
Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.
-
Jogos eternos #162: Flamengo 4×3 Bahia 2020

Hoje, Flamengo joga contra Bahia no Maracanã. Flamengo está no segundo lugar, Bahia no terceiro, ambos com 18 pontos. A expectativa é de um jogaço, como foi o caso em 2020. Na época, com dois terços do campeonato, Flamengo também estava no 2o lugar quando Bahia lutava contra o rebaixamento.
O ano de 2020 foi especial no mundo e no futebol por causa da pandemia de Covid. Depois de meses de paralisação, o futebol voltou, ainda sem público. Teve muitos jogos sem sal nem doce, mas o Flamengo x Bahia não foi um deles. No 20 de dezembro de 2020, Rogério Ceni, inclusive hoje técnico do Bahia, escalou Flamengo assim: Diego Alves; Isla, Rodrigo Caio, Natan, Filipe Luís; João Gomes, Gerson, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol.
Com apenas 5 minutos de jogo, já um golaço rubro-negro. No contra-ataque, Bruno Henrique acelerou na esquerda e bem no estilo dele, fez o golaço. Cortou no meio, abriu o pé e achou a gaveta no outro canto. Flamengo estava na frente mas se complicou, com apenas 10 minutos de jogo, Gabigol foi expulso por xingamento contra o juiz.
Com um jogador a mais, Bahia passou a dominar o jogo, mas Diego Alves fez grande defesa, impedindo o gol de Nino Paraíba. Diego Alves ainda defendeu um chute de Gilberto, Bahia continuava dominar, sem marcar. E Flamengo fez o segundo, Bruno Henrique, antes artilheiro, virou garçom, ganhou a dividida com Juninho e com inteligência fez o passe atrás para Isla, que abriu bem o pé para colocar a bola fora do alcance do goleiro. Os dois times ainda tiveram lances de perigo no primeiro tempo, o chute de Ramírez flirtou com a trave de Diego Alves, Bruno Henrique chutou de nas mãos de Douglas depois de fazer dançar mais uma vez Juninho com uma série de dribles impressionantes. Bruno Henrique perdeu outro gol no tempo adicional e Flamengo voltou aos vestiários com 2 gols a mais, uma boa vantagem considerando a fisionomia do jogo.
Uma boa vantagem, porém não suficiente. O Flamengo de Rogério Ceni era um ótimo time, mas fraco defensivamente. Nos 15 primeiros minutos do segundo tempo, levou 3 gols, levou a virada. A vitória parecia agora certa para Bahia, que vinha de 4 derrotas consecutivas. Mas mesmo sem torcida no estádio, Flamengo era um time de superação, jogando por milhões, presentes nos quatro cantos do mundo. Faltando 10 minutos para o apito final, uma triangulação entre Filipe Luís, Gerson e Bruno Henrique, que com um passe sensacional, de trivela, de primeira, achou de volta Filipe Luís na grande área. O lateral cruzou, Pedro chegou, e no estilo dele, só dele, fez o gol de peito para empatar o jogo.
Mas Flamengo queria mais, queria a vitória, queria a contra-virada. No último minuto, Bruno Henrique, ainda ele, mais uma vez ele, mais uma vez de três dedos, para Pedro, outro jogador diferente. Já antes de receber a bola, Pedro viu a movimentação de Vitinho, e com um toque só, um doce de calcanhar, deixou Vitinho livre para fazer o gol da vitória. Cinco dias antes do Natal, Flamengo e Bahia ofereciam um presente antecipado para quem estava na frente da televisão e respirava rubro-negro ou apenas respirava futebol. Flamengo ainda estava no segundo lugar, mas com apenas dois pontos a menos que São Paulo e um Flamengo x São Paulo na última rodada, dependia só de si (e no final, da ajuda salvadora de Cássio) para ser campeão.
-
Ídolos #34: Kléberson

Hoje é o aniversário de Kléberson, pentacampeão do mundo. Não é da primeira turma dos ídolos do Flamengo, mas “honrou o Manto” e merece a crônica dele na categoria dos ídolos. José Kléberson Pereira nasceu no 19 de junho de 1979 em Uraí, Paraná. Começou no PSTC, time de Londrina, e chegou num dos gigantes do Paraná, o Athletico Paranaense. Jogador polivalente, Kléberson se destacou no Brasileirão de 2001, onde o Furacão foi campeão e ele vencendo a Bola de Prata, quando foi nomeado pelo Placar no time ideal do Brasileirão.
Suas boas atuações o permitem de chegar na Seleção brasileira, onde tinha as características ideais para se encaixar na chamada “Família Scolari”. Estreou no início de 2002 com goleada 6×0 contra a Bolívia, e já com um gol para ele num chute rasteiro. Ainda participou de alguns amistosos e foi para a Copa de 2002, mas começou o torneio no banco. Depois, com características diferentes de Juninho Paulista, teve oportunidades contra o Costa Rica, no terceiro jogo da fase de grupos, e contra a Bélgica, nas oitavas de final, ainda saindo do banco. Foi ali que descobri Kléberson. Eu tinha 10 anos e já estava apaixonado pelo Brasil, torcendo loucamente pelo penta. Gostava de Kléberson e fez um grande jogo contra a Bélgica, aliás um jogaço. Entrando no lugar de Ronaldinho, percorreu 50 metros na ala direita e fez a assistência para o segundo gol do jogo, marcado pelo Ronaldo Fenômeno. Não só eu que gostei, Felipão também gostou e efetivou Kléberson no time titular.
Agora titular, Kléberson fez outros bons jogos, provocou a falta eternizada pelo Ronaldinho Gaúcho contra a Inglaterra e quase marcou na final, com um chutaço no travessão de Kahn antes do intervalo. E como contra a Bélgica, participou do segundo gol do jogo final, de novo marcado pelo Ronaldo, de novo com bom trabalho na ala direita de Kléberson, de novo com assistência de Kléberson depois de corta luz de gênio de Rivaldo. O Brasil era penta e Kléberson se juntava a pequena centena de jogadores que já tiveram a maior honra, ser campeão do mundo com a camisa canarinho. Claro, a Seleção de 2002 é eternizada pela dupla de laterais, Cafu e Roberto Carlos e pelos 3R na frente, Rivaldo, Ronaldinho e Ronaldo. Mas acho que o sucesso do time também se explica na dupla de volantes, Gilberto Silva e Kléberson, jogadores polivalentes, inteligentes, com boa técnica, que permitiam ao time de ter um equilíbrio, condição quase indispensável para se tornar campeão do mundo.
E não só eu que gostei, Sir Alex Ferguson também gostou e contratou Kléberson, que chegava na Europa, num dos maiores times do mundo, Manchester United. Kléberson foi o primeiro jogador brasileiro a vestir a camisa dos Red Devils. Relembro que fui na Inglaterra em 2003 e estava louco para comprar coisas de jogadores brasileiros. Na época, acho que só tinha dois, a dupla pentacampeã, Gilberto Silva no Arsenal, Kléberson no Manchester. E comprei uma camisa de papel, que podia ser pendurada com uma pequena ventosa, dos dois jogadores. Não ligava para os maiores da Inglaterra, os franceses Thierry Henry, Patrick Vieira, Robert Pirès, os ingleses Alan Shearer, Paul Scholes, Steven Gerrard, os holandeses Ruud van Nistelrooy, Jimmy Hasselbaink, Dennis Berkgamp, ligava para os brasileiros, minha dupla campeã do mundo, Gilberto Silva e Kléberson.
Kléberson foi apresentado no Manchester United ao mesmo tempo que Cristiano Ronaldo. Bem, obviamente não chegou ao nível de Ronaldo, mas na primeira temporada, ganhou supercopa da Inglaterra e a FA Cup. Fez 2 gols, contra Blackburn e Everton, e fez seu melhor jogo ainda em 2003, com duas assistências na goleada 4×0 contra Aston Villa, para van Nistelrooy e uma sensacional de calcanhar para Diego Forlan. Era um time cheio de craques, ainda tinha Roy Keane, Ryan Giggs e Nicky Butt, era muito difícil ter espaço no time. Na segundo temporada, depois de conquistar mais um título com a Seleção, a Copa América de 2004 onde foi titular, Kléberson jogou ainda menos no United, não fez gol, mas deixou uma assistência para Ryan Giggs na histórica goleada 6×2 contra o Fenerbahçe. No total, Kléberson fez 30 jogos no Manchester United, mas mesmo de forma discreta, acho que abriu um caminho para os jogadores brasileiros, mostrou que era também possível de jogar na Inglaterra quando todos iam em outros países europeus.
Em 2005, Kléberson foi na Turquia, no Besiktas, tempo de colocar duas Copas da Turquia no currículo. Mas na segunda Copa, já não jogava mais e põe fim ao contrato de forma unilateral. Assinou com o Flamengo em setembro de 2007, mas só foi liberado pela FIFA para estrear no início de 2008, no comando de Joel Santana. Agora sim, finalmente, Kléberson conhecia a maior honra, vestir o Manto Sagrado. A estreia aconteceu no 30 de janeiro de 2008, vitória 1×0 contra Macaé, quando substituiu Jônatas. O primeiro gol chegou num jogo para esquecer, uma derrota 1×4 no Fla-Flu. Jogou 20 minutos no segundo jogo da final do campeonato carioca contra Botafogo, conquistando mais um título, já eternizado no Francêsguista. Três dias depois, Kléberson era titular no vexame contra o América de México, que selou a eliminação do Flamengo. Esse Flamengo de 2008 era bastante irregular.
Kléberson fez um bom campeonato brasileiro de 2008, acho que ele foi um excelente complemento de Ibson, ajudando o craque a ter ainda mais criatividade. No campeonato, Kléberson fez gols contra Ipatinga e Náutico, ambos de fora da área, o primeiro do pé esquerdo, o segundo do pé direito. Kléberson era uma ameaça de longe, com um chute poderoso. Voltou a marcar num Fla-Flu, permitindo ao Flamengo de conseguir o empate a dois minutos do final do jogo. Voltou a ser decisivo no final do campeonato, no clássico contra Botafogo, entrou no final do jogo e dois minutos depois, fez o único gol da partida, de pênalti. Uma semana depois, fechou a goleada contra Palmeiras no 5×2, jogo eternizado pela atuação memorável de Ibson. Infelizmente, Flamengo terminou o campeonato no quinto lugar e deixou escapar a Copa Libertadores. Mas com Kléberson e outros, tinha um time para sonhar alto.
Em 2009, Kléberson fez seu primeiro gol da temporada na Copa do Brasil, numa goleada 5×0 contra Ivanhema. Gostava de fazer gol nas goleadas, também foi o caso no 4×0 contra Boavista no campeonato carioca. E na final do campeonato, pela terceira vez consecutiva contra Botafogo, pelo tricampeonato, fez seu jogo mais importante e impactante com o Manto Sagrado. Uma cabeçada para abrir o placar, um gol de falta para completar o doblete ainda no primeiro tempo. Botafogo empatou, no jogo e no geral. Com a camisa 15 que o viu ser pentacampeão do mundo com a Seleção brasileira, Kléberson abriu a disputa de penalidades sem tremer, fazendo o gol, inflamando o Maracanã. No final, Flamengo tricampeão e um jogo eterno para Kléberson. Apenas com esse jogo, Kléberson está na galeria dos nomes ilustres do Flamengo.
E as festividades continuavam no jogo seguinte para Kléberson, abrindo o placar contra Fortaleza na Copa do Brasil. No primeiro turno do Brasileirão, fez belas assistências, para gols de Juan contra Vitória, de Adriano de novo contra Botafogo. As boas atuações permitiram ao Kléberson de voltar na Seleção brasileira, quase cinco anos depois do último jogo com o Brasil. Infelizmente, foi com a Seleção que Kléberson se machucou no ombro e ficou indisponibilizado durante meses. Na época, o médico que o operou falou isso: “Tudo correu bem e o ligamento dele foi reparado. Agora cabe ao Kléberson fazer o processo de recuperação para que em janeiro ele esteja pronto para a pré-temporada do Flamengo”. Mas, com muito esforços e dedicação, Kléberson trabalhou, sofreu e voltou antes do prazo. A recompensa chegou no 6 de dezembro de 2009, entrando nos instantes finais no jogo contra Grêmio, eternizado na história do Flamengo e no Francêsguista. E assim, Kléberson, depois de ser penta com a Seleção, se tornava hexa com o Maior do Mundo.
Kléberson não participou muito do segundo turno do Brasileirão de 2009 e assim é um pouco esquecido na conquista do Hexa, mas só com as atuações do primeiro turno, também ajudou o time a finalmente ser campeão brasileiro, depois de 17 longos anos de espera. Em 2010, Kléberson começou bem a temporada, com 3 gols nos 7 primeiros jogos: o primeiro gol do Flamengo na temporada, na abertura do campeonato carioca contra Duque de Caxias, o gol do empate no histórico 5×3 no Fla-Flu, jogo também eternizado no blog. Depois do 5×2 contra Palmeiras de 2008, Kléberson realmente gostava de deixar o golzinho dele nas goleadas históricas do Mengão. Ainda fez gol contra Boavista, mas Flamengo foi eliminado antes da hora no campeonato carioca, também na Libertadores. O time era menos forte, mas isso não impediu Kléberson de ser convocado para uma segunda Copa do mundo, onde jogou apenas 8 minutos, nas oitavas de final contra o Chile, seu 32o e último jogo pelo Brasil. Ainda teve boa fase no Flamengo, contra Vitória, saiu do banco para fazer os dois gols do Mengo no empate 2×2. Fez uma linda assistência no 3×3 no Fla-Flu, fez um belo gol no 2×2 contra Grêmio. Kléberson ainda era decisivo, mas Flamengo não ganhava mais. E depois, Kléberson nem foi decisivo mais, passando em branco nos últimos 8 jogos que jogou, também passando jogos inteiros no banco. E Flamengo terminou o campeonato no 14o lugar, sem sonhar e sem fazer sonhar.
Em 2011, Kléberson não estava nos planos de Vanderlei Luxemburgo e foi emprestado ao Athletico Paranaense, onde pouco se destacou. Passou seis meses sem jogar e voltou ao Flamengo em 2012, no comando de Joel Santana, seu primeiro técnico no Flamengo, lá em 2008. E no jogo de reestreia, no Fla-Flu, Kléberson, agora com camisa 30, fez o segundo gol do Flamengo para uma vitória 2×0. E o Papai Joel homenageou: “É um jogador que me agrada, porque é um jogador que se ajusta no grupo, que se esforça, que transpira. Para jogar no Flamengo, a coisa número 1 é transpirar”. No jogo seguinte, Kléberson fez o único gol da partida, contra Friburguense. Foi decisivo na semifinal da Taça Rio contra Vasco, com assistência para Vágner Love e depois o próprio golaço dele, com um chute de longe na gaveta, talvez o gol mais bonito de Kléberson com o Manto Sagrado. Também o último. Infelizmente, Flamengo perdeu 3×2 contra Vasco e acabou eliminado. Kléberson ainda fez a assistência, de novo para Vágner Love, no 1×1 contra Sport na estreia do Brasileirão. Ainda fez um gol, num amistoso contra a Seleção do Piauí, com assistência de Renato Abreu, outro ídolo que brilhou muito na década de 2000, não tanto na década de 2010.
Kléberson jogou seu último jogo com o Flamengo contra a Ponte Preta e foi vendido no Bahia, onde fez seu primeiro gol contra… Flamengo. Ainda passou nos Estados Unidos, onde pendurou as chuteiras em 2016 no Strikers de Fort Lauderdale, time do Ronaldo Fenômeno. No Flamengo, foram 136 jogos e 23 gols, um bicampeonato carioca 2008 – 2009, o Brasileirão de 2009, tão especial para os torcedores rubro-negros que conheceram essa época. Se Kléberson é ídolo ou não do Flamengo, acho que depende das pessoas e da definição que eles têm de um ídolo. Para ser ídolo do Flamengo, exige muitas coisas e confesso que não tenho opinião definitiva e certa sobre Kléberson. Certeza é que ele honrou o Manto Sagrado.
-
Jogos eternos #161: Coritiba 0x2 Flamengo 1980

Flamengo ganhou apenas uma vez em 50 anos no Brasileirão no campo do Athletico Paranaense, em 2019, um jogo já eternizado aqui. Eu vou então de um jogo contra o rival, Coritiba, também um ano de Flamengo campeão, em 1980.
No Brasileirão de 1980, Flamengo passou da primeira fase, inclusive com vitória 1×0 contra o Internacional, passou da segunda fase, inclusive com goleada histórica 6×2 contra Palmeiras. Passou da terceira fase e se classificou para a semifinal, contra Coritiba. No 21 de maio de 1980, para a semifinal de ida no Couto Pereira, Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Raul, Toninho Baiano, Marinho, Rondinelli, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Júlio César Uri Geller, Nunes. Talvez apenas a ausência de Leandro impede o time de ser o maior já escalado num jogo do Flamengo. Em comparação ao time de 1981, acho Júlio César Uri Geller mais craque que Lico e Rondinelli mais emblemático que Mozer. Enfim, era um timaço.
Apesar da pressão dos 58.311 torcedores no Couto Pereira, Flamengo começou melhor. Aos 26 do primeiro tempo, Zico, como camisa 10 que era, achou Júnior, que deixou um adversário no chão e devolveu para Zico na grande área. O Galinho, como camisa 9 que não vestia mas que também era, antecipou a saída do goleiro e abriu o placar.
Aos 14 minutos do segundo tempo, quem faz o passe agora é Adílio. O finalizador, o artilheiro, fica o mesmo, Zico. Com um chute de fora da área, um chute preciso, poderoso, perfeito, Zico completava o doblete, finalizava a vitória do Flamengo em Curitiba. Com vantagem de 2 gols e jogo de volta no Maraca, Flamengo estava quase na final, estava pronto a ser campeão brasileiro pela primeira vez de sua história.
-
Jogos eternos #160: Flamengo 2×0 Grêmio 2011

Sem dúvida, Flamengo x Grêmio é um clássico do futebol brasileiro. Só aqui já foi show na Copa do Brasil, de Sávio em 1995, de Romário em 1999. Já foi goleada na Libertadores de 2019, já foi decisão do Brasileirão, em 1982 e em 2009. É um clássico do futebol brasileiro.
Em 2011, Flamengo iniciou bem a temporada, com título carioca de forma invicta. Tinha no time um craque, um dos maiores da história do futebol, Ronaldinho Gaúcho. Antes de assisar com o Flamengo, o Bruxo quase voltou no seu primeiro time, justamente Grêmio, mas finalmente veio para o Flamengo, para o compreensível desespero, até lógica raiva, da torcida gremista, que viu o jogador brilhar no time ainda no século XX. O reencontro, mesmo no Engenhão, anunciava-se explosivo.
No Brasileirão, Flamengo ainda era invicto, só tinha perdido na Copa do Brasil durante a temporada. E vinha do melhor jogo de Ronaldinho com o Manto Sagrado, um 5×4 contra Santos, também eternizado no blog. Três dias depois, no 30 de julho de 2011, Vanderlei Luxemburgo escalou Flamengo assim: Felipe; Léo Moura, Welinton, Ronaldo Angelim, Júnior César; Willians, Aírton, Renato Abreu; Thiago Neves, Ronaldinho, Deivid.
Durante toda a carreira, Ronaldinho sempre soube escolher seus jogos para brilhar, às vezes para o desespero da própria torcida, que legitimamente esperava mais. O Bruxo fez magia com o Grêmio contra o Inter, com o Paris Saint-Germain contra o Olympique de Marselha, com o Barcelona contra o Real Madrid, com o Milan contra a Juventus. Ao menos tem para cada confronto, um jogo, às vezes dois, três ou quatro, mas sempre tem uma atuação brilhante, mágica, eterna de Ronaldinho Gaúcho contra o grande rival. Sem dúvida, ele tinha anotado a data do reencontro contra Grêmio e depois de brilhar contra o Santos de Neymar, só queria mais uma coisa, ser o grande nome do jogo contra Grêmio.
Grêmio começou melhor no jogo, mas nem Fábio Rochemback, nem Damián Escudero, nem Leandro, conseguiram finalizar no gol defendido pelo Felipe. E assim, Flamengo teve a oportunidade de abrir o placar. Aírton achou na esquerda Ronaldinho, sua posição privilegiada em campo. Uma finta, uma ginga na frente de Mário Fernandes e um cruzamento, milimétrico, perfeito, colocadíssimo na cabeça de Thiago Neves, que abriu o placar.
No segundo tempo, mais uma ginga de Ronaldinho na frente de Mário Fernandes, uma caneta e quase um pênalti, finalmente ignorado pelo juiz. Depois, foi outro jogador que tentou gingar, provavelmente o menos esperado, o goleiro gremista Victor, que tentou a finta, o drible na frente do mestre do drible, Ronaldinho Gaúcho. O Bruxo ganhou a bola e chutou no gol vazio para o segundo e último gol do dia. No seu reencontro com o Grêmio, Ronaldinho era, mais uma vez, o grande nome do jogo.
-
Jogos eternos #159: Flamengo 6×1 Vasco 2024

É a primeira vez que eternizo tão rapidamente um jogo aqui. Mas o Flamengo x Vasco do 2 de junho de 2024 é eterno desde o 2 de junho de 2024, quando apagou parcialmente a vitória 6×2 em 1943 para se tornar a maior goleada do Flamengo em cima do Vasco.
Um ano antes, assisti no Maracanã ao Clássico dos Milhões, também no início do Brasileirão. Flamengo fez um primeiro tempo quase perfeito e voltou aos vestiários com um 4×0. E a torcida do Vasco já voltou em casa. Mas Flamengo levou o pé no segundo tempo e finalmente venceu “apenas” 4×1. Foi para mim uma goleada frustrante. Quando o adversário é Vasco, não tem piedade, o objetivo deve ser sempre fazer o maior número de gols possíveis, já que a vitória, nos últimos anos, é quase uma certeza até antes do apito inicial.
No 2 de junho de 2024, Tite escalou Flamengo assim: Rossi; Varela, David Luiz, Fabrício Bruno, Viña; Allan, De La Cruz, Gerson; Arrascaeta, Everton Cebolinha, Pedro. Um timaço e uma oportunidade em caso de vitória maior que a do Bahia de voltar ao seu devido lugar, no topo da tabela. Mas o jogo começou mal, Vegetti fez um golaço para Vasco e Flamengo estava atrás no placar. A torcida do Vasco comemorou, sem saber ainda o pesadelo por vir.
A torcida do Flamengo ficou meio preocupada, Flamengo passou a dominar o jogo, ainda sem fazer o gol do empate. Até o 28o minuto, Maicon saiu mal, De La Cruz cabeceou, Arrascaeta fez apenas o toque leve, suficiente para deixar a bola viva, ainda no ar. De primeira, Everton Cebolinha voleiou, golaçou, empatou. Cinco minutos depois, mais um golaço. Agora, Everton Cebolinha no começo da jogada, com um cruzamento leve, que deixou o goleiro fora do lance. De primeira, Pedro peitou, golaçou, virou.
Ainda no primeiro tempo, Gerson quase fez o terceiro, mas Léo Jardim, olha que o Vasco tem um bom goleiro, defendeu com a cabeça. Escanteio de Cebolinha, voleio de David Luiz, estranhamente sozinho na grande área perdida do Vasco. O carecaludo fez o segundo gol dele com o Manto Sagrado, o primeiro no Maracanã. Importantíssimo em 2022, David Luiz fez um grande jogo contra Vasco e ainda pode ajudar Flamengo a conquistar títulos. No intervalo, 3×1 para Flamengo, mas como o adversário era Vasco, eu queria mais, ainda mais com a expulsão de João Victor, que deixava Flamengo com um homem a mais.
No início do segundo tempo, bola de Gerson para Pedro, que com um toque só, deixou a bola em cima da zaga vascaína. Arrascaeta dominou e com a ajuda do corpo, venceu o duelo com Léo. Ainda faltava a finalização, e com o espírito do craque, Arrascaeta esperou a saída de Léo Jardim para o toque leve em cima dele, para o quarto gol flamenguista do dia. Nessa altura, já não tinha mais todos os 62.228 presentes no Maracanã no início do jogo. O torcedor vascaíno foi buscar a cerveja no intervalo, sentiu o quarto gol nos corredores, e mais uma vez, voltou mais cedo para a casa. O placar de 4×1 de 2023 estava igualado, mas, como se tratava do Clássico dos Milhões, eu queria mais.
E o quinto chegou, bola de Gerson para Arrascaeta, para um domínio sensacional, que deixou Galdames perdido no meio de campo. Arrascaeta girou, acelerou, fixou a defesa, abriu na esquerda. Posição ideal para Bruno Henrique, que à la Tardelli de 2009, achou a rede oposta para fazer mais um golaço no jogo. Gerson, Arrascaeta, Bruno Henrique, goleada, Maracanã em festa, tinha um ar de 2019 no gramado.
E para completar mais, Gabigol entrou em campo. Diferente de 2019, sob vaias da torcida flamenguista. Também diferente de 2019, a camisa nas costas do Gabigol, não mais a camisa 9 eterna, e também diferente do início de 2024, não mais a camisa 10, que podemos esquecer quando se trata do Gabigol. Achei a polêmica da camisa do Corinthians exagerada, considerando que Gabigol estava em casa. Mas também não pode saber o que foi de propósito e o que não foi, entendo a reação de uma parte da Nação, ainda mais com os jogos decepcionantes de Gabigol desde mais de um ano. Também entendo a decisão da diretoria do Flamengo de tirar a camisa 10 de Zico, que é mais que uma honra, é uma responsabilidade. E confesso que gosto da camisa 99 de Gabigol, o duplo 9, cai bem para um artilheiro nato e redimido como Gabigol. Acho que ele pode fazer história com a camisa 99.
E Tite fez entrar em campo ao mesmo Wesley e Luiz Araújo. E entre os minutos 43 e 44 do segundo tempo, um momento eternizado tantas vezes no Clássico dos Milhões, Valido em 1944, Rondinelli em 1978, Petkovic em 2001, jogada começou mais uma vez nos pés de Arrascaeta. Para Luiz Araújo, de calcanhar para Wesley, o cruzamento para Gabigol. Maicon tocou levemente na bola, o que pode transformar o gol certo em gol perdido. Mas Gabigol é predestinado, tocou, brocou, fechou o caixão vascaíno, fechou a goleada, a maior para Flamengo na história do Clássico dos Milhões. Gabigol beijou o escudo do Flamengo, se declarou ao clube e a torcida, falou que queria ficar aqui muito tempo. Um final perfeito para um Flamengo x Vasco eterno.
-
Jogos eternos #158: Flamengo 1×0 Bayer Leverkusen 1988

O Bayer Leverkusen foi indiscutivelmente um dos grandes destaques da temporada europeia este ano. Ainda sem jogo do Mengo hoje, vamos então para um duelo entre Flamengo e o Bayer Leverkusen, na chamada Copa Kirin. A competição nasceu em 1978 e é chamada assim porque é patrocinada pela Kirin, empresa de cerveja japonesa. Desde 1992, apenas seleções nacionais podem participar, mas antes os clubes podiam jogar e vários clubes brasileiros já foram campeões, Palmeiras em 1978, Internacional em 1984, Santos em 1985, Fluminense em 1987.
Flamengo participou pela primeira, e única, vez em 1988, e estreou contra a seleção japonesa, que ao contrário, sempre é um dos 3 ou 4 participantes do torneio. Flamengo voltava ao estádio onde fez tanta história em 1981, o Estadio nacional de Tóquio, onde botou os ingleses na roda, conquistando o Mundial com um 3×0 contra Liverpool. Para a Copa Kirin, Flamengo jogava ao mesmo tempo o campeonato carioca e escalou no Japão os reservas além de Cantarele, Leandro, Edinho e Zico, provavelmente por contrato. E Flamengo estreou bem, vencendo 3×1 o Japão, com participação de Zico em todos os gols. Depois, empatou contra o Bayer Leverkusen e a seleção da China, classificando-se para a final.
O Bayer Leverkusen foi chamado de “Neverkusen” por nunca ganhar títulos. Um mês antes do jogo contra Flamengo, conquistou seu primeiro título, nacional ou internacional, com a Copa UEFA, a antiga Europa League. No time, tinha um ídolo do Flamengo, Tita, que acabou não jogando a final da Copa Kirin. O Bayer tinha a vantagem do empate, mas Flamengo tinha a vantagem do Zico. No 7 de junho de 1988, o técnico João Carlos escalou Flamengo assim: Cantarele; Valmir, Leandro, Gonçalves, Paulo César; Delacir, Gerson Zico; Marcio, Gilmar Popoca, Paloma. Zico participou de apenas 25 dos 79 jogos do Flamengo em 1988 e ainda sofria com o joelho. Foi de novo o caso contra o Bayer, quando ficou minutos no chão depois de driblar dois jogadores e levar pancada.
Com hora de jogo, ainda no 0x0, Gilmar Popoca driblou na esquerda e voltou no centro com passe para Gerson, que deixou para Zico. Com o olhar e a habilidade do craque e gênio, Zico deixou de um toque só, da parte exterior do pé, para Gilmar Popoca em condição ideal de fazer o gol. Gilmar chutou, o goleiro alemão desviou na trave, a bola ainda viva, Marcio cruzou, a defesa saiu mal, a bola ainda viva, e Zico, num reflexo, pulou, cabeceou, fez o gol. “Uma jogada de Zico: o descortino com que a concebia e a reflexão com que a executava! Por isso, pode-se dizer que seu futebol era, simultaneamente, um futebol de reflexos e de reflexão” escreveu uma vez Fernando Calazans. Esse gol contra o Bayer ilustra maravilhosamente o pensamento de Calazans.
Zico fez o único gol do jogo, fez o gol do título e levantou a taça num estádio que já tinha o eternizado 7 anos antes. Depois, continuou sua história no Japão, ajudando a desenvolver o futebol no país, o que faz até hoje. E até hoje, Zico é nosso maior ídolo, com a lembrança de gols e títulos, muitos conhecidos ou um pouco menos.
-
Jogos eternos #157: Flamengo 2×0 Vasco 1989

Antes do clássico de hoje no Brasileirão, uma volta no tempo, com o Brasileirão de 1989. Na primeira fase, Flamengo fez uma campanha apenas razoável, se classificando para a fase seguinte no sexto lugar, com apenas um ponto a mais que o primeiro eliminado. E os pontos ganhos na primeira fase ainda valiam para a classificação da segunda fase, então quando Flamengo estreou neste fase com uma derrota contra a Portuguesa, estava quase já eliminado. Para Flamengo, o Clássico dos Milhões valia quase nada. Mas essa frase não existe, mesmo sem valendo para um título, o Clássico dos Milhões sempre vale, a vitória sempre é obrigatória.
Ainda mais com o contexto da época. Era o primeiro jogo de Bebeto contra Flamengo desde sua saída, quero dizer traição. Foram muitos jogadores a vestir a camisa dos dois clubes, mas o caso Bebeto é particular, pelo forma que saiu, pelo status que tinha no Flamengo, pela idolatria que tinha com a torcida. Provavelmente a maior traição de um jogador do Flamengo, Bebeto fez a pior coisa que podia fazer. Antes do reencontro, ainda prometeu um “Gol Gilbertinho” em “homenagem” ao presidente rubro-negro Gilberto Cardoso Filho, responsável segundo ele de sua saída, por não ter lhe dado a “devida atenção” na renovação do contrato. A vitória do Flamengo contra Vasco era mais que obrigatória, era essencial.
A torcida sabia disso e quase lotou o Maracanã, com 59.076 presentes. No 5 de novembro de 1989, o saudoso Valdir Espinosa escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Josimar, Fernando, Júnior, Leonardo; Aílton, Zinho, Zico; Alcindo, Luís Carlos, Bujica. Flamengo não tinha mais o jovem ídolo, mas ainda tinha os ídolos antigos, ainda presentes, de volta depois de brilhar na Itália, Zico, 36 anos, no meio de campo, Júnior, 35 anos, em todos os lugares do campo. Escreveram Roberto Assaf e Clóvis Martins no livro Flamengo x Vasco, o Clássico dos Milhões: “Escalado como zagueiro, o craque atuou como autêntico líbero, destruindo, armando, lançando, tabelando, comandando praticamente todas as ações do time”.
No Maracanã, Aílton fez o primeiro chute do jogo, em seguida Bebeto cobrou uma falta sob as vaias da torcida flamenguista. Era o Maracanã raiz, geral cheia, rede véu de noiva, craques em campo, ritmo intenso, tempos que não voltam mais. E com 30 minutos, um duelo entre o novo craque, não esquecido mas apagado, Bebeto, e o velho craque de sempre e para sempre, Zico. Na dividida, Bebeto tocou na bola, mas a jogada se transformou em passe para Alcindo, que abriu na esquerda para Luís Carlos e partiu para o pique. Luís Carlos achou de volta Alcindo, que ficou na dúvida entre o chute e o cruzamento. O chute saiu mal, mas o goleiro Acácio também foi mal, deixou a bola viva, nos pés de Bujica, que matou a bola nas redes véu de noiva. Alegria da geral, alegria dos craques, Zico e Júnior, braços no ar, no céu rubro-negro.
Em seguida, Tita, outro ídolo flamenguista que foi jogar no Vasco, mas sem o peso da traição de Bebeto, deu ótimo chapéu em cima de Fernando, mas não conseguiu empatar. Num outro contra-ataque infernal, Flamengo quase fez o segundo, Acácio fez a defesa parcial, e o gesto acrobático de Alcindo passou em cima do travessão. E já era a vez do Vasco de atacar, Bebeto conseguiu dominar de peito a bola na grande área, quase teve tempo para chutar, mas Aílton chegou de forma milagrosa e impediu a pior coisa que podia acontecer, um gol de Bebeto contra Flamengo.
No início do segundo tempo, mais uma bela jogada, todos foram bem, belo cruzamento de Zé do Carmo, belo cabeceio de Bismarck, mas no final, ainda mais bela defesa do saudoso Zé Carlos, que mandou a bola para escanteio, voando no gol. E quem voava em campo era Júnior, antecipando perfeitamente um passe de Quinóñez para interceptar a bola nos pés de Tita. Na dividida, Júnior chegou antes de outro ídolo rubro-negro que foi jogar no Vasco, Andrade. De novo, sem o peso da traição de Bebeto. Para Bebeto, não foi só jogar no rival, foi a forma que ele saiu do Flamengo. Mas enfim, Flamengo ainda estava bem de ídolos, Júnior tocou para Zico, como já fazia 15 anos atrás. Sem a velocidade de antes, Zico apenas tocou a bola uma vez, de canela, região de corpo reservada a dois tipos de jogadores: o perna de pau completo ou o craque absoluto. E como craque absoluto, Zico fez o passe para Alcindo. O ritmo era infernal, o contra-ataque era mortal. Zico não tinha a velocidade de antes, mas tinha a inteligência de sempre, ainda tinha a raça reservada ao perna de pau dedicado ou ao ídolo absoluto, que conquista as massas não só com o talento nos pés, mas também com a alma e o coração. Zico correu, pediu a bola na frente, Alcindo completou a tabelinha. O olho de Zico era mortal, o talento era imortal. O goleiro Acácio fez dois passos na frente, Zico deixou a bola na segunda trave para Bijuca, que só tinha a puxar a bola no fundo do gol. Flamengo 2×0 Vasco, Bujica 2×0 Bebeto. O Bujica fez apenas 11 gols com o Manto Sagrado, mas neste 5 de novembro de 1989, ninguém tinha dúvida na geral, Bujica era melhor que Bebeto.
Logo depois, a geral ficou ainda mais cheia de alegria, Bebeto fez a melhor coisa que podia fazer, foi expulso depois de se desentender com o goleiro Zé Carlos, também expulso e substituído no gol pelo homônimo, Zé Carlos Paulista. A festa era completa, o ritmo ficou intenso, mas nada de gol marcado. A festa já era completa, Bijuca carrasco do Vasco, Bebeto expulso, Zico extinguindo os gritos de “bichado” da torcida vascaína, Júnior reinando em campo. O Vasco foi o campeão no final sim, mas o Rei do Rio, o dono do Maraca, era Flamengo, sempre Flamengo.
-
Jogos eternos #156: Flamengo 4×2 América de Cali 1984

Flamengo precisa de uma vitória no Maracanã contra o Millonarios para se classificar nas oitavas de final da Copa Libertadores. Quarenta anos atrás, Flamengo também precisava de derrotar um time colombiano em casa para ir, na época de forma antecipada, na próxima fase da Liberta.
Flamengo começou muito bem a Copa Libertadores de 1984 com um jogo já eternizado aqui, uma vitória 4×1 contra Santos na estreia, depois um empate contra o mesmo América de Cali na Colomba, e duas outras vitórias, contra Júnior Barranquila e de novo contra Santos. Flamengo precisava apenas de uma vitória para ir na semifinal, na época dois grupos de três times onde só o primeiro chegava na final.
No 3 de maio de 1984, o técnico Cláudio Garcia escalou Flamengo assim: Abelha; Leandro, Figueiredo, Guto, Júnior; Bigu, Adílio, Elder; Tita, Edmar, Bebeto. Antes do apito inicial, teve um minuto de silêncio em homenagem ao ministro da justiça colombiano, Rodrigo Lara Bonilla, assassinado três dias antes pelos homens de Pablo Escobar, o que marca o início da guerra entre o narcoterrorismo e o estado colombiano.
Mesmo órfã de Zico, que jogava na Itália, Flamengo era um timaço, candidato ao título. E começou melhor o jogo, começou com um golaço, um dos gols coletivos mais bonitos não só da história do Flamengo, mas da história do futebol de maneira geral. Na direita, Elder para Júnior, em um toque para Edmar, em um toque para Bebeto, em um toque de novo para Júnior. O Capacete abriu para Adílio, que chutou cruzado para abrir o placar. Um golaço coletivo, uma triangulação com os jogadores tocando de primeira, a finalização de Adílio, também com um toque só. Uma jogada perfeita, rápida demais para as câmeras de televisão, para o comentarista e claro, para a defesa colombiana.
Oito minutos depois, Leandro, bem posicionado como sempre, ganhou a bola e lançou Adílio no espaço vazio. Adílio cruzou de primeira, Bebeto voleiou de primeira, bola embaixo do travessão, bola no gol, mais um golaço do Flamengo. Antes do intervalo, na parte do campo do Flamengo, Bebeto conservou a bola de costas, abriu para Adílio, que achou Elder com um pouco de espaço. Elder escapou do carrinho de um defensor com classe, abriu na esquerda para Edmar que, com uma pedalada sensacional, eliminou um zagueiro, cruzou na grande área para Elder que completou a tabela, completou a goleada com mais um golaço. Parecia rápido demais para o América de Cali, parecia fácil demais para Flamengo.
Flamengo levou o pé e no meio do segundo tempo, o peruano César Cueto fez o gol para o América com um belo chute de fora da área. E Flamengo reagiu, com Bebeto, que mesmo com o carrinho violento do defensor, não desistiu da jogada, recuperou, levantou-se, teve tempo de cruzar. E Tita, com a camisa 10 de Zico nas costas, com a visão de jogo do craque que ele era, nem tocou a bola, mas fez a jogada decisiva. Apenas a finta foi suficiente para enganar dois adversários, para dar espaço ao Edmar, que chutou de primeira, fez o quarto gol flamenguista do dia, fez a alegria da geral. No final, aproveitando da falha do goleiro Abelha, Cueto fez mais um gol, apenas para definir o placar: 4×2 para Flamengo, que se classificava assim na próxima fase da Copa Libertadores.
-
Jogos eternos #155: Flamengo 4×1 America 1996

Ainda sem jogo esse fim de semana, eu vou homenagear um dos maiores ídolos do Flamengo e que está perto de voltar aos gramados, Romário. Aos 58 anos, Romário é presidente-jogador do America, na segunda divisão do campeonato carioca. Comecei a acompanhar o futebol em 1998, mas infelizmente não vi jogar Romário com o Manto Sagrado. Comecei a acompanhar o futebol brasileiro em 2005 e tive a chance de ver Romário jogar no Brasil, mesmo que seja com o Vasco. Como todos ou quase, eu era um grande fã do Romário, da habilidade, do poder de finalização, do carisma dentro e fora do campo. Romário era craque, era baixinho, era gênio.
Com 204 gols em 240 jogos, tinha muitas possibilidades de um jogo eterno para homenagear Romário, e quase escrevi sobre o jogo contra Olaria em 1996 quando fez 5 gols. Mas como ele é agora o dono do clube do America, eu vou de um jogo contra esse time, também em 1996. Para o 10o jogo do campeonato carioca deste ano, Flamengo ainda estava invicto. Por causa, Flamengo passou o campeonato inteiro sem ser derrotado. Nos 9 jogos, 8 vitórias e apenas um empate, no Fla-Flu. Ainda mais impressionantes, os números de Romário, 8 jogos e 12 gols!
No 28 de abril de 1996, no Aniceto Moscoso, Joel Santana escalou Flamengo assim: Roger; Alcir, Jorge Luís, Ronaldão, Gilberto; Márcio Costa, Mancuso, Nélio, Marques; Sávio, Romário. E o Baixinho começou a ser gênio já no primeiro tempo. Na direita, Alcir fez o passe atrás, Romário de primeira, combinando força e precisão, achou a gaveta do goleiro para fazer o golaço. Apesar do gol do Romário, quem dominava o jogo era surpreendentemente o America, porém sem conseguir o gol do empate. No meio de segundo tempo, Iranildo, que entrou no lugar de Marques, deu ótimo passe para deixar Romário em condições ideais. Romário precisa muito menos disso para fazer um gol, fez o domínio perfeito e venceu o goleiro sem maiores dificuldades.
O America não desistiu e conseguiu fazer um gol com bela cobrança de falta de Rogério. Mas Romário, além de gênio, era matador. Depois de outro ótimo lançamento de Iranildo, Sávio chegou na esquerda e deixou para Romário, que só teve a empurrar a bola nas redes para completar o hat-trick. E o hat-trick virou poker depois de outro ótimo lançamento, agora de Nélio. Romário fez um domínio pé esquerdo que frisa com a perfeição e chegou no cara a cara com o goleiro. O pobre goleiro parecia vencido antes de ser efetivamente vencido. Romário driblou o goleiro sem maior cerimonia e chutou vitoriasamente mais uma vez no gol, pela quarta vez do dia. No final, Flamengo 4×1 America, com 4 gols de Romário, que ainda tem tempo de trazer alegrias ao America e de recordar boas lembranças com o Flamengo.
-
Times históricos #27: Flamengo 2007

Eu já escrevi nas crônicas dos jogos eternos contra Real Potosi e Cruzeiro que realmente comecei a conhecer mais o Flamengo em 2007. Já tinha vivido o título da Copa do Brasil de 2006 contra Vasco, já sabia que era um rival, já conhecia alguns jogadores, mas acompanhava de longe por causa da distância, de quilômetros e do idioma – ainda não falava português, nem sabia qual site usar para ver os jogos, ou apenas os melhores momentos, para ter notícias mais completas que as de um site francês sobre o futebol brasileiro, sambafoot.
Em 2007, passei a usar o site brasileiro Placar para ter mais notícias, mais imagens. Usava um tradutor online para entender o que não entendia e pouco a pouco, comecei a melhorar meu português. O que entendia muito bem é o que era Flamengo, um clube diferente, no Brasil, no mundo. Antes de falar português, já respirava rubro-negro. E comecei a assistir, ainda não os jogos completos, mas os melhores momentos de cada jogo. Pouco a pouco, conhecia mais o elenco, quem era craque, quem era menos craque, quem era ídolo, ídolo da geral ou meu ídolo particular. O time de hoje claramente é diferente, mais forte, mas já tinha vários ídolos em 2007, ainda mais para um torcedor francês de 15 anos, ainda em formação quando se fala do conhecimento história do Flamengo.
De tantos ídolos, vale a pena anunciar a escalação completa do primeiro jogo de 2007, contra Cabofriense no campeonato carioca: Bruno; Léo Moura, Moises, Irineu, Juan; Paulinho, Claiton, Juninho Paulista, Renato Abreu, Renato Augusto; Obina. Flamengo ganhou 2×0, com gols de Renato Abreu e Obina, que já eternizei na categoria dos ídolos no blog. Renato Abreu fez um gol de pênalti com força, à la Roberto Carlos, canhoto como Roberto Carlos, já me encantava a potência do chute de Renato Abreu. Obina fez o segundo gol de primeira, um gol que lembra um pouco o gol contra Vasco na final da Copa de 2006. Obina era meu ídolo particular, meu maior ídolo. Tinha raça, tinha carisma, tinha amor da torcida. Porque, Obina não era só meu ídolo particular, era o ídolo de toda a torcida, toda a Nação.
Além de todos esses jogadores, Flamengo tinha a torcida, tinha o Maracanã. Claro, já sabia muito sobre o Maracanã, o Maracanaço de 1950, as festas das torcidas, não só de Flamengo, também de Fluminense, Vasco, até do Botafogo. O Maracanã era o templo do futebol, o coração do Rio, a alma do futebol brasileiro. E, pela primeira vez, podia ver o Maracanã vivo, ao vivo. Era mais vazio do que alguns jogos eternos das décadas precedentes, mas ainda o Maracanã pré-2014, o da reforma para os jogos pan-americanos de 2007, com cadeiras brancas, azuis, amarelas e verdes, aquele estádio sempre será “meu” Maracanã, mesmo sem nunca ter ido. Porque eu era Flamengo de longe na distância quilométrica, mas de muito perto no coração, na alma.
No segundo jogo de 2007, Flamengo venceu Americano com vitória 2×1, gols de Juan e Renato Augusto. Adorava a dupla de laterais Juan – Léo Moura. Laterais ofensivos eram para mim uma característica do futebol brasileiro, cresci torcendo para a seleção brasileira de 1998 com Roberto Carlos e Cafu, conhecia as histórias da Seleção de 1982 com Júnior e Leonardo, ainda sem saber tudo que fizeram com o Manto Sagrado, adorava a Seleção de 1958 com os dois Santos, Nílton e Djalma. E agora no Flamengo tinha Juan e Léo Moura, sempre apoiando no ataque, fazendo a assistência, o gol, a alegria da torcida.
Outro característica do futebol brasileiro que começava a adorar era o surgimento precoce do craque. Relembro que quando Ronaldinho Gaúcho surgiu no Paris Saint-Germain, meu clube na França, nem sabia em qual clube ele jogava antes no Brasil. Depois, conheci Robinho por um lance, as pedaladas na final do Brasileirão de 2002 contra Corinthians, imagens que chegaram até na Europa. Robinho jogava no Santos, no clube de Pelé, era o novo Pelé. Mas só isso. Agora tinha a possibilidade de conhecer o craque brasileiro antes dos amigos franceses e para mim, Renato Augusto, de apenas 18 anos, era a nova esperança, a nova cara do futebol brasileiro, de meu Flamengo.
Eu era tão Flamengo que tinha desenhado o escudo do Flamengo no meu estojo na escola, tinha botado o nome de Ney Franco, ainda não sabendo que ser técnico de Flamengo é um trabalho muito fugaz. Tinha comprado uma camisa do Flamengo no Ebay, único jeito para mim de conseguir o Manto Sagrado. Relembro que quando chegou estava dividido entre a alegria de ter o Manto Sagrado e a frustração de ver que era uma fake, na pressa de comprar, não tinha visto que era fake. No final, a alegria de ter o Manto prevaleceu. Também me registrei num fórum de discussões sobre o futebol em francês no 7 de março de 2007, dia da final da Taça Guanabara, provavelmente para achar um link para assistir ao jogo na Internet, único jeito para mim de conseguir ver meu Flamengo. Meu apelido no fórum era bem simples: flamengo_10. Eu era Flamengo, simples. Não relembro se consegui assistir ao jogo – os lances ao menos são familiares, mas Flamengo goleou Madureira, com doblete de Souza Caveirão, que eu também gostava muito, gols dos 2 Renatos, Augusto e Abreu. E Flamengo de novo campeão, mexendo com meu coração, cada vez mais rubro-negro.
Eu também sempre tive consciência da importância da Copa Libertadores. Falei na crônica sobre Real Potosí que teve uma matéria da revista francesa So Foot sobre o jogo, e valia ouro para mim. Não podia assistir aos jogos ao vivo por causa do horário nada agradável para os europeus, mas assistia no dia seguinte aos melhores momentos do jogo. Flamengo foi quase perfeito na fase de grupos, cedendo (obtendo?) o empate na altitude da Bolívia no primeiro jogo. Depois, 5 vitórias, com apenas 4 jogadores que fizeram gols: 3 gols de Renato Abreu e Souza, um gol para Obina e Renato Augusto, todos meus ídolos. Flamengo fechou a fase de grupos na segundo colocação geral e era o favorito absoluto nas oitavas de final contra Defensor.
Lembro muito bem onde estava quando soube do placar no jogo de ida contra Defensor. No dia seguinte, acordei pensando com meu Flamengo, mas eram outros tempos, sem smartfone, sem possibilidade de ir na Internet na manhã. A solução era esperar a aula de informática na tarde e ver o placar na Internet, já no Globo que começava a usar. A aula começou e esqueci do jogo. De nada, relembrei que Flamengo tinha jogado, que finalmente podia ver o placar. Fui no site de Globo, meio ansioso, muito animado, e descobri que Flamengo tinha perdido 3×0. Pela primeira vez, descobria que o mundo inteiro podia cair por causa do Flamengo. Era uma mistura de choque, de raiva, de tristeza, de oração atrasada para mudar o placar inalterável. Nas etapas da morte, só faltava a aceitação.
Mas Flamengo ainda estava vivo e durante toda a semana antes do jogo de volta, a torcida passou mensagens que acreditava na virada, que ia apoiar como sempre o time, até apoiar mais. Entre os dois jogos da Liberta, o jogo de volta da final do campeonato carioca, contra Botafogo. E foi emoção no Maraca. Tudo se fez em apenas 15 minutos, Souza abriu o placar, Botafogo empatou, virou, até o gol de Renato Augusto. E que golaço do camisa 10, um chutaço, na gaveta. A camisa 10 é especial no futebol, no Flamengo ainda mais, e estava bem representada com Renato Augusto. Eu vivia a emoção do jogo, dos gols, mais ainda mais da arquibancada, o Maracanã vibrava diferente na época. 2×2 na ida, 2×2 na volta, título na disputa de penalidades. Flamengo era muito emoção. Bruno defendeu as duas primeiras tentativas do Botafogo, eu adorava Bruno, realmente um goleiro diferente, que podia brilhar muito mais ainda, pena que jogou tudo para fora. Léo Moura, outro que jogou a idolatria para fora, por motivos bem menos graves, fez o gol do título, o gol da alegria. Pela primeira vez, eu vivia ao vivo um título do campeonato carioca. Adorava o campeonato carioca, ser campeão do Rio me dava a ilusão de ser campeão do mundo.
Com o título carioca, passei a acreditar ainda mais na virada na Libertadores, como toda a Nação, que prometeu mais um show no Maracanã, e deu. E Flamengo quase fez o milagre, Renato Abreu fez dois golaços de longe, fez o que provavelmente é seu gol de falta mais marcante com o Manto Sagrado, e teve muitos. Flamengo quase virou, parou no 2×0 insuficiente, e eu tinha outra mistura de sentimentos, a tristeza sim, mas também o orgulho do time e a fascinação pela torcida, quero dizer a Nação. Flamengo é diferente de todos por vários motivos, mas primeiramente vem a torcida. Também acho que a arrancada que ainda tinha a vir foi possível também por causa desse jogo contra Defensor, onde todo mundo acreditou que, quando se tratava do Flamengo, tudo é possível, até o impossível.
Flamengo começou o Brasileirão de 2007 no Maracanã contra Palmeiras e o primeiro gol rubro-negro no campeonato foi marcado pelo Claiton, um jogador esquecido hoje, mas que eu adorava, pela faixa que usava, pelo estilo, pela raça, pelo carisma. Não jogou tanto no Flamengo, em nível e em partidas, apenas 21 com o Manto Sagrado, mas marcou uma época, minha época de descobrimento do que era o Flamengo. E no estilo dele, Claiton era Flamengo. Mas Flamengo perdeu o jogo, vitima de um doblete de Edmundo. Também adorava o futebol brasileiro para isso, além de poder ver o craque-promessa antes da ida na Europa, podia ver o craque consagrado e veterano, de volta ao futebol brasileiro, como Romário no Vasco, ou no Palmeiras, Edmundo, que descobri como tantos outros jogadores brasileiros na Copa de 1998 e que também adorava pela raça e pelo carisma.
Em seguida, Flamengo derrotou Goiás mas depois passou 8 jogos sem vencer. Eu tinha que aprender também isso com Flamengo, o clube tinha uma facilidade absurda para entrar em crise, se complicar com jogos fáceis, frustrar sua torcida. Flamengo ficou até a última colocação, respirou um pouco com um sucesso contra o América de Natal, insuficiente para manter o técnico Ney Franco no cargo, substituído por uma lenda do clube, o Papai Joel Santana. Mas Flamengo ainda perdia, contra Santos e o Athletico Paranaense. Na penúltima rodada do primeiro turno, Flamengo ficava na penúltima colocação. Depois de anos lutando contra o rebaixamento, Flamengo conhecia mais uma temporada ruim.
Pior que o time era bom. Já falei das mãos do goleiro Bruno, tinha nos lados os braços Juan e Léo Moura, que podiam cobrir todo o campo. Também falei do pulmão do time, o Pitbull Claiton. No ataque, meu ídolo Obina jogava menos, mas tinha o Souza Caveirão, mortal de cabeça. Faltava ainda duas coisas importantíssimas num time, num corpo, um coração e um cérebro. E Flamengo conseguiu os dois quase ao mesmo tempo e mudou completamente sua temporada.
Fábio Luciano chegou do Fenerbahçe onde fazia sucesso, com também fez sucesso no Corinthians. Incrível com um grande zagueiro pode mudar um time inteiro. Fábio Luciano tinha qualidades técnicas e defensivas, e mais, tinha liderança e carisma. Foi um dos maiores capitães da história do Flamengo, parecia que a braçadeira de capitão já estava na camisa quando ele a vestia. Abro aqui um parêntese para falar sobre o Manto Sagrado de 2007. Gostava muito das camisas de Nike e acho que a 2008, outro ano histórico no blog, foi a mais bonita da história do Flamengo. Mas também gosto muito da camisa de 2007, que ajuda a eternizar esse ano. A camisa era bonita, ainda mais quando Fábio Luciano a vestia. Era chamado de xerife, mas me parecia mais um prefeito, de tanto ele mandava na grande área com classe, jogando de terno. Fábio Luciano foi o coração do Flamengo de 2007, ainda devo o eternizar na categoria dos ídolos. Ao lado dele, Ronaldo Angelim melhorou muito e a dupla da zaga se juntou a dupla de laterais Juan – Léo Moura com uma das minhas mais preferidas no Flamengo.
Além do coração, Flamengo ganhou o cérebro, um jogador que já eternizei no blog, Ibson. Como Fábio Luciano, chegou da Europa, de Porto. Como Joel Santana, começou no Fla em 2007 com duas derrotas, contra Santos e o Athletico. Conhecia Ibson de nome, sem ter visto o jogar muitas vezes. Jornais diziam que ia melhorar tecnicamente o meio de campo do Flamengo. Ainda mais, era um jogador vindo da base no Flamengo. Não acompanhei a primeira passagem dele no Flamengo, mas com tudo isso, eu era bem em favor da chegada dele no Mengo. Ainda mais, não era apenas um jogador de criação, era o chamado pianista e carregador de piano, fazia de tudo no meio de campo, só não fazia chover, e talvez até isso ele fazia. Impossível separar a arrancada de 2007 da presença omnipotente de Ibson no meio de campo, fazendo tudo, ganhando bolas divididas, dando passes e assistências, fazendo gols e golaços. Ibson foi a cara do Flamengo de 2007.
Outro personagem impossível de esquecer quando se fala da arrancada de 2007 é o próprio Maracanã. A cada jogo, o clima do Maraca parecia melhor, mais foda. Flamengo começou a ganhar, e não parou de ganhar, o Maracanã cantava, e não parava de cantar. Hoje tem muitos cantos lindos na arquibancada, mesmo com apenas a metade da Norte cantando. Mas nesta época, tinha uma emoção maior, que talvez é possível de atingir só na simplicidade de um “Meeeeeengo” cantado várias vezes, cada vez mais alto. A cada jogo do Flamengo ou quase, o Maracanã batia a marca do maior público do ano. Primeiramente, no jogo contra São Paulo, um jogo que já eternizei no Francêsguista, um jogo com atuação magistral de Ibson, um jogo que viu o nascimento do canto “Eu sempre te amarei, onde estiver estarei, oh meu Mengo”, um canto capaz de arrepiar qualquer um, flamenguista ou simples amante do futebol, do esporte, saudosista de Senna. Três dias depois, no Fla-Flu, o Maracanã – quero dizer a torcida do Flamengo, bateu de novo o recorde de público do ano. E de novo contra o Corinthians, contra Santos, contra o Athletico Paranaense, outros jogos que preciso eternizar aqui.
Em 2007, me distanciei muito do futebol europeu. Só assistia aos jogos do Milan, onde meu primeiro ídolo, Ronaldo Fenômeno, tinha chegado. No ataque milanista, também acabava de chegar o jovem Alexandre Pato, que já conhecia no Internacional, privilegio de quem assistia ao futebol brasileiro. Minha paixão era vermelha e preta, mas não era rossonero, eu era rubro-negro de paixão, flamenguista no coração e na cabeça, no sangue e na alma. A cada jogo, me apaixonava mais pelos ídolos, Bruno, Léo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Juan, Claiton, Ibson, Renato Augusto, Souza e todos que vestiam o Manto Sagrado. A cada jogo, me apaixonava mais pelo Maracanã, pela torcida, pelo Flamengo. O ápice foi a penúltima rodada, Maracanã cheio, último recorde de público, 82.044 pagantes, 87.895 presentes. Dos 10 maiores públicos do ano, apenas um jogo, São Paulo x América-RN, não foi do Flamengo. E contra o Athletico, uma última vitória, com classificação garantida na Libertadores. Em apenas um turno, Flamengo passou do Z-4 ao G-4, do inferno ao paraíso, fazendo uma arrancada eterna e inesquecível. E eu, felizão a 10.000 quilômetros de lá, sabia que, mesmo lutando e dependendo da riqueza e às vezes da fraqueza da Internet para conseguir assistir ou não ao jogo, às vezes só os melhores momentos, sabia que ia continuar em 2008 a vibrar com o maior amor de minha vida, Flamengo.






