Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #172: Flamengo 5×2 Fluminense 1972

    Jogos eternos #172: Flamengo 5×2 Fluminense 1972

    Ainda sem jogo do Flamengo esse meio de semana, fica para nós o passado, os jogos eternos. E para a crônica #172, volto ao ano de 1972, com o clássico mais charmoso no futebol, o Fla-Flu, que começou 40 minutos antes do nada, se eternizou com as escritas de Mário Filho e as jogadas de tantos futebolistas, alguns dentro dos maiores da história, outros quase esquecidos.

    Em 1972, Zico já tinha estreado no time principal, um ano antes, mas com a chegada de Zagallo no banco, voltou no time dos juvenis e fez apenas 8 jogos com o time principal durante o ano de 1972. Fala o próprio Zico no livro Zico, 50 anos de futebol, de Roberto Assaf e Roger Garcia: “Quando o Zagallo chegou, em 1972, eu fazia parte do plantel e ele me disse: ‘Eu não vou contar com você, se você quiser ficar treinando, você fica, se quiser voltar para os juvenis, volta’. Eu disse-lhe que tinha contrato com o Flamengo e que ia ficar, desde que não me mandassem embora. Mudava de roupa, às vezes nem treinava, não participava de nada. Eu poderia ter saído por causa do Zagallo. E só permaneci em atividade mesmo porque o Antoninho apareceu na Gávea pedindo para eu jogar no juvenil. O Zagallo de fato raras vezes me solicitou, e quando o fez, me botava 15, 20 minutos, fora da minha posição, na ponta-direita, no meio-campo, na ponta-esquerda”.

    Tricampeão do mundo em 12 anos, o futebol brasileiro era o maior do mundo, e com o quase fim da Era Pelé em São Paulo, o futebol carioca parecia estar na frente. Botafogo, que perdeu um ano antes o campeonato carioca de forma dramática, ainda era o favorito, com os tricampeões do mundo Jairzinho e Brito e a volta de Roberto Miranda depois de uma passagem sem brilho no Flamengo. O último campeão, Fluminense, também tinha seus campeões do mundo, Félix e Marco Antônio, além de um meio de campo com Didi (não o Príncipe Etíope mas outro grande jogador) e Denílson, e no ataque o herói do título de 1971, Mickey. O Vasco conseguiu a contratação de Tostão e até os pequenos podiam contratar gigantes, no Olaria chegou Garrincha.

    Mesmo sem Zico, Flamengo tinha um grande time. Em 1972, um ano histórico no Francêsguista, Flamengo contratou o grande craque do botafogo, Paulo César Lima Caju, e teve a volta do craque argentino Doval. O gringo chegou no Flamengo em 1969 e sofreu com as escolhas táticas do técnico Yustrich. Depois de dois anos sem muito destaque, voltou na Argentina onde foi emprestado ao Hurrácan, treinado pelo César Luis Menotti. Jogou bem e voltou no Flamengo em 1972, agora com Zagallo no banco. Flamengo começou a temporada de 1972 com um jogo eterno contra Benfica e conquistou o Torneio Internacional de Rio de Janeiro, Paulo César Lima fazendo o gol do título contra Vasco. Começou aqui o trio Paulo César Lima – Doval – Caio. Até o Fla-Flu decisivo, Flamengo fez 30 gols, sendo 12 de Doval, 9 de Caio e 6 de Paulo César Lima. Ou seja, sobrou apenas 3 gols para os outros jogadores!

    Flamengo disputou a Taça Guanabara, instaurada em 1965. Mas pela primeira vez em 1972, a Taça Guanabara era o primeiro turno do campeonato carioca, e não mais uma competição à parte. Com seu trio de ouro, Flamengo conquistou 8 vitórias e fez apenas 2 empates, contra Olaria na estreia e depois contra Botafogo. Flamengo chegou na última rodada ainda invicto, contra Fluminense, também invicto, também com 8 vitórias e 2 empates. O Fla-Flu valia título. O técnico Zagallo, com ainda todo o brilho do tricampeonato com a Seleção e do campeonato carioca 1971 com Fluminense, falou que nunca perdeu uma decisão. O goleiro tricolor Félix respondeu que nunca perdia contra Flamengo. O Fla-Flu era eterno antes do apito inicial.

    No 23 de abril de 1972, Zagallo escalou Flamengo assim: Renato; Aloísio, Fred, Tinho, Rodrigues Neto; Liminha, Zé Mario; Rogério, Caio, Doval, Paulo César Caju. Flamengo tinha a ausência do zagueiro paraguaio Francisco Reyes quando Fluminense era desfalcado de Lula. O Fla-Flu lotou o Maracanã, com 137.002 torcedores, que cantaram a última marchinha da Mangueira, Carnaval dos Carnavais. O ditador Médici, presente da tribuna de honra, aplaudiu de pé. Já antes do jogo, o Maracanã vibrava, com sua geral, suas bandeiras e seus foguetes, seus cantos. Era dia de Fla-Flu, era dia de futebol.

    Fluminense teve o primeiro lance de perigo e Flamengo teve o primeiro gol. Aos 11 minutos, o volante Liminha chutou cruzado e abriu o placar. Festa no Maraca, festa no Rio. Oito minutos depois, num escanteio, Caio matou a bola de peito, matou as redes tricolores de pé esquerdo. Um golaço e uma comemoração icônica, Caio fez 3 cambalhotas antes de abraçar a geral, de se eternizar no Fla-Flu, de ganhar o apelido que quase virou nome, Caio Cambalhota. E dez minutos depois, o grande Paulo César Caju, no seu estilo driblador e espetacular, venceu dois adversários, chutou mas o goleiro Félix defendeu. Caio Cambalhota, já era o nome, chegou, voleiou, golaçou mais uma vez. E cambalhotou de novo, na doce e barulhenta explosão de felicidade da geral. No intervalo, Fla 3×0 Flu, o troféu quase nas mãos rubro-negras.

    No segundo tempo, Doval fez o quarto gol do Flamengo e começava a se eternizar como ídolo e craque do futebol carioca, depois brilhou também com a camisa da vítima do dia. Com gols de Jair, não o craque do Botafogo, presente neste dia no Maracanã como simples espectador e admirador do futebol carioca, e de Mickey, Fluminense voltou ao 4×2, voltou a ameaçar o título que já pertencia ao Flamengo. E Caio apareceu mais uma vez. Caio nasceu numa família de 3 jogadores de futebol, é irmão de Luisinho Lemos e César Maluco, começou no Botafogo e se eternizou no Flamengo com um jogo só, o Fla-Flu da Taça Guanabara. No finalzinho do jogo, Caio chegou na grande área, fez o terceiro dele e não teve outro jeito, fez 3 cambalhotas na frente da geral, definitivamente e imensamente feliz.

    O Flamengo era o campeão e o escritor tricolor Nelson Rodrigues devia se render ao talento de Caio: “Esse rapaz veio ao mundo para marcar os 3 gols de ontem, um dos quais uma obra-prima de concepção e execução. O gol, para Caio, não é apenas um esforço, não é apenas uma habilidade, não é apenas um apetite. É uma tara. Eis tudo: Caio tem a luminosíssima tara do gol”. Flamengo vencia 5×2 com 3 gols do agora eterno Caio Cambalhota e também grande jogo dos craques Doval e Paulo César Lima Caju. Flamengo era o campeão, Fluminense o derrotado, e para acalmar a torcida tricolor, o vice-presidente do clube anunciou a chegada iminente do craque Gérson. O Canhotinha de Ouro chegou no Fluminense sim, mas no final do campeonato carioca, deu mais uma vez Flamengo no Fla-Flu, mais uma vez Flamengo campeão, com gol do artilheiro e ídolo Doval e outro de Caio Cambalhota, esta vez sem cambalhota, mas sempre com a felicidade da geral.

    Assim, fecho essa crônica com depoimento do jornalista argentino Manolo Epelbaum ao Roger Garcia: “ Na vida de Doval nunca foi nada exagerado. Dessa partida, lembro que, coincidentemente, se encontrava no Rio o jornalista argentino Pedro Uzquiza, ao qual convidei para assistir a esse Fla-Flu, que se equivalia a um River Plate x Boca Juniors, mas com uma moldura de 150 000 espectadores […] Lembro que Liminha, um volante com pouca chegada ao gol, abriu a contagem e que depois Caio, que em seguida receberia o apelido de ‘Cambalhota’ de forma definitiva, marcou em três oportunidades, e Doval também marcou o seu. Pedro Uzquiza, o colega do Clarín, não saía de si ao finalizar a partida e seu entusiasmo, a par do meu, foi vertido nas páginas, tentando dar uma imagem real da emoção que somente um Fla-Flu com Flamengo vitorioso pode oferecer”.

  • Jogos eternos #171: Flamengo 3×0 Costa do Marfim 1988

    Jogos eternos #171: Flamengo 3×0 Costa do Marfim 1988

    Sem jogo do Flamengo esse fim de semana eu vou aproveitar da data de hoje, 14 de julho, festa nacional na minha França e dia de finais continentais, a Eurocopa e a Copa América, para escolher um jogo de festa, entre Flamengo e uma seleção nacional, a Costa do Marfim. O jogo serviu para festejar o tetracampeonato brasileiro do Flamengo, polêmico mas legítimo.

    Eu escrevi sobre os detalhes do Brasileirão 1987 na crônica sobre o time histórico de 1987, então não vou repetir isso aqui, apenas que eu considerar o Flamengo campeão brasileiro de 1987 não se trata de um clubismo de minha parte. Para mim, o que vale é o reconhecimento da entidade que organiza o torneio, no caso o Clube dos Treze. Assim, o Flamengo foi tetracampeão brasileiro em 1987, como considero o Corinthians campeão mundial em 2000 e o Atlético Mineiro, mesmo que discordo com a decisão, campeão brasileiro de 1937. O Palmeiras fica sem mundial.

    No 20 de janeiro de 1988, um mês depois de Flamengo ser campeão em campo contra o Internacional, o vice-presidente da CBF, Nabi Abi Chedid, confirmou para quatro dias depois o cruzamento entre os módulos verde e amarelo por causa do liminar do juízo federal de Pernambuco. Vale a pena lembrar que no seu artigo 48 a FIFA proíbe os clubes de recorrer a justiça comum, como fez o Sport. Assim, Flamengo foi campeão em campo, Sport no tribunal. Vale a pena também destacar a atitude do Internacional, que podia ter aproveitado da confusão para jogar o cruzamento e ser considerado campeão pela desacreditada CBF. Mas na época, menos a CBF, a justiça pernambucana e os idiotas do clubismo cego, todo mundo sabia quem era o verdadeiro campeão brasileiro.

    Assim, no 24 de janeiro, em vez de afrontar o Guarani no Brinco de Ouro – o local foi trocado na última hora para escapar de uma viagem inútil ao Maracanã, o Flamengo recebeu a Costa do Marfim numa Gávea em festa, com 5 mil torcedores. No preliminar, a participação em campo de algumas celebridades, alguns tricolores, como Chico Buarque e Evandro Mesquita, ambos vestiram o Manto Sagrado. “Hoje é festa, vale tudo” falou Chico Buarque. Com bateria e Evandro Mesquita falando de um Flamengo “supercampeão legítimo”, os jogadores do Flamengo receberam as faixas de campeões brasileiros e ofereceram faixas aos vencedores de outros títulos do Flamengo. Assim, Renato Gaúcho ofereceu uma faixa ao Valido, herói do tricampeonato carioca em 1944 com gol no jogo eterno contra Vasco. O Flamengo era gigante, era multicampeão, era tetracampeão brasileiro.

    Antes do jogo, Zico falou sobre a pena dos jogadores do Guarani de ser obrigados a ir em campo para tentar conquistar um campeonato ilegítimo. Na Gávea, local da verdadeira festa, Carlinhos escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Jorginho, Leandro, Edinho, Leonardo; Andrade, Aílton, Flávio; Zinho, Alcindo, Renato Gaúcho. Mesmo sem Zico em campo, um timaço, uma seleção, um campeão brasileiro. E no início do jogo, Renato Gaúcho, principal nome do tetracampeonato ao lado de Zico, ganhou a bola de um zagueiro, chegou na área, cruzou e o outro zagueiro cometeu o pênalti com uma mão bem evitável. Na cobrança, Andrade foi perfeito e deixou Flamengo na frente no placar.

    O caráter amistoso do jogo era evidente, a superioridade do Flamengo também. Aílton deu um passe lindo no espaço para Jorginho, que também foi bonito na finalização. Flamengo 2×0, e no segundo tempo, Flávio, pouco antes de ser expulso, fez o terceiro e último gol do jogo. Flamengo vencia fácil, a torcida invadiu o campo no som da bateria, a festa era completa. Enquanto isso, sem atenção da mídia ou do público, Sport e Guarani podiam jogar o cruzamento de um lado só, já que o Modulo Amarelo acabou num vergonhoso 11×11 nos pênaltis na Ilha do Retiro. Repito, ninguém ligava, o campeão brasileiro era rubro-negro, morava no Rio, era Flamengo.

  • Jogos eternos #170: Flamengo 3×0 Ferroviário 1982

    Jogos eternos #170: Flamengo 3×0 Ferroviário 1982

    Na última vez que Flamengo jogou contra Fortaleza no Maracanã, escrevi uma crônica sobre a goleada 8×0 de 1981, com 5 gols de Nunes na ausência de Zico. Antes do jogo de hoje, fico no mesmo período, volto com Zico, troco de adversário cearense, o Ferroviário. Fundado em 1933, o Ferroviário é eneacampeão cearense, joga agora na Série C e tem o São Paulo FC com inspiração no escudo.

    No Brasileirão de 1982, no início do ano, Flamengo começou justamente contra São Paulo, um jogaço já eternizado no blog, com vitória do Flamengo de virada. Depois, Flamengo venceu Náutico, também de virada, e goleou Treze 5×0. Zico já estava em grande forma, marcando nos 3 jogos, com 5 gols no total. No 31 de janeiro de 1982, Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Popéia, Edson, Nunes.

    Com 11 minutos de jogo, Edson cruzou alto, do outro lado Popéia impediu a bola de sair e fez o passe par Nunes, que cruzou. De cabeça, Zico fez o gol. Com 10 minutos de jogo, agora no segundo tempo, um escanteio para Flamengo. Bola foi no meio da grande área, no pé de Andrade, bola ficou duvidada. De pé esquerdo, Zico fez o gol. Sempre me impressionou com a capacidade de Zico de combinar a habilidade do craque e a combatividade do jogador comum, de sempre acreditar na bola, acreditar no gol.

    Dois minutos depois, mais uma alegria para o Maracanã e suas 30.064 almas do dia. Uma jogada típica do Flamengo desta época, escanteio curto de Nunes para Adílio, que devolveu a Nunes. Para escapar do zagueiro, Nunes jogou em um toque só, no espaço, para Júnior. Com a experiência do futebol de areia e o talento natural, Júnior levou a bola, bicicletou. Do pé direito, Zico fez o gol. Flamengo 3×0 Ferroviário, com 3 gols de Zico.

    Adoro o hat-trick “perfeito”, um gol de cabeça, um do pé esquerdo, um do pé direito, para mostrar toda a capacidade de Zico, um dos jogadores mais completos da história. Ainda mais, 3×0 foi o placar final, para dar uma impressão ainda mais forte de perfeição. Talvez só não ter um gol de falta impede a perfeição mais pura. Aconteceu uma outra vez uma vitória 3×0 com 3 gols de Zico, por coincidência contra um time com um nome quase igual, a Desportiva Ferroviária, no Brasileirão de 1980. Deixo esse jogo para um outro dia, fico hoje com a perfeição de Zico.

  • Jogos eternos #169: Flamengo 2×0 Nacional 2008

    Jogos eternos #169: Flamengo 2×0 Nacional 2008

    De novo, utilizo a Copa América e a Seleção brasileira na hora de escolher o jogo eterno do dia. Antecipo pela última vez. Antes do Brasil x Uruguai, um jogo entre Flamengo e o Nacional uruguaio na Copa Libertadores de 2008.

    Eu escrevi na última crônica dos times históricos que foi realmente em 2007 que comecei a acompanhar de mais perto o Flamengo, mesmo com 10.000 quilômetros de distância. Ainda sem IPTV nem streaming, eu nunca faltava de assistir aos melhores momentos do jogo no dia seguinte, particularmente na Copa Libertadores e seus horários anti-europeus. Em 2008, assistia pela primeira vez ao Flamengo na Copa Libertadores, já sabia de toda a importância do torneio por ter assistido as campanhas do São Paulo de Rogério Ceni e depois do show de Riquelme na Copa Libertadores de 2007.

    Eu acho que sempre fui flamenguista na alma. Nunca me tornei flamenguista, eu nasci assim, rubro-negro pronto. Apenas passei a conhecer melhor o time, os jogadores, o estádio, a história, com a velocidade de uma arrancada de 2007. Finalmente, chegava a mais bela de todas, a Copa Libertadores. Flamengo começou a fase de grupos com uma vitória, um empate e uma derrota, contra o próprio Nacional, um duro 3×0. Duas semanas depois, Flamengo precisava de uma vitória para continuar a acreditar ao bicampeonato.

    No 19 de março de 2008, o técnico Joel Santana escalou Flamengo assim: Bruno; Luizinho, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Juan; Cristian, Kléberson, Ibson, Renato Augusto; Marcinho, Souza. Eram outros tempos do futebol sul-americano, um futebol mais nacional, um técnico brasileiro, escalando 11 jogadores brasileiros, apenas o argentino Maxi Biancucchi saiu do banco. Do lado do Nacional, também um técnico uruguaio, utilizando 13 jogadores, também um argentino e 12 uruguaios. Era um Brasil x Uruguai no Maracanã. E, se hoje o Brasil é desfalcado de meu maior ídolo na atualidade, Vinícius Júnior, em 2008 faltava um outro ídolo meus (na época), Léo Moura, expulso no jogo de ida.

    Tinha também um convidado especial para o jogo, o Galvão Bueno, que raramente narrava jogos dos times brasileiros na época e que deixava esse jogo ainda mais particular. Confesso que na época não sabia todo o peso que tinha Galvão Bueno na história do futebol brasileiro, mas adorava os comentaristas brasileiros, muito diferente do que se faz na Europa. E mais, tinha o Maracanã, que viveu um de seus melhores períodos entre 2007 e 2009. Mesmo que eu me tornasse um Machado de Assis ou um Armando Nogueira rubro-negro, me faltaria palavras e poesia para descrever o quanto é bonita a torcida flamenguista, quanto ela é diferente, especial, foda. Antes do jogo, o canto “eu sempre te amarei”, de poucos meses, mas já icônico, um espetáculo de sinalizadores, bandeiras e fumaça, a alma do Flamengo. Eu sempre te amarei.

    Com 15 minutos, Bruno, de camisa amarela à la Plassmann, fez dupla defesa para preservar o 0x0. Dez minutos depois, o jovem Renato Augusto lançou Marcinho, que cruzou, ganhou o escanteio. O desconhecido Luizinho cobrou o escanteio, bola alta, disputa no ar, Ronaldo Angelim cabeceou, Fábio Luciano também, bola sobrou, Marcinho dominou de barriga, chutou, goleiro parou, Marcinho driblou de vaca, chutou de novo, finalmente fez o gol. O Maracanã explodiu, suas 50 mil almas voavam levemente, alegremente, apaixonadamente. O Galvão Bueno apagava a voz para deixar a torcida cantar o mais bonito, o mais forte possível, seu amor ao Flamengo.

    Antes do intervalo, de novo o desconhecido Luizinho, que tabelou com Souza e fez o passe atrás para a chegada de Ibson. Bola foi desviada, tremeu o travessão, moveu a torcida. No segundo tempo, ainda Luizinho, já não tão desconhecido, o lateral-direito cruzou, o lateral-esquerdo Juan cabeceou, de novo na trave. Mas Marcinho chegou, cabeceou, dobletou para a felicidade do Maracanã e de sua quase geral, de cadeiras sim, mas torcida de pé, perto do campo, ainda com alma de Flamengo raiz e cara do povo. O Marcinho podia torcer a camisa e o escudo rubro-negro, a torcida estava feliz. Marcinho ainda teve a chance de triplicar, mas bola passou perto da trave, fora do gol. Sem consequências, Flamengo ganhava o jogo, seguia vivo na Libertadores.

    Na semana seguinte, Marcinho confirmou com um gol contra Cabofriense e mais um doblete contra Friburguense. Quem assistiu a essa época se alegrou com Marcinho, até se enganou. Adorava esse jogador, de velocidade, de drible, de ousadia, com ADN do futebol brasileiro. Infelizmente, saiu do Flamengo ainda no meio do ano de 2008 para o Qatar. Com o Manto Sagrado, foram apenas 38 jogos e 17 gols, e muitos, muitos dribles. Marcou uma curta mas saudosa época, em que o Maracanã ainda era a alma do futebol carioca e Flamengo seu maior orgulho.

  • Jogos eternos #168: Atlético Mineiro 0x1 Flamengo 2018

    Jogos eternos #168: Atlético Mineiro 0x1 Flamengo 2018

    Eu vou continuar a aproveitar da Copa América e da Seleção brasileira para escolher a crônica do dia dos jogos eternos. Ontem, a Seleção se classificou sem brilhar e vai afrontar nas quartas de final o Uruguai de Arrascaeta, de la Cruz, Viña e Varela. Sem otimismo para mim, ainda mais que o Brasil vai ser desfalcado de seu maior craque, de meu maior ídolo no time, Vinícius Júnior. E Vini, desde o início da carreira, tem o poder de ser decisivo.

    Vinícius Júnior começou a carreira em maio de 2017 na estreia do Brasileirão, contra o próprio Atlético Mineiro. Não tardou a brilhar com o Manto Sagrado, muitas vezes saindo do banco, como foi o caso no Fla-Flu da Copa Sudamericana, talvez o jogo mais emocionante que assisti no Maracanã. Em 2018, se firmou ainda mais, agora como titular, continuou a brilhar, como no jogo contra Emelec na Libertadores. Flamengo começou bem o Brasileirão com 3 vitórias, 2 empates e 1 derrota antes do jogo contra o Atlético Mineiro.

    Se hoje Flamengo vai jogar pela primeira vez na Arena MRV, o palco de 2018 era um estádio bem antigo, o Independência. E no 27 de maio de 2018, Maurício Barbieri escalou Flamengo assim: Diego Alves; Rodinei, Thuler, Léo Duarte, Renê; Jonas, Lucas Paquetá, Diego; Éverton Ribeiro, Vinícius Júnior, Henrique Dourado. Um time ainda em formação, mas que não parava de melhorar, de se aproximar dos títulos.

    O jogo era o choque da rodada, o Atlético Mineiro líder com 13 pontos, Flamengo vice-líder com 11 pontos. No primeiro tempo, Flamengo teve os dois primeiros lances de perigo, mas depois foi só o Atlético Mineiro, ou quase. O Atlético Mineiro e Diego Alves, defendendo tudo, até salvo pelo travessão numa cabeçada de Róger Guedes. Antes do intervalo, de contra-ataque, Vinícius Júnior tentou o gol de cobertura, mas Vítor defendeu.

    No segundo tempo, de novo o Galo no ataque, no começo com chutes fora do gol. Depois, com bola defendida pelo Diego Alves numa tentativa de Gustavo Blanco. O Atlético Mineiro pressionava, Flamengo resistia, até os dez minutos finais e mais um contra-ataque de Vinícius Júnior. A velocidade é mortal, imparável, o garoto do Ninho driblou Emerson Royal e fez o passe para Éverton Ribeiro, que chegou para empurrar a bola nas redes, para fazer o gol da vitória. Graças a mais um lance decisivo de Vinícius Júnior, seu último com o Manto Sagrado antes da ida no Real Madrid, Flamengo vencia em BH, Flamengo era o novo líder.

  • Jogos eternos #167: Flamengo 7×1 Deportes Tolima 2022

    Jogos eternos #167: Flamengo 7×1 Deportes Tolima 2022

    Hoje a Seleção brasileira joga contra a Colômbia para confirmar a vaga nas quartas de final da Copa América. Vamos então para o jogo eterno do dia de um encontro contra time colombiano, nas oitavas de final da Copa Libertadores. Na época, há quase exatamente dois anos, Flamengo tinha vencido 1×0 na ida e faltava confirmar a classificação no Maracanã.

    E tem outra similitude, no banco do time brasileiro tinha Dorival Júnior. No Flamengo, tinha estreado menos de um mês antes, com um retrospecto que ainda deixava a convencer: três vitórias e três derrotas. No 6 de julho de 2022, Dorival Júnior escalou Flamengo assim: Santos; Rodinei, Léo Pereira, David Luiz, Filipe Luís; Thiago Maia, João Gomes, Éverton Ribeiro, Arrascaeta; Gabigol, Pedro. Destaque para a dupla Pedro – Gabigol, que acho que pode funcionar em alguns jogos, embora não tenho mais esperanças.

    No Maracanã, com apenas 4 minutos de jogo, Flamengo confirmou a vantagem do jogo de ida. Passe de Arrascaeta, chute cruzado de Pedro, alegria dos 61.871 presentes no Maraca. Quinze minutos depois, de novo Arrascaeta para Pedro, só que agora, com um toque de calcanhar de gênio, Pedro achou Gabigol, que chutou no gol, goleiro defendeu, bola voltou nos pés do zagueiro Julian Quinones, que fez o gol contra. No intervalo, a classificação do Flamengo era quase certa.

    Faltava então a goleada para o segundo tempo. E com 2 minutos de jogo, de novo Arrascaeta no início da jogada, bola parada, bola longa, quase na terceira trave. David Luiz cabeceou e deixou a bola na zona de perigo, e Pedro, com toda a inteligência do craque e a experiência do artilheiro, esperou antes de tocar a bola, esperando o momento certo para o gol fácil, depois de um domínio do quadril. Impressionante a habilidade de Pedro e o jeito de usar todo o corpo para fazer o gol.

    Ainda antes da hora do jogo, Éverton Ribeiro perdeu o gol feito e Gabigol fez o gol também do artilheiro, abrindo o pé, abrindo o ângulo, achando a rede. Já era 5×0 em favor do Flamengo, na França já era 7 de julho, já era meu aniversário, e já tinha meu melhor presente possível, show do Flamengo no Maraca, na Liberta. Com brilho no meu olho e sonhos no meu cérebro, já que faltava dois meses antes de eu vir morar no Rio de Janeiro.

    Depois, Quinones se recuperou do gol contra e fez um em favor de Tolima. O final do jogo pertence a um jogador que já tinha brilhado durante a partida: Pedro. Primeiramente, de cabeça, depois de cruzamento de Rodinei, para completar o hat-trick. Depois, com assistência, um toque perfeitamente distilado para o gol de Matheus França, que tinha acabado de entrar. E finalmente, o gol do 7×1, finalmente feliz, Gabigol repetiu o chute que tinha feito no gol dele durante o jogo, mas goleiro defendeu, parcialmente. Pedro chegou, brocou, completou o poker. Assim, Pedro se tornava o primeiro, e até hoje o único, jogador do Flamengo a marcar 4 gols num jogo da Copa Libertadores.

    Pedro já tinha brilhado na Copa Libertadores, inclusive num jogo contra La Calera eternizado aqui, e no Flamengo de maneira geral, mas em 2 anos e meio desde sua chegada no Maior do Mundo, poucas vezes saiu da condição de reserva. Reserva de luxo, mas reserva. Só com Dorival Júnior começou a ser mais vezes titular, sem decepcionar. Hoje, Pedro não vai jogar contra a Colômbia, já que Dorival Júnior não o convocou. Ao meu ver, com certa injustiça, ainda mais que não tem esse perfil no ataque da Seleção. Mas ao meu gosto de rubro-negro, com alegria e satisfação, já que Pedro pode continuar a brilhar com o Manto Sagrado, sonhando com gols e títulos, seja a Copa do Brasil e a Libertadores como em 2022, seja o Brasileirão que Flamengo não levou desde a edição de 2020, já uma eternidade para nós. Mas com o Pedro como artilheiro, a esperança sofredora finalmente pode chegar ao fim.

  • Jogos eternos #166: Flamengo 3×1 Cruzeiro 1977

    Jogos eternos #166: Flamengo 3×1 Cruzeiro 1977

    Flamengo x Cruzeiro é um clássico do futebol brasileiro e tinha várias opções na hora de escolher um jogo eterno. Mas como Cláudio Adão vai completar 69 anos nesta terça-feira, eu vou de um jogo em que ele brilhou, em 1977.

    No Brasileirão de 1977, Flamengo fechou a primeira fase no primeiro lugar de seu grupo, na frente de Fluminense. Na estreia da segunda fase, enfrentou Cruzeiro, já no final do ano. No 4 de dezembro de 1977, o técnico Jayme Valente escalou Flamengo assim: Cantarele; Toninho Baiano, Rondinelli, Nelson, Júnior; Merica, Paulo César Carpegiani, Adílio; Zico, Cláudio Adão, Osni.

    No Maracanã, com público de 79.993 pagantes, Flamengo tomou o primeiro gol, um golaço de falta de Nelinho, um dos maiores batedores de faltas da história, apontado como o maior pelo próprio maior de todos, Zico. Nelinho foi um dos maiores laterais direitos do futebol brasileiro, mas Flamengo, já antes da chegada de Leandro, também estava bem na lateral direita com um jogador que brilhou na Seleção, Toninho Baiano. E numa outra falta, o maior de todos chegou, Zico curvou de três dedos, o futuro goleiro rubro-negro Raul falhou, Toninho Baiano empatou.

    O segundo tempo pertenceu ao Cláudio Adão, que um dia terá a crônica dele na categoria dos ídolos. Vamos então dizer aqui que começou a carreira no Santos, sendo um dos últimos parceiros de Pelé, até apontado como o sucessor de Pelé, obviamente de maneira enganada. Em 1976, teve uma grave lesão, quebrando a tíbia e a fíbula, numa época em que esta lesão era quase sinônimo de fim de carreira. Mas Cláudio Adão voltou, assinou em 1977 com o Flamengo, brilhou com o Manto Sagrado. No jogo contra Cruzeiro, fez 2 gols no segundo tempo, levou Flamengo a vitória de virada. Flamengo fechou a segunda fase no primeiro lugar, mas decepcionou na terceira fase. Cláudio Adão ainda foi um destaque no tricampeonato carioca 1978-1979-1979 Especial antes de assinar no Botafogo em 1980 e no mesmo ano chegou ao Fluminense, conquistando um tetracampeonato pessoal. Foi um dos raros jogadores a jogar nos 4 gigantes do Rio e jogou em vários outros clubes cariocas. Cláudio Adão foi um desses jogadores que honrou o Manto, especialmente nesse jogo contra Cruzeiro de 1977.

  • Jogos eternos #165: Cerro Porteño 2×4 Flamengo 1981

    Jogos eternos #165: Cerro Porteño 2×4 Flamengo 1981

    A seleção brasileira joga hoje contra o Paraguai, eu vou então escolher um jogo do Flamengo contra um time paraguaio. Pouco tempo atrás, escrevi sobre um jogo contra Cerro Porteño na Libertadores 1981 para homenagear Silvio Luiz. Eu vou então hoje para o jogo de volta, no histórico estádio do Paraguai, o Defensores del Chaco. O ano de 1981 do Flamengo muitas vezes rima com Zico, e foi mais uma vez o caso nesse jogo.

    Durante a temporada, o técnico Dino Sani foi substituído pelo Paulo César Carpegiani, que no 11 de agosto de 1981, escalou Flamengo assim: Raul; Leandro, Rondinelli, Mozer, Júnior; Vítor, Adílio, Zico; Tita, Baroninho, Nunes. Com apenas 7 minutos de jogo, Júnior achou no meio de campo Zico, que dominou a bola em direção da parte esquerda do campo, junto com um adversário. Um olho na bola e um olho no campo, vendo a movimentação dos companheiros, em particular o ponta-esquerda Baroninho, que com seu lugar ocupado pelo Zico, pediu a bola na profundidade. Um drible curto, seco, e já um passe perfeito de Zico, no tempo, na precisão, na potência. Baroninho também combinou força e precisão, sem chance para o goleiro, Flamengo já estava na frente.

    O gol do Baroninho foi o único gol do primeiro tempo, mas já no início do segundo tempo, de novo Júnior na construção da jogada, de novo Baroninho na finalização precisa e rasteira, mas o juiz anulou o gol por um impedimento tão mal anulado que dá para colocar em dúvida a sinceridade e boa fé do bandeirinha. Mas tem um Deus do futebol no Céu, e um na Terra: Zico. Cinco minutos depois, com cruzamento de Tita vindo da direita, Nunes deixou em um toque para quem sabia ainda mais de finalização, Zico. O Galinho, com toda a sabedoria do craque, foi esperto. No meio de três defensores, fez a pequena finta, quase uma dança para abrir o espaço, fez o toque leve, de cobertura para deixar a bola fora do alcance do goleiro, para deixar a bola dentro do gol. Golaço.

    E 7 minutos depois, um escanteio curto de Baroninho para Tita. Uma finta para voltar no pé direito e mais um cruzamento de Tita, ídolo do Flamengo, ídolo no Francêsguista. Zico chegou, voleiou, golaçou. O goleiro paraguaio, Roberto Fernández, pai de Gatito Fernández e que também brilhou no Brasil com a camisa do Internacional, foi até substituído. O Cerro Porteño conseguiu fazer um gol, mas era dia de Zico, mais uma vez Zico, sempre Zico.

    Zico não era só maestria no passe, sangue frio na finalização, também era suor na raça. Era o craque-maestro com a humildade do operário. No meio do campo, Zico chegou limpo nos pés do adversário, ganhou a posse de bola. Claro, admiro a genialidade de Zico com a bola nos pés, qualidade comum aos grandes craques, mas também me convence muito a combatividade dele, qualidade do jogador comum, muitas vezes esquecida pelo craque. Zico não, Zico ganhou a bola, que chegou nos pés de Adílio, e Zico, com a objetividade dele, outra característica que me impressiona, já partiu em direção ao gol. O passe de Adílio para Zico foi perfeito, foi de quem se conhece de anos, de coração e de cérebro. E Zico, como sempre, perfeito na finalização, ganhava de outro goleiro, agora Higinio Gamarra, que também jogou no Brasil, também vencido pelo Zico.

    Flamengo derrotava 4×2 o time paraguaio, com uma assistência e 3 gols de Zico, que completava seu 26o hat-trick com o Manto Sagrado, que fazia mais uma vez a alegria da Nação. Numa época onde só o primeiro do grupo passava na fase seguinte, Flamengo seguia vivo, ainda sonhava de conquistar a América para sua primeira participação na Copa Libertadores. Tudo isso muito graças ao maior dos maiores, o Deus do futebol, Nosso Rei Zico.

  • Jogos eternos #164: Flamengo 1×0 Fluminense 2000

    Jogos eternos #164: Flamengo 1×0 Fluminense 2000

    Flamengo joga hoje contra o Juventude no Alfredo Jaconi, onde tem um retrospecto ruim. Dos 15 jogos, ganhou apenas em 1995, um jogo já eterno no Francêsguista, e em 1997, um jogo meio ruim, vencido 1×0 com gol contra. A última crônica foi também de 1997, com vitória no Fla-Flu e depois da vitória de domingo no Fla-Flu com gol de Pedro, fico com o Fla-Flu, fico com Flamengo na liderança, fico com Fluminense na lanterna.

    Já falei na última crônica que espero ver Fluminense cair na segunda divisão, como foi o caso em 1997. Futebol é assim, ver Fluminense numa situação ruim traz uma certeza de felicidade no meu coração. Em 1998, Fluminense ficou ainda pior, caindo na Série C. Essa situação nunca aconteceu antes, e não sei se vai acontecer de novo, parece surreal, como seria surreal de ser rebaixado no ano seguinte de levar a Copa Libertadores pela primeira vez de sua história. Enfim, Fluminense é assim, se recuperou um pouco, vencendo o Brasileirão de Série C em 1999, um troféu que deveria ser escondido na sala do clube. Mas não se livrou de mais uma vergonha em 2000.

    Em 2000, Flamengo e Fluminense começaram a temporada com o Troféu São Sebastião do Rio de Janeiro. A primeira edição aconteceu em 1999, a última em 2000. Um torneio de apenas um jogo, mas que jogo, o Fla-Flu. Dia de jogo, 20 de janeiro, como o dia de São Sebastião, padroeiro da cidade mais maravilhosa do mundo. Um jogo ótimo para começar a temporada, e a primeira edição foi um sucesso, com mais de cem mil pessoas no Maracanã e uma vitória 5×3 do Flamengo, ainda não um jogo eternizado aqui. Era ainda o tempo da geral no Maraca, que tinha acabado de viver um ótimo torneio, o Mundial dos clubes da FIFA, com derrota do Vasco na final. O Maracanã já viu muitas coisas no início do ano de 2000.

    No 20 de janeiro de 2000, o técnico Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Clemer; Pimentel, Fabão, Juan, Paulo Roberto; Leandro Ávila, Maurinho, Lê, Iranildo; Rodrigo Mendes, Reinaldo. Jogo aconteceu numa quinta-feira, com público relativamente modesto para a época, 30.998 pagantes, mais ou menos 40 mil presentes. Antes do jogo, aconteceu o inacreditável, teve uma troca de faixas entre os dois campeões. Acho linda essa tradição do futebol brasileiro, mas olha as conquistas: Flamengo campeão continental, conquistando a Copa Mercosul depois de dois jogos eternos contra Palmeiras, e Fluminense campeão nacional, conquistando a… Série C, contra os poderosos São Raimundo, Serra e Náutico. Até hoje, não entendo como Fluminense aceitou passar uma vergonha assim, exibir tal conquista, esquecendo de se esconder. E minha hilaridade se vê no rosto de Leandro Machado, morrendo de rir ao oferecer a faixa do verdadeiro campeão, receber a faixa do campeão vergonhoso. O Fla-Flu estava ganho já antes do apito inicial.

    E no jogo, a superioridade do Flamengo se confirmou. Jogando com uma camisa toda preta que virou polêmica, Flamengo dominou, sem conseguir fazer o gol no primeiro tempo. No intervalo, muitas substituições, inclusive a entrada de Lúcio no lugar de Paulo Roberto. E no início do segundo, um tapa de qualidade de Iranildo, na profundidade para Reinaldo, com tempo para ajustar o passe na grande área, para Lúcio, com bola no fundo das redes. Clemer ainda defendeu um pênalti, preservou a vitória, conquistou a taça, recebeu a faixa. O Jogo das Faixas está eternizado na história do Fla-Flu, não pelo jogo em si, mas pelo pré-jogo, quando Fluminense passou por mais uma vergonha. Assim, que Lúcio me perdoa, mas prefiro deixar aqui o vídeo não do jogo, mas das trocas, mais uma vez com um largo sorriso no rosto.

  • Jogos eternos #163: Flamengo 2×1 Fluminense 1997

    Jogos eternos #163: Flamengo 2×1 Fluminense 1997

    Hoje, vamos para mais um Fla-Flu, meu clássico favorito no futebol. E com uma particularidade antes do jogo, Flamengo líder, isso não é tão especial, e Fluminense lanterna, isso também já aconteceu. Mas é um choque entre os extremos e Flamengo tem a possibilidade de afundar ainda mais o último campeão da Libertadores – imagina Flamengo ficar na lanterna do Brasileirão em 1982, 2020 ou 2023. Adoro o Fla-Flu, mas torço para viver um Brasileirão sem o Fla-Flu, torço para ver Fluminense cair na segunda divisão. Isso também não será novidade… Ir na Série B também não é só exclusividade do Fluminense, dos gigantes brasileiros, só Flamengo e São Paulo nunca caíram.

    No Brasileirão de 1996, Fluminense ficou na 23a e penúltima colocação e foi rebaixado. Mas, já teve uma primeira virada de mesa, em maio de 1997, o caso Ivens Mendes explodiu, teve suspeitas de corrupção de árbitros, a CBF cancelou o rebaixamento de Fluminense e Bragantino. Para mim sem muitos motivos, já que não foi mostrado que Fluminense foi prejudicado pela escolha dos juízes. Enfim, sem passar na Série B, Fluminense já estava de volta na Série A para o ano de 1997.

    Fluminense começou mal o Brasileirão 1997: 5 derrotas, 4 empates e nenhuma vitória. Antes do Fla-Flu, se recuperou um pouco, ficando 5 jogos invicto, com 2 vitórias e 3 empates. Flamengo também começou mal o Brasileirão com 5 derrotas em 7 jogos e apenas 2 vitórias, uma delas um 4×1 contra Goiás com 3 gols de Romário, inclusive esse jogo é a primeira crônica dos jogos eternos no Francêsguista. E Flamengo também se recuperou antes do Fla-Flu com 2 vitórias contra os mineiros Atlético e Cruzeiro, e um empate sem gol contra Botafogo.

    Mas Flamengo perdeu mais uma vez Romário, voltando de empréstimo ao Valencia. Assim, no 11 de setembro de 1997, Paulo Autuori escalou Flamengo assim: Clemer; Fábio Baiano, Júnior Baiano, Luís Alberto, Gilberto; Jamir, Evandro, Iranildo, Lúcio; Sávio, Renato Gaúcho. Jogo começou como um Fla-Flu bom, com tensão e faltas. E com 15 minutos, o juiz apitou um pênalti para o Flamengo, o goleiro e um defensor puxando Renato Gaúcho, que pouco jogou no Flamengo nesta passagem. Sem ser um idiota da objetividade tão odiado pelo Nelson Rodrigues, que eternizou tão bem o Fla-Flu, acho o pênalti muito severo, ainda mais que o juiz expulsou por reclamação o tricolor Leandro Ávila, que brilhou depois com o Manto Sagrado. Talvez tem uma justiça divina e um Deus do futebol, Sávio chutou o pênalti para fora, o Fla-Flu ainda estava aberto.

    Na sequência, Iranildo deu bom passe para Sávio, que de novo errou. E um minuto antes do intervalo, Fluminense abriu o placar, aproveitando do gol contra de Luís Alberto. “Agora é levantar a cabeça, voltar para o segundo tempo com determinação para virar esse jogo” falou o próprio Luís Alberto no intervalo. Foi falado, só faltava a ser feito. E já no início do segundo tempo, Sávio se recuperou do pênalti perdido e empatou com um belo chute de fora da área. Quatro minutos depois, numa falha da defesa tricolor, Lúcio foi no cara a cara com o goleiro, fez o gol da virada, fechou o jogo. A torcida delirava, o presidente do Portugal, Jorge Sampaio, aproveitava de seu primeiro jogo no Maracanã, o Deus do futebol tinha escolhido: Flamengo era o Rei do Rio, era o dono do Fla-Flu.

    Na sequência, Fluminense não ganhou nenhum dos 6 jogos seguintes e depois de uma última derrota contra Grêmio, caiu de vez na Série B e achava que vivia seu pior ano. Engano, no ano seguinte, foi ainda pior e caiu na Série C. Isso sim, é exclusividade do Fluminense, hoje e para um bom tempo eu espero, lanterna do Brasileirão.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”