empate nos últimos minutos, com gol contra de Pimentel. Flamengo fechou o grupo com 2 vitorias, 2 empates e 2 derrotas, como Botafogo, com saldo positivo de 3 gols, como Botafogo, mas acabou eliminado por causa de um ataque com menos gols. Cruel, ainda mais no final, Vasco conquistando o Torneio Rio – São Paulo.

    Flamengo estreou na Copa do Brasil com 3×3 contra Botafogo-PB, com 2 gols de Romário, um jogo já eternizado no blog. Também foi a estreia, ou melhor a volta, de um homem, ou melhor um ídolo, que fez história no Flamengo como jogador e depois treinador, o eterno Violino Carlinhos. No campeonato carioca, Flamengo estreou com vitória 3×2 sobre Olaria e lançou a nova camisa, a última de Umbro, fim de uma Era, numa vitória 2×0 contra Bangu, outro jogo eternizado aqui. Romário fez magia na Copa do Brasil com um golaço na Ponte Preta e brilhou demais no campeonato carioca. Na Taça Guanabara, fez 10 gols em 8 jogos, incluindo hat-tricks contra Itaperuna e Friburguense e o gol do título contra Vasco, mais um jogo eterno no Francêsguista. No Maracanã neste dia, tinha 96.681 pagantes e mais de cem mil presentes. Outro fim de uma Era.

    Três dias depois do título da Taça Guanabara, Flamengo estava de novo em campo, agora na Copa do Brasil, contra Grêmio, de novo com gol de Romário, de novo um jogo eterno aqui. O Baixinho estava numa forma surreal, entre abril e meio de maio, disputou 11 jogos, e em apenas um desses não fez gol. Desde a decisão da Taça Guanabara, Romário começou a exibir mensagens na camisa em baixo do Manto Sagrado, o primeiro contra Vasco foi para a “peace in the world”, depois homenageou Ayrton Senna e as mães, mostrou apoio ao (então) amigo Edmundo, apelou para o fim do uso de armas. A série de gols chegou a um fim depois de um gol contra Palmeiras, na ida das quartas de final da Copa do Brasil. Na volta no Parque Antártica, um mês antes de Palmeiras conquistar sua primeira Copa Libertadores, Romário saiu lesionado e Flamengo foi eliminado de forma traumática, levando 2 gols de Euller nos últimos minutos. Fim da linha, até a vingança.

    Romário voltou para a final do campeonato carioca, contra Vasco, no jogo de volta depois de um 1×1 na ida, gols de Fábio Baiano e Edmundo. Vasco precisava de um empate para ser campeão e Romário voltou a sentir a lesão com apenas 20 minutos de jogo. No segundo tempo, o 0x0 ainda beneficiava o Vasco e na 70a falta, sim 70 faltas no jogo, Rodrigo Mendes cobrou uma falta, agora um pouco esquecida na história do Flamengo porque Petkovic fez ainda mais bonito dois anos depois. Rodrigo Mendes venceu a barreira, o goleiro Germano e toda a torcida vascaína. O Flamengo era campeão carioca e o dirigente do Vasco Eurico Miranda teve que engolir as próprias palavras do início do campeonato, quando falou que sua única dúvida era saber quem seria vice do Vasco. E não sabia, mas Vasco ia ser vice em fila, três vezes vice do Flamengo, por sua vez tricampeão carioca, pela quarta vez. O ano de 1999 também foi o início de uma Era.

    Romário voltou de lesão para a estreia do Brasileirão, sem gol, acontecia também. Dois dias depois, outra estreia do Mengo, na Copa Mercosul, e essa vez o Baixinho brilhou, fazendo os dois gols do Flamengo na vitória sobre Olimpia. Eu já falei que a Copa Mercosul de 1999 foi um dos torneios mais importantes da história da América do Sul, maior do que a Copa Libertadores do mesmo ano. Uma competição com apenas 5 países representados, os mais históricos do continente, e 20 clubes, só gigantes, apenas os maiores de cada país. Flamengo brilhou já na primeira fase, com uma vitória 4×0 contra Colo-Colo, gols de Rodrigo Mendes duas vezes, Romário e Fábio Baiano. O Baixinho era numa fase que durou para ele 20 anos, a fase do artilheiro. No Brasileirão, fazia dobletes: contra o Corinthians, o Botafogo-SP, Vitória, Portuguesa. Muitos gols, muitas vezes até golaços, muitas mensagens na camisa, para a torcida, o pobre e a criança. Nem o assalto que sofreu no mês de setembro, quando bandidos de Rio de Janeiro levaram seu carro, impediu a fase do artilheiro. Menos de um mês depois, Flamengo precisava vencer a Universidad de Chile com 4 gols de diferença para se classificar na fase final da Copa Mercosul. Mais um jogo eterno no Francêsguista e na história do Flamengo, vitória 7×0, com 4 gols de Romário.

    De tanto falar do Romário, parece que era o único jogador do time. Não foi, mas era quase o caso, Romário era o capitão e o líder, ao lado do goleiro Clemer, de um time que parecia ser um sub23: Júlio César (19 anos) no gol, Juan (20 anos), Luiz Alberto (21 anos), Athirson (22 anos) e Fabão (23 anos) na defesa, Rocha (20 anos), Iranildo (22 anos) e Rodrigo Mendes (23 anos) no meio, Lê (20), Reinaldo (20 anos), Caio (23 anos) e Leandro Machado (23 anos) no ataque. Assim, Flamengo oscilou no Brasileirão e vacilou no final, com apenas uma vitória nos últimos 9 jogos. Romário fez o último gol rubro-negro no Brasileirão, na derrota contra Juventude que selou a eliminação rubro-negra.

    Flamengo estava eliminado do Brasileirão, mas tinha fim de outra Era, da Copa Libertadores com apenas 2 times por país. A agora definitivamente maior da América do Sul acolheu 32 times, com 4 (e o campeão Palmeiras) brasileiros. Assim, tinha mais uma vaga e a CBF criou, apenas em 1999, a Seletiva para a Libertadores, para designar o time classificado. Como Flamengo jogava no torneio contra o Internacional, o time ficou concentrado no Rio Grande do Sul depois da eliminação do Brasileirão contra Juventude. E Romário, como fez várias vezes, soltou o momento, saltou o muro, foi se divertir numa boate gaúcha. O presidente rubro-negro Edmundo Santos Silva ficou vermelho e demitiu na hora o Baixinho. Eu acho que foi um erro da diretoria, que se precipitou e agravou uma situação que ainda piorou quando Romário assinou sua volta ao Vasco. Era o fim definitivo de uma Era para Flamengo e Romário, o fim de muitas jogadas de gênio e de muitos gols, 204 em 240 jogos com o Manto Sagrado. Apenas considerando o ano de 1999, foram 48 gols para o Baixinho. Considerando Zico hors-concours, é a maior marca de um jogador do Flamengo durante uma temporada, em igualdade com Nunes, que fez 48 gols em 1981.

    Sem seu maior jogador, o Flamengo se reinventou. A Manto Sagrado pesa mais que qualquer jogador, mesmo esse jogador sendo Romário. Flamengo foi eliminado da Seletiva já no primeiro jogo, mas brilhou na Copa Mercosul, com apenas jogos eternos no Francêsguista. Na semifinal, uma vitória 3×0 sobre Peñarol no Maracanã na ida, e na volta, uma derrota, uma briga, mas uma classificação e uma vingança possível contra Palmeiras depois da eliminação traumática na Copa do Brasil no meio do ano. Palmeiras tinha mais time, mas Flamengo tinha mais raça. Na final, Caio saiu do banco e brilhou na ida, com doblete na vitória 4×3, e ainda fez gol na volta, que acabou num 3×3 eterno, com gol inesquecível de Lê, com título do Flamengo no Parque Antártica. No 20 de dezembro de 1999, o Flamengo era o último campeão de um tempo que não volta mais.

    Era o fim de uma Era e o início de uma outra. Dias antes do título contra Palmeiras, Flamengo anunciou uma parceria com ISL e um contrato de 15 anos, 80 milhões de dólares e ainda mais promessas. O contrato foi votado pelo Conselho Deliberativo, 288 membros em favor, e apenas um contra, Sebastião Aroldo Kastrup, falando de “um contrato um pouco confuso”. Um sócio não-identificado comentou: “Ou Kastrup está completamente errado ou ele é o único certo. Mas só teremos a resposta para essa dúvida daqui a uns dez anos”. Bem, não precisou esperar 10 anos para ver que às vezes alguém pode estar contra todos e mesmo assim ter razão. Mas isso é outra história…

  • Jogos eternos #198: Flamengo 3×0 Peñarol 1999

    Jogos eternos #198: Flamengo 3×0 Peñarol 1999

    Flamengo volta hoje na mais bela de todas, a Copa Libertadores. O adversário é um dos mais gigantes da América do Sul, o Peñarol. Escrevi há pouco sobre o jogo de volta na Copa Mercosul de 1999, contra Peñarol, que acabou com pancada e derrota do Flamengo, mas classificação do Flamengo, que tinha feito a diferença na ida. Vamos então para hoje no jogo de ida.

    Na Copa Mercosul de 1999, Romário brilhou na primeira fase, 2 gols contra Olimpia, um gol no 4×0 sobre Colo-Colo e mais 4 na goleada 7×0 contra o Universidad de Chile, um jogo eterno no Francêsguista. Ainda fez um contra Independiente, nas quartas de final. Romário brilhou em campo e brigou com a diretoria fora. Fez festa no Rio Grande do Sul e acabou dispensado do clube, depois de 240 partidas e 204 gols com o Manto Sagrado. Merecia um final mais feliz, merecia jogar uma grande final com Flamengo.

    Flamengo andava desfalcado de seu maior jogador, mas tinha uma semifinal continental a jogar. Em 2024, tem que buscar a classificação mesmo sem o artilheiro do ano, Pedro. É o momento em que a camisa pesa mais que qualquer outra coisa. No 25 de novembro de 1999, o eterno Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Maurinho, Célio Silva, Juan, Athirson; Leandro Ávila, Marcelo Rosa, Fábio Baiano, Iranildo; Reinaldo, Leandro Machado. A torcida parecia sentir a saída de Romário e apenas 6.709 pagantes foram ao Maracanã.

    No início do jogo, o goleiro Clemer falhou, mais uma vez, e Pacheco quase abriu o placar, mas seu chute apenas flirtou com a trave. Flamengo reagiu, Iranildo chutou um pouco em cima do travessão, o juiz não marcou pênalti, o goleiro uruguaio defendeu um voleio de Leandro Machado. Bandeirinha marcou impedimento inexistente depois de dois bons dribles de Iranildo, Rodrigo Mendes chutou para fora. Flamengo estava perto do gol e a coisa piorou para o Peñarol. Marcelo de Souza fez duas entradas criminosas e foi expulso na metade do primeiro tempo.

    Cinco minutos depois, o juiz marcou pênalti em favor do Flamengo. Leandro Machado, um centroavante bem diferente de Romário mas de qualidade também, provocou a falta e fez o pênalti, batendo firme no canto do goleiro Claudio Flores. No final do primeiro tempo, o lateral-esquerdo Athirson cruzou, Leandro Machado desviou de cabeça para a segunda trave e o chute cruzado, preciso e potente do lateral-direito Maurinho. Flamengo fazia mais um para a alegria do pequeno publico do Maracanã, órfã de Romário, mas não da comemoração de um gol do Flamengo.

    No segundo tempo, Flamengo continuou a dominar, mas Flores impediu duas vezes o doblete de Leandro Machado. Sem Romário, outro xodó da torcida entrou em campo, Caio, que quase fez o golaço. Caio passou para Fábio Baiano, que dominou e fez o passe de cobertura, para completar tabelinha alta na grande área. De primeira, Caio tentou o chute em cima do goleiro, mas Claudio Flores defendeu mais uma vez.

    Caio não foi o artilheiro, foi o garçom, para outro jogador que saiu do banco, que seria o grande herói do título um mês depois contra Palmeiras, Lê. Caio achou no meio da defesa Lê, que abriu o pé para fazer o terceiro gol do jogo. Flamengo ainda teve chances de fazer o quarto gol, sem fazer. A vantagem já era boa, suficiente para chegar, mesmo com derrota, na final. E no final, Flamengo, mesmo sem seu maior artilheiro, foi o grande campeão.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”